Você sabia que existe um PMDB de extrema-esquerda no governo Dilma?
Caro leitor, eu sei que você vai considerar o texto abaixo, originalmente publicado no Valor Online e reproduzido na Folha Online, um tantinho chato, um tantinho aborrecido, um tantinho irrelevante. Mas eu digo: você tem de ler. De certo modo, ele é a prova dos noves de uma tese que este blog defende há cinco […]
Caro leitor,
eu sei que você vai considerar o texto abaixo, originalmente publicado no Valor Online e reproduzido na Folha Online, um tantinho chato, um tantinho aborrecido, um tantinho irrelevante. Mas eu digo: você tem de ler. De certo modo, ele é a prova dos noves de uma tese que este blog defende há cinco anos — e que este escrevinhador defende há mais de… 20! Leia. Volto em seguida:
*
Após embate no PT, ministra Iriny Lopes ameaça demitir dissidentes
A ministra da Secretaria Especial de Proteção à Mulher, Iriny Lopes, deu prosseguimento à cisão ocorrida em seu grupo petista, a Articulação de Esquerda, e informou a auxiliares de que deve demitir funcionários de sua pasta que integram o grupo que se rebelou contra o comando da corrente. Estão ameaçadas de exoneração três petistas com altos cargos na secretaria: a subsecretária de Planejamento e Gestão Interna, Renata Rossi; a diretora de Programa da Subsecretaria de Articulação Institucional e Ações Temáticas, Luciana Mandelli; e a subsecretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas, Angélica Fernandes.
As três integram a ala dissidente da Articulação. Elas deixaram a corrente após um imbróglio envolvendo suspeitas de filiação em massa, manobras regimentais e discussão sobre a prevalência de burocratas ou de movimentos sociais na organização partidária. De um lado, estão Iriny e Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT e antigo dirigente do grupo; do outro, o ex-ministro da Pesca José Fritsch, presidente do PT de Santa Catarina, e o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA).
Fritsch e Assunção chegaram ao congresso da corrente no último fim de semana certos de que tinham votos suficientes dos delegados para tirar Pomar do comando da Articulação. Antes da votação, porém, Pomar apontou que dos 134 delegados, havia 36 vindos da Bahia que estavam “regimentalmente irregulares”. Propôs, então, que fosse feita a votação sem esses baianos e que depois fosse decidido se eles poderiam ou não votar. O grupo adversário viu aí uma manobra, tendo em vista que, sem os 36, não conseguiria maioria para vencer nem na eleição para dirigir a corrente e nem na que decidiria sobre o credenciamento dos baianos.
“Eles foram eleitos por pessoas que foram filiadas à tendência de maneira irregular. Por conta deste crescimento súbito, fizemos uma auditoria e recomendamos que o credenciamento dos respectivos ‘delegados’ fosse deliberado pelo Congresso. Eles não aceitaram e saíram antes do Congresso começar”, disse Pomar. Segundo ele, havia indícios de irregularidades regimentais, como pagamento coletivo de contribuições, o que o regimento permite em pouquíssimos casos; e militantes que estavam filiados à tendência, mas não ao PT.
Além disso, aponta um “crescimento súbito” de filiados às vésperas do Congresso. “No Estado em questão, havia no dia 28 de junho 193 pessoas filiados. No dia 30 de julho, em apenas 48 horas, esse número cresceu para 794.” Os dissidentes, porém, negam as irregularidades. Afirmam que a Bahia é o Estado em que a Articulação é mais forte no país, com pelo menos um quinto da representação nacional, além de um deputado federal, um estadual e uma secretária estadual. E que essa discussão é apenas uma divergência de fundo para desviar do principal: o desconforto com a liderança de Pomar.
Apontado como “autocrático” e “centralista”, os dissidentes dizem que seu estilo vinha afastando outros militantes do grupo, além de novos filiados egressos dos movimentos sociais, tendo em vista seu posicionamento contrário à predominância dos movimentos sobre os quadros partidários na tendência. “Estamos afastados dos movimentos sociais do campo e da cidade. Precisamos de uma nova perspectiva nesse sentido, mas isso foi visto por parte da coordenação como uma ameaça. Escreve-se bons documentos, boas teses, mas o que isso amplia em espaço dentro do partido? Queremos influir nas decisões do partido e do governo”, afirmou o ex-ministro da Pesca José Fritsch.
