Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

ReVEJA

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Vale a pena ler de novo o que saiu nas páginas de VEJA em quase cinco décadas de história
Continua após publicidade

À sombra da tragédia

O poder público esqueceu as vítimas do incêndio da boate Kiss, cinco anos atrás

Por Da redação
Atualizado em 30 jul 2020, 20h36 - Publicado em 18 jan 2018, 23h59

‘Que os jovens mortos de Santa Maria tenham sido os derradeiros mártires feitos pela irresponsabilidade criminosa no Brasil. Que a memória deles não se desfaça até que a maldição da impunidade, da corrupção de valores e da licenciosidade deixe de vitimar inocentes no Brasil. Só então os mortos de Santa Maria deixarão de nos assombrar.’ Era esse o clamor de VEJA, expresso na Carta ao Leitor da edição especial que circulou em 2013 com 34 páginas sobre a tragédia da boate Kiss. Na capa, estampou-se: ‘Nunca mais’. Passados cinco anos, reportagem de VEJA que chega às bancas nesta sexta-feira constata: ‘A impunidade é a grande marca da tragédia de Santa Maria. O poder público esqueceu os mortos da Kiss’.

Entre muitas imagens dramáticas, a edição de 2013 trazia a protesto indignado de Carina Correa, que segurava um cartaz em que se lia: “Minha filha morreu por ganância de gente corrupta”. VEJA desta semana traz o depoimento de Carina, que hoje tem tatuado nas costas o nome da filha Thanise e versos de ‘Os Bons Morrem Jovens’, da banda Legião Urbana. “A justiça vai ser feita de algum jeito. Se não for pela Justiça, será feita pelas mãos de pais ou mães”, conta. “Uma mãe não passa nove meses com uma filha na barriga para perdê-la dessa forma, numa ratoeira, depois de criá-la por dezoito anos.”

A reportagem de 2013 trazia o relato de sobreviventes, familiares e voluntários que arriscaram a própria vida para socorrer as vítimas do incêndio; narrava detalhadamente o passo a passo da tragédia; mostrava os efeitos da intoxicação por fuligem, monóxido de carbono e cianeto; e investigava as razões da tragédia: “Em Santa Maria, a boate Kiss era o símbolo acabado da fragilidade em caso de fogo. Era impossível prever que um incêndio aconteceria, mas era perfeitamente possível antecipar que, em acontecendo, seria um horror.”

Clique nos links abaixo para ler na íntegra as reportagens da edição especial de 6 de fevereiro de 2013:

VEJA de 6 de fevereiro de 2013
VEJA de 6 de fevereiro de 2013 (Arquivo/VEJA)

Somos todos Santa Maria

Na manhã do domingo passado, acordamos todos em Santa Maria e não conseguimos mais sair de lá. Ficamos em estado de choque como seus moradores, sofremos com as mesmas cenas de jovens correndo na frente da boate Kiss, tentando ajudar, tentando entender, tentando saber quem se salvou, quem morreu. Como todos os moradores de Santa Maria, tivemos de imaginar o inconcebível: 235 jovens as­fixiados, queimados, empilhados como os mortos de Pompeia diante de portas sem saída da ratoeira. Não vimos, mas ficamos sabendo que, no ginásio local, pais e mães tiveram de entrar na “sala do desespero”, a parte isolada onde os cadáveres minuciosamente enfileirados eram identificados. De um lado, os homens. Muitos com os celulares colados no peito. Ah, os celulares que continuavam a tocar… Do lado das mulheres, os corpos semienvoltos nas roupinhas leves com que tantas meninas saíram para a balada, adequadas ao calorzão de 35 graus em Santa Maria, não aos pedaços de material incandescente que despencaram do forro da Kiss. As listas dos nomes os tornavam nossos amigos de faculdade, nossos colegas de trabalho, nossos irmãos, nossos filhos. (leia mais)

VEJA de 6 de fevereiro de 2013
VEJA de 6 de fevereiro de 2013 (Arquivo/VEJA)

Quando o Brasil vai aprender?

Continua após a publicidade

A estudante de agronomia Juliana Sperone Lentz, de 18 anos, foi condenada à morte em agosto do ano passado, quando expirou a licença de segurança contra incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, e os bombeiros não apareceram para fazer a vistoria. O destino trágico de Alisson Oliveira da Silva, de 22 anos, foi definido dois meses antes, quando a casa noturna passou por uma reforma que revestiu o teto com uma espuma acústica altamente inflamável. Gabriela Sanchotene, de 23 anos, que trabalhava na boate, foi vitimada pela prática de seus patrões de lotar o estabelecimento muito além de sua capacidade. A vida de Pedro de Oliveira Salla, de 17 anos, foi abreviada no último dia 25, quando o produtor da banda Gurizada Fandangueira resolveu comprar fogos de artifício mais baratos, porém contraindicados para ambientes fechados. Os quatro jovens acima e outras 231 pessoas morreram na madrugada de 27 de janeiro por uma sucessão de falhas e medidas irresponsáveis iniciada bem antes de o vocalista da banda acender um sinalizador durante os primeiros versos do funk Amor de Chocolate, ateando fogo ao forro da casa (veja o quadro ao lado). A causa para a interrupção de tantos futuros brilhantes pode ser resumida em uma palavra: descaso. E isso inclui a percepção de muitos parentes e amigos das vítimas de que tudo poderia ter sido diferente, não fosse a cultura da negligência e da corrupção tão disseminada em todo o Brasil. (leia mais)

VEJA de 6 de fevereiro de 2013
VEJA de 6 de fevereiro de 2013 (Arquivo/VEJA)

Os heróis de Santa Maria

Pouca coisa pode mitigar o sofrimento de quem, como os pais e amigos das vítimas de Santa Maria, vive a dor da perda em seu grau mais lancinante. Em meio a esse pouco ou quase nada capaz de consolar está um gesto que tantas vezes se manifesta nas grandes tragédias: o da solidariedade em sua forma mais extrema – aquela que leva alguém a relevar a própria existência em prol da do outro, faz emergir gigantes entre os comuns e à qual também se dá o nome de heroísmo. (leia mais)

VEJA de 6 de fevereiro de 2013
VEJA de 6 de fevereiro de 2013 (Arquivo/VEJA)

A asfixia não acabou

Assim que o incêndio na boate Kiss começou, os jovens posicionados próximo ao palco não foram tomados apenas pelo pânico de ver o teto em chamas. A fumaça preta, densa e quente liberada pela espuma do revestimento acústico era extremamente tóxica. Aqueles rapazes e moças foram imediatamente acometidos por uma sensação de estrangulamento – resultado do acúmulo de fuligem nas vias respiratórias. Rapidamente o ar se tornava mais escasso e, como em um jogo de dominó, as vítimas eram derrubadas umas sobre as outras. Em locais menores, como os banheiros, os óbitos foram também velozes. O monóxido de carbono e o cianeto, liberados no processo de combustão, foram fatais. O cianeto foi o gás utilizado nos campos de extermínio nazistas durante a II Guerra Mundial. A maioria dos jovens da Kiss morreu por asfixia – os demais, queimados ou esmagados. (leia mais)

Continua após a publicidade

VEJA de 6 de fevereiro

Vida e morte

nas redes sociais

As mensagens compartilhadas pelos jovens de Santa Maria no Facebook e no Twitter serviram de mural de homenagens, mas também de um meio instantâneo de mobilização da cidade no pedido de ajuda aos hospitais e de organização de velórios e enterros. (leia mais)

VEJA de 6 de fevereiro
VEJA de 6 de fevereiro (Arquivo/VEJA)

A tênue fronteira entre o normal e o trágico

A fotografia que ilustra estas páginas foi tirada às 3 horas, 14 minutos e 49 segundos da madrugada de 27 de janeiro. Nela, aparece um grupo de jovens na boate Kiss, em Santa Maria. Eles dançam e conversam, diante do palco onde se apresenta a banda Gurizada Fandangueira. No fundo, uma jovem sorri abertamente. Perto dela, um rapaz de barba fala com amigos. De costas, uma jovem mexe nos longos cabelos escuros, mostrando unhas pintadas num vermelho igual à cor do seu vestido. Em primeiro plano, uma garota de cabelos claros foi clicada de perfil, no momento em que piscava os olhos. Tudo nessa imagem é normal, descontraído, inocente. Nada ali denuncia que, segundos depois, às 3 horas e 15 minutos, o vocalista Marcelo dos Santos seguraria um sinalizador, apontando-o para o alto – e assim daria início à tragédia que chocou o Brasil e o mundo. É sutil a fronteira que separa a normalidade da catástrofe. Sutil, às vezes quase imperceptível, mas não invencível. (veja mais)

Continua após a publicidade
VEJA de 6 de fevereiro de 2013
VEJA de 6 de fevereiro de 2013 (Arquivo/VEJA)

A ciência das multidões

O pânico que tomou conta do público quando começou o incêndio na casa noturna Kiss provocou uma situação caótica. Mas a movimentação dos jovens, inclusive dos que se equivocaram ao entrar no banheiro buscando a saída, era possível de ser prevista por um ramo da ciência relativamente novo. Esse ramo se chama dinâmica das multidões e é usado em muitos países para construir espaços públicos mais seguros, nos quais seja reduzida a probabilidade de ocorrer uma tragédia como a de Santa Maria. Na base da dinâmica das multidões estão as pesquisas sobre o comportamento individual dos integrantes de uma aglomeração, seja ela a plateia de um show, os clientes de um shopping center ou pedestres numa avenida movimentada. (leia mais)

VEJA de 6 de fevereiro de 2013
VEJA de 6 de fevereiro de 2013 (Arquivo/VEJA)

Preparados para o pior?

Logo na segunda partida do Grêmio no estádio que foi inaugurado há dois meses em Porto Alegre, por pouco uma nova tragédia não se abate sobre os gaúchos. Na quarta-feira passada, os torcedores acomodados na geral da Arena do Grêmio correram em direção à grade que os separava do gramado para comemorar um gol do time da casa, numa manobra tradicional entre os gremistas conhecida como avalanche. A grade não resistiu à pressão das centenas de pessoas e cedeu. O saldo foi de oito feridos, mas poderiam ser muitos mais. O estádio do Grêmio foi erguido para ser um exemplo de segurança e modernidade, porém a própria direção do clube, até a quarta-feira, incentivava a prática da avalanche entre os torcedores – ou seja, deixava a porta aberta para o perigo. No dia seguinte, a diretoria do Grêmio interditou aquela área do estádio até que medidas de segurança sejam adotadas. O episódio embute os riscos que podem oferecer no Brasil os eventos que atraem multidões. Na época das festas de São João, o município de Caruaru, em Pernambuco, recebe 1 milhão de visitantes. A organização conta com uma boa estrutura de segurança, mas, nos shows mais disputados, que ocorrem no chamado Pátio do Forró, a aglomeração do público se dá à razão de cinco pessoas por metro quadrado. Caso haja uma briga, pode haver tumulto e pânico. “O padrão de segurança internacional é de duas pessoas por metro quadrado”, diz Ricardo Chilelli, engenheiro especializado em segurança. (veja mais)

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.