As revoluções do mercado de trabalho
Do carreirismo à versatilidade na profissão, reportagens da década de 1990 retratam as adaptações por que passaram os trabalhadores brasileiros

O mercado de trabalho passa por constantes mudanças. A estabilidade, antes um desejo comum entre os trabalhadores brasileiros, deu lugar a um cenário de risco constante, em que desenvolver uma habilidade em uma área desconexa poderá ser o requisito para garantir algum ofício no futuro. Esse dinamismo na carreira é retratado em reportagem desta semana de VEJA, ilustrada por profissionais como o carioca Leo Ganem, de 47 anos, que se formou em biologia, fez pós-graduação em farmacologia, pesquisou células-tronco, foi contratado por uma multinacional para fazer consultoria, foi diretor financeiro de uma empresa de música, comandou uma agência de eventos e atualmente é diretor financeiro de uma agência de publicidade em São Paulo.
Em setembro de 1993, quando a economia do Brasil dava sinais de aquecimento, VEJA jogou luz sobre o tema. A reportagem de capa ressaltava que o diploma de uma faculdade de renome e a aposta na competência específica em uma determinada área não eram garantia de um bom emprego. As carreiras híbridas ganhavam espaço, a exemplo dos médicos engenheiros que se destacavam na bioengenharia.
Há vinte e quatro anos, o dinamismo aparecia nos novos rumos que tomavam algumas carreiras tradicionais. Os economistas, até então trilhando caminhos de sucesso na administração pública, passavam a voltar os olhos para as empresas de consultoria e exportação. O veterinário foi outro exemplo de profissional que sofreu uma significativa mudança na década de 1990, com os cursos de especialização na área. Profissionais que atuavam em cardiologia, nefrologia e dermatologia, como mostrou a reportagem, eram melhores remunerados nesse ramo.
A mutação no mercado de trabalho foi novamente assunto da matéria de capa de VEJA, em outubro de 1994. A revolução no modelo de produção, com a chegada dos robôs e a substituição das máquinas de escrever pelos computadores, desvalorizou características que antes destacavam o bom profissional, como pontualidade, assiduidade e tempo de serviço. Até então uma qualidade restrita aos eruditos, o conhecimento do inglês passou a ser item fundamental no currículo.
A reportagem também aborda a onda de demissões, um fantasma constante na vida do trabalhador. E o problema atingia não só os brasileiros, mas tirava o sono também dos profissionais nos países desenvolvidos, onde viviam 35 milhões de desempregados. O texto encerrava com um conselho aos jovens de 1994 que se certamente se aplica aos dias atuais: prepare-se para entrar em um mercado de trabalho que em nada se parece com o mundo do emprego encontrado por seus pais.