“Uns tomam éter, outros cocaína. Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria”. Ou: Que médico receitará pílulas de vergonha ao PT?
O senador Humberto Costa (PT-PE) é médico. Para o bem da medicina e dos pacientes, decidiu ser político. Para má sorte da Saúde, já foi ministro da Pasta. Conduziu uma gestão notavelmente desastrada. Hoje, é líder do PT no Senado. Costa tentou justificar a bagunça protagonizada por Marta Suplicy no Senado (ver posts abaixo) afirmando […]
O senador Humberto Costa (PT-PE) é médico. Para o bem da medicina e dos pacientes, decidiu ser político. Para má sorte da Saúde, já foi ministro da Pasta. Conduziu uma gestão notavelmente desastrada. Hoje, é líder do PT no Senado.
Costa tentou justificar a bagunça protagonizada por Marta Suplicy no Senado (ver posts abaixo) afirmando que a oposição sofre de “síndrome bipolar” e “precisa tomar antidepressivo para se acalmar”. E mandou ver:
“Na fase maníaca, a oposição está pensando que é tão grande quanto foi no passado, e não é. Do lado depressivo, faz a bagunça que fez ontem e ainda quer culpar a base”.
Ele é psiquiatra, o que torna a sua fala particulrmente estúpida, além de eticamente condenável. A bipolaridade é coisa séria, atinge milhões de pessoas e, sem o tratamento adequado, faz muitas pessoas infelizes. Usar doença como metáfora, quando se é médico, vale menos do que o cocô do cavalo do bandido em filme B. Trata-se de um exemplo escandaloso de falta de ética profissional.
Costa ainda acusou um clima de “histeria coletiva” na oposição. Pelo menos daquela caracterizada por Freud, quem mais parecia próxima do quadro, na sessão, era Marta Suplicy. De resto, mesmo sendo ele o psiquiatra, não eu, informo que antidepressivos não são a melhor prescrição para acalmar as pessoas, se é isso o que ele pretendia sugerir.
Em matéria de tomar coisas, prefiro ouvir a voz de outro Pernambucano, o grande poeta Manuel Bandeira:
“Uns tomam éter, outros cocaína./ Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.”
Talvez a oposição devesse até tomar um antidepressivo, a questão é saber que médico há de prescrever algumas drágeas de vergonha ao PT.
Humberto Costa não vale um post, mas Bandeira vale todos. Reproduzo o poema “Não sei dançar”, do livro “Libertinagem”, de 1925, de onde tirei aqueles versos. Há, houve, um Brasil não-boçal. Cumpre recuperá-lo sempre que tivermos oportunidade.
Não sei dançar
Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria…
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.
Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.
Perdi a saúde também.
É por isso que eu sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.
Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda.
Mistura muito excelente de chás…
Esta foi açafata…
– Não, foi arrumadeira.
E está dançando com o ex-prefeito municipal:
Tão Brasil!
De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil…
Há até a fração incipiente amarela
Na figura de um japonês.
O japonês também dança maxixe:
Acugêlê banzai!
A filha do usineiro de Campos
Olha com repugnância
Pra crioula imoral.
No entanto o que faz a indecência da outra
É dengue nos olhos maravilhosos da moça.
E aquele cair de ombros…
Mas ela não sabe…
Tão Brasil!
Ninguém se lembra de política…
Nem dos oito mil quilômetros de costa…
O algodão de Seridó é o melhor do mundo?… Que me
importa?
Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.
A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
Eu tomo alegria!