Unasul 1 – Uribe só aceita Conselho de Defesa se países da região reconhecerem as Farc como “terroristas”
Por Claudio Dantas Sequeira, Fernanda Odilla e Gustavo Patu, na Folha. Volto depois:A falta de consenso sobre o papel que deverá ter o Conselho de Defesa da América do Sul impediu a assinatura de um acordo para a criação do órgão ontem, em Brasília. O impasse levou a presidente chilena, Michelle Bachelet, a sugerir que […]
A falta de consenso sobre o papel que deverá ter o Conselho de Defesa da América do Sul impediu a assinatura de um acordo para a criação do órgão ontem, em Brasília. O impasse levou a presidente chilena, Michelle Bachelet, a sugerir que seja formado um grupo de trabalho no âmbito da Unasul (União das Nações Sul-americanas), criada ontem e que terá o Chile ocupando pela primeira vez a presidência rotativa.
“Num prazo de 90 dias vamos revisar a proposta de Lula, recolher as preocupações dos outros países e apresentar uma proposta definitiva”, disse Bachelet. Mas os próximos três meses não deverão ser suficientes para garantir consenso.
O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, condicionou sua adesão ao órgão de segurança a que todos os países da região reconheçam as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) como grupo terrorista. “Num país que tem sofrido tanto como a Colômbia, o continente deve atrever-se a qualificar como terrorista a todo grupo violento que atenta contra a democracia”, disse. Uribe expôs ao presidente Lula o que chamou de “ponto de reflexão ao diálogo”.
O adiamento foi um revés para o ministro da Defesa, Nelson Jobim, principal entusiasta do projeto e que esperava a aprovação imediata do acordo.
Segundo a Folha apurou, não foi apenas a negativa da Colômbia de se unir aos demais países que inviabilizou temporariamente o projeto. Enquanto o governo brasileiro prefere dar um status de foro político ao órgão, Venezuela e Bolívia defendem que o conselho tenha um papel operacional e amplo, abrangendo áreas como segurança energética e combate ao narcotráfico.
Para tanto, o presidente Hugo Chávez sugeriu a Lula que o futuro órgão tenha capacidade de ação regional e orçamento próprio. “Não queremos que seja uma Otan do Sul”, disse à Folha o ministro da Defesa venezuelano, Gustavo Rangel.
Segundo ele, os países da região deveriam resolver seus problemas internamente, sem precisar recorrer a potências estrangeiras. “Por que teríamos que recorrer a um Plano Colômbia norte-americano, se pudéssemos fazer algo com nossos próprios meios?”.
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Comento
É o mínimo, não? Quem seqüestra, mata civis e mantém campo de concentração bem merece a qualificação de terrorista. É evidente que Uribe está certo. Aliás, chega a ser escandaloso que isso precise ser dito: dá uma dimensão do atraso político da região. Pensem em qualquer outro bloco político e/ou comercial em que um dos membros padecesse com as ações de um exército terrorista. Qual seria a resposta dos demais? No caso em tela, dois países são amigos e colaboradores da narcoguerrilha — Hugo Chávez e Rafael Correa —, e é um é admirador: Evo Morales. Os outros todos, a começar de Lula, são, quando menos, coniventes. É com essa turma que Uribe vