VEJA 1 – FHC TRAGOU A CAUSA ERRADA
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concede uma entrevista a Thaís Oyama nas Páginas Amarelas da VEJA desta semana em que defende a descriminação da maconha. Não preciso reiterar aqui a enorme admiração que tenho pelo intelectual e pelo presidente, manifestada em muitos textos. Mas, nesse caso, minha discordância não poderia ser mais radical. Considero que […]
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concede uma entrevista a Thaís Oyama nas Páginas Amarelas da VEJA desta semana em que defende a descriminação da maconha. Não preciso reiterar aqui a enorme admiração que tenho pelo intelectual e pelo presidente, manifestada em muitos textos. Mas, nesse caso, minha discordância não poderia ser mais radical. Considero que FHC está equivocado da primeira à última palavra. O leitor achará facilmente no arquivo os meus argumentos contrários à proposta. Vou me ater, neste comentário, a alguns aspectos outros da entrevista que me incomodaram. Leiam este trecho:
O que as pessoas mais próximas do senhor no PSDB pensam sobre o assunto?
Eu nunca conversei com ninguém do PSDB sobre isso e quase posso assegurar que a maioria do PSDB pensa como o homem comum – e o homem comum tem horror de pensar nesse assunto. Mas, como se trata de um drama social, ou se toma consciência de que temos de fazer algo diferente do que temos feito, sem covardia e sem leniência, ou seremos irresponsáveis. Alguém tem de ter coragem de dizer essas coisas. Agora, certamente, o pessoal pode ficar chateado… Mas eu não sou candidato, sou só presidente de honra do partido.
Comento
Como se nota, há dois tipos de homens: os que concordam com FHC nesse particular — e, entende-se, são pessoas dotadas de uma sapiência incomum — e há as que discordam, e estas são os homens comuns, certamente ainda não tomadas por aquela iluminação que as leva a concordar com ele: são os brutos que precisam ser civilizados. Trata-se de uma resposta ingênua na sua arrogância, própria de quem sobrepõe a autoridade do argumentador à autoridade do argumento. Isso quer dizer que ele está acuado pela falta de argumento. E só por isso infla a autoridade do argumentador. Renomados especialistas na área, no Brasil e no mundo — o que FHC não é —. opõem-se firmemente à sua tese.
Essa história de que o homem comum não alcança certas altitudes do pensamento e, em último caso, não sabe o que é bom para si mesmo pode custar caro. Entre outras coisas, abre espaço para vigaristas que se apresentam justamente como intérpretes eficientes do pensamento do “homem comum”.
Ademais, a luta de FHC parece nova, mas, de fato, é muito velha. Já está ultrapassada. A realidade relativamente nova no continente sul-americano é a chegada ao poder de líderes populistas que estão se articulando com o narcotráfico e seus elos, transformando essa aliança numa espécie de Teoria e Prática da Remissão do Oprimido. Evo Morales, presidente da Bolívia, preferiu abrir mão de incentivos dos EUA para a agricultura e incentivar, pasmem!, a ampliação da área plantada de coca. E atenção: trata-se de um tipo particular da planta que serve basicamente para a fabricação de pasta de cocaína. Rafael Corrêa, presidente do Equador, está documentado, recebeu dinheiro das Farc. A Venezuela forneceu armamento para os narcoterrostistas da Colômbia. Os intermediários, também está documentado, foram dois generais venezuelanos, íntimos de Hugo Chávez, acusados de vínculo com o narcotráfico.
FHC escolheu a causa errada. A sua insistência no assunto só servirá à caricatura.
Íntegra da entrevista aqui