VEJA 5 – China: 2009, o ano do G-2
Por Lauro Jardim, de Pequim:Com um vigor que lembra o seu espantoso crescimento econômico das últimas três décadas, de quase 10% ao ano, a China está manobrando a seu favor o xadrez geopolítico internacional. Os movimentos do país que mais cresce no planeta contrastam com a perplexidade das grandes potências, semiparalisadas pela crise econômica mundial. […]
Com um vigor que lembra o seu espantoso crescimento econômico das últimas três décadas, de quase 10% ao ano, a China está manobrando a seu favor o xadrez geopolítico internacional. Os movimentos do país que mais cresce no planeta contrastam com a perplexidade das grandes potências, semiparalisadas pela crise econômica mundial. Até meados da década, a China destacava-se na paisagem global por ter sido capaz de tirar da miséria centenas de milhões de pessoas. Agora a nação tem pretensões muito maiores. Quando se espanarem as cinzas jogadas pela crise sobre o mapa econômico e político, a China surgirá com uma estatura e uma força relativa inéditas na nova ordem mundial. Niall Ferguson, historiador da Universidade Harvard, resume com clareza esse novo papel de Pequim: “Os Estados Unidos deveriam se apressar a fazer uma reunião do G-2 com a China antes que ela faça um G-1 sozinha”.
Nos últimos três meses, a China fez várias apostas. Todas elas altas. Numa ponta, mirou os EUA como alvo de ataques. Noutra, ousou comparar seu autointitulado “sistema superior” de governo com os praticados pelas democracias representativas do Ocidente. E bateu no peito para afirmar com todas as letras que seu sistema era mais eficiente para resolver a crise. Numa terceira ponta, abriu o cofre para comprar fabricantes estrangeiros de matérias-primas. Uma das aquisições mais espetaculares foi a de parte da mineradora anglo-australiana Rio Tinto pela estatal de alumínio chinesa por 19,5 bilhões de dólares. E, para completar, a China piscou o olho (e abriu a carteira) para países da Ásia, América Latina e África, num momento em que as nações desenvolvidas só veem os próprios problemas. O colosso chinês almeja, enfim, mais do que ser reconhecido somente como o chão de fábrica do planeta, somente como aquele país que produz 75% dos brinquedos e 36% do aço do planeta – e passou a deixar tal ambição patente. Ou, conforme a definição de Timothy Garton Ash, professor da Universidade Oxford, o dragão parou de agir como “mero lagarto”.