A marcha da marquetagem: a trajetória do MTST de Guilherme Boulos
Reportagem de 13 de agosto de 2014, intitulada 'Conhaque, mortadela e Boulos', traçou o perfil do chefão do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto


Em 2014, reportagem de VEJA traçou o perfil de Guilherme Boulos, desde os bancos escolares em São Paulo até a liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que se tornara “o grupo mais barulhento entre os movimentos sociais e o mais paparicado pelos governantes do PT”.
“Nos colégios Vera Cruz e Palmares, era chamado de Gui B. Os amigos se lembram dele como um corintiano fanático, chegado a discursos em favor do socialismo. A militância começou quando ele entrou no curso de filosofia na USP. Hoje colunista do jornal Folha de S.Paulo, o filósofo Boulos escreveu em 2012 um livro intitulado Por que Ocupamos – Uma Introdução à Luta dos Sem-Teto. Na obra, explica por que ‘ocupar é a única alternativa’.”
A atuação de Boulos, preso nesta terça-feira durante uma ação de reintegração de posse, foi decisiva para que o MTST saltasse de 5 000 famílias no fim dos anos 1990 para 50 000 e empreendesse cada vez mais ações de impacto. Quem participa, ganha sanduíche de mortadela, conhaque Dreher e pontos em programa de distribuição de casas do governo federal, segundo narrava a reportagem de 13 de agosto de 2014. E ainda:
“Nos últimos tempos, na tentativa de aumentar seu cacife e o número de adeptos, o MTST ampliou a pauta. Passou a protestar por transporte público gratuito, melhorias na saúde, na educação e até pela melhor qualidade na telefonia – no mês passado, integrantes do grupo invadiram as sedes da Anatel e das operadoras Oi, TIM e Vivo. Chamado por seus detratores de ‘ativista-celebridade’ (só nos últimos meses, foi a quatro programas de TV), Boulos nunca escondeu que o MTST não passa de um pretexto para sua verdadeira causa. ‘Não é um movimento de moradia, mas um projeto de acumulação de forças para mudança social’, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.”
Confira abaixo a linha do tempo do MTST, que ilustrou a reportagem de agosto de 2014:
1997 – A ORIGEM
Integrantes do MST decidem criar uma dissidência para exigir moradia nas grandes cidades. A primeira ação é uma invasão em Campinas, com 4 500 famílias. Cinco anos depois, Guilherme Boulos, então um estudante de filosofia da USP, com 20 anos, surge como uma das lideranças de um acampamento em Osasco
2006 – BLOQUEIO DE RODOVIAS
O movimento recorre pela primeira vez à tática de bloquear rodovias para chamar atenção. Para tentar anular um despejo, toma a Castello Branco, a Raposo Tavares e a Régis Bittencourt, ao mesmo tempo em que desencadeia novas invasões
2009 – A TÁTICA DOS ACORRENTADOS
Por oito dias, integrantes do grupo ficam acorrentados na frente do prédio onde Lula mora, em São Bernardo do Campo. Como resposta, o governo federal compromete-se a incluir as famílias no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida
2011 – QUEBRA-QUEBRA
O grupo destrói boa parte do hall do histórico Edifício Martinelli, sede da Secretaria Municipal de Habitação, em São Paulo. Dois anos depois, faz sua primeira grande invasão na capital paulista. O acampamento Nova Palestina reúne 30 000 pessoas
2014 – A COPA DO POVO
De olho no calendário da Copa do Mundo, o grupo realiza uma série de atos e ocupações. A maior delas é a Copa do Povo, em Itaquera, perto da Arena Corinthians, sede da abertura do Mundial.
Março
Os sem-teto interditam importantes vias de São Paulo durante nove horas. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, sobe no carro de som dos manifestantes durante ato em frente à prefeitura
Maio
O grupo orquestra a invasão do escritório das empreiteiras responsáveis pelas principais obras da Copa do Mundo, Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez. Três horas depois, integrantes do movimento são recebidos por Dilma Rousseff
Julho
O MST invade a sede da incorporadora Even. Além da habitação, decide encampar a pauta da melhoria da qualidade da telefonia – leva manifestantes para a superintendência da Anatel e para a sede das operadoras Oi, TIM e Vivo