A VEJA desta semana traz uma reportagem de Alexandre Salvador (
aqui para assinantes) sobre Kerlon, o jogador do Cruzeiro que criou o chamado “drible da foca”: num lance, ele levanta a bola com o pé e sai fazendo embaixadinhas com a cabeça. Na semana passada, num ataque de trogloditismo, Coelho, do Atlético, fez uma falta violenta no garoto de 19 anos, quando ele avançava para a área equilibrando a bola na cabeça como uma… foca. Outro jogador, ouvido, disse que o “arregaçaria”. A acusação: ele desrespeita os adversários. Kerlon ainda é jovem, e falta muito para ser definido como um jogador brilhante. Afastado por um bom tempo em razão de uma contusão, ainda tem muito o que mostrar para ser considerado um craque. De todo modo, há muito tempo o futebol não vê uma novidade. Uma das regras do jogo pune a atitude antidesportiva. É evidente que não é o caso. Quem não se lembra dos lances magistrais de Garrincha, que parava diante do defensor, passava o pé por cima da bola, movia apenas o corpo, sem que a dita-cuja saísse do lugar, levando o pobre adversário a esquecer a pelota para acompanhá-lo na dança? Se havia naquilo humilhação, era fruto do seu talento. O simples debate despertado pelo lance de Kerlon – “é ou não antidesportivo o que ele faz? – evidencia um momento do país em que a mediocridade se finge de elogio da igualdade. O tal Coelho, que avançou contra Kerlon, e o outro que diz que o arregaçaria não fazem o drible da foca não é por prurido moral, mas porque não sabem. Os cronistas esportivos também erraram feio, transformando a questão num “debate”. Ora, debater o quê? A única atitude decente é pedir a punição dos faltosos. Ou, daqui a pouco, vai-se começar a jogar futebol segundo aquela cartilha marxista distribuída pelo governo de Roberto Requião no Paraná (vejam post publicado às 21h11 de terça, dia 18). Segundo os gênios que a elaboraram, a disputa esportiva reproduz os mecanismo de exploração da sociedade capitalista, e a competição deve ser substituída pela cooperação. Só pode haver esporte onde há desigualdade, ora bolas – e sem bolas também. Ou todo jogo vai terminar empatado.