WILSON SIMONAL É ASSASSINADO DE NOVO
Escrevi aqui sobre o filme Simonal – Ninguém Sabe O Duro que Dei, de Cláudio Manuel. Micael Langer er Calvito Leal, que retrata o desastre que colheu a vida de uma dos mais populares cantores do Brasil. Vocês devem se lembrar: ele, com efeito, fez uma bobagem ao mandar dar uma esfrega no seu contador. […]
Escrevi aqui sobre o filme Simonal – Ninguém Sabe O Duro que Dei, de Cláudio Manuel. Micael Langer er Calvito Leal, que retrata o desastre que colheu a vida de uma dos mais populares cantores do Brasil. Vocês devem se lembrar: ele, com efeito, fez uma bobagem ao mandar dar uma esfrega no seu contador. Um dos policiais que praticaram a delinqüência era do Dops, para onde fora levado o sujeito. Segui-se um rolo danado, com inquérito policial. Simonal tentou se safar dizendo-se “amigo dos homens”. Assinava a sua sentença de morte. Pois bem. O filme evidencia, sim, o absurdo da ação truculenta, mas deixa claro que não há uma só evidência, além do diz-que-diz-que, a demonstrar que o cantor era um informante do Dops.
Pois é… Simonal continua, e isso é realmente muito impressionante, a mobilizar ódios. A esquerda, escrevi hoje em outro texto, só aceita ser vítima, jamais algoz. Simonal foi moralmente assassinado sem que jamais se provasse que era, enfim, informante. Era assim até hoje…
Na capa da Folha deste domingo, há lá com grande destaque chamada para uma reportagem do caderno Mais! Título ao lado da foto de Simonal: “O Informante”. Titulo na capa do suplemento: “O Informante Simonal”. Ambos remetem a uma reportagem de Mário Magalhães, ex-ombudman do jornal, que deveria ser matéria de reflexão para ouvidores do leitor do mundo inteiro.
Magalhães pôs as mãos num documento até agora desconhecido — o processo 3.540/72 — em que testemunhos de pessoas ligadas aos Dops consideram Simonal um informante, sim. O próprio cantor teria dito num depoimento que ajudou a combater subversão no meio artístico.
O que mais me impressiona é que fica parecendo que tal documento contesta o filme — quando, na verdade, ele só o reforça. Por quê? Porque a obra deixa claro que o artista se jactava da proximidade com os órgãos se segurança, embora não houvesse evidências de sua atuação política.
Não há — a menos que Magalhães tenha escondido, mas acho que não — um só exemplo concreto caracterizando tal atuação. O desafio lançado por Chico Anysio no filme continua válido: “CITEM UMA SÓ PESSOA QUE TENHA SIDO DENUNCIANDA POR SIMONAL”. Não há! O sujeito volta a ser assassinado, em 2009, com a mesma sem-cerimônia com que foi no começo da década de 70.
Se o documento se resume ao que se publica, há nada mais do que depoimentos de meganhas afirmando a ligação, mas rigorosamente SEM NENHUMA PROVA, SEM NENHUM CASO CONCRETO, SEM NENHUM EXEMPLO. Nada! O que há, isto sim evidente, é uma espécie de revanche. A esquerda não aceita que também fez as suas vítimas. Aliás, não só vítimas morais como Simonal. Também tem uma penca de cadáveres nas costas, sobre os quais silencia.
A declaração de Simonal, destacada na primeira página da Folha, não inova. Que ele próprio se dissesse, à época, ligado “aos homens”, isso o próprio filme evidencia. Ora, o testemunho dos tais policiais têm tanto peso, no caso, quanto o boato, também espalhado por agentes da ditadura, de que José Genoino, por exemplo, entregou seus companheiros quando preso no Araguaia (o tema também está no noticiário de hoje) e só por isso não foi morto. É que não se dá bola a conversa de torturadores quando isso afeta a reputação de um esquerdista. Mas Simonal pode continuar a ser assassinado.
Escrevo de novo! O documento noticiado por Magalhães não sustenta a acusação de “informante”. Apenas detalha o que já se sabia: a acusação não saiu do nada. Ao contrário: como o filme deixa claro, havia um pretexto bastante verossímil.
Mas cadê a “colaboração” de Simonal? É, meus caros… Os mais jovens estão habituados a ver a máquina esquerdista empenhada, hoje em dia, em lavar reputações. É uma verdadeira lavanderia. Mas saibam que a sua especialidade é o oposto: sujar reputações. Nisso, continua realmente imbatível.
A edição do material destaca: “Processo a que a Folha teve acesso explicita colaboração entre cantor e Departamento da Ordem Política e Social. Em vida, artista desmentia vínculo com órgãos de segurança”. Bem, não explicita coisa nenhuma. Ou me mostrem onde. Não deixa de ser curioso aquele “em vida” — como se algo pudesse ser negado por um morto. Curioso, mas emblemático: até o cadáver de Simonal incomoda. Querem-no um desaparecido político.