“Nossa discordância é quanto ao método que ele [Pomar] implantou. Acreditamos no vínculo com os movimentos sociais e estávamos cada vez mais perdendo isso”, disse o deputado Valmir Assunção, ligado ao MST.
Pomar discorda
Achamos que o partido deva ser de massas e defendemos que as tendências devam ter uma composição distinta, mais restrita mesmo, uma vez que elas têm como objeto disputar os rumos do PT. Em consequência disto, achamos que o processo de adesão a uma tendência interna do PT deve ter critérios mais exigentes.” Com aproximadamente 10% de todo o PT, a Articulação é uma das mais tradicionais correntes internas. Os dissidentes calculam que representam cerca de 60% desses 10%, o que lhes dá, em nível nacional, 6% de representação. Há um encontro agendado para o dia 1º de setembro, onde os dissidentes iniciarão as conversas sobre que rumo tomarão. Parte avalia ser melhor formar uma nova tendência, enquanto outros apostam que é melhor formar uma frente de esquerda que agrupe outras tendências.
Voltei
Viram? Há uma corrente do PT, minoritária, que está em crise. Por quê? Ah, são lá aquelas coisas das esquerdas: um acusa o outro de não ser, sei lá, “puro” ou “popular” o bastante. O povo, o próprio, passa longe da disputa porque nem mesmo entende a linguagem que essa gente fala; tampouco compartilha de suas utopias. Bem, até aí morreu Neves — ou melhor, se formos fazer o resgate da história, morreram muitos milhões de pessoas: por baixo, 150 milhões… Os comunistas nunca pouparam esforços para fazer criar o “outro mundo possível”…
Pois bem… Como a turma da ministra Iriny (de cuja existência o Brasil se deu conta só quando ela ganhou o ministério) e Valter Pomar — um dos chefões do Foro de São Paulo — brigou com a turma de José Fritsch, quem paga o pato? Ora, a Secretaria Especial de Proteção à Mulher, que é um órgão do estado brasileiro, que tem de atender aos interesses dos cidadãos, não da corrente de esquerda à qual foi entregue. Assim como o Ministério da Agricultura é um feudo do PMDB, e o dos Transportes era um do PR, a Secretária das Mulheres “pertence” à Articulação de Esquerda.
E não pensem que a dita-cuja faz coisa muito diferente dos peerristas (?), não! É rigorosamente a mesma coisa. PMDB e PR loteiam a parte que lhes cabem no latifúndio do poder, a exemplo do que faz a Articulação de Esquerda; colocam seus cupinchas em cargos públicos, a exemplo do que faz a Articulação de Esquerda; aproveitam-se das benesses do cargo para reforçar seus representantes, que passam a gozar de benefícios decorrentes não de sua competência específica, mas de suas afinidades partidárias, a exemplo do que faz a Articulação de Esquerda.
Um desses comunistas moralmente tarados logo diria: “Ah, mas peemedebista enfia a mão em grana pública para enriquecer; os esquerdistas pensam na causa”. A causa, no caso, é a revolução social. Bem, em primeiro lugar, não está provado que não enriqueçam pessoalmente, né? Ninguém nunca se ocupou de saber como vive essa gente. A pasta não desperta o interesse de ninguém. Em segundo lugar, no que concerne aos cofres públicos, pouco importa se o dinheiro está sendo mal usado para enriquecer um larápio ou para fortalecer um grupelho. Dá na mesma. Essa diferença só é moralmente importante para esquerdistas… O povo é roubado do mesmo jeito.
Vejam lá: funcionários da secretaria podem perder cargos de confiança porque a “tendência” a que pertencem “rachou”. Não se pode dizer, pois, que estejam no governo para executar o programa de governo da presidente Dilma — qual programa? Estão lá para reforçar a posição da tendência no partido. Isso significa, meus queridos, que essa extrema minoria manipula, a um só tempo, a política de estado e os ditos movimentos sociais com os quais se relaciona.
Chegamos ao ponto — e alerto para isso, acreditem!, há uns 20 anos quase — em que os petistas recorrem à imprensa para expor divergências entre petistas, como se essas constituíssem a contradição possível no Brasil.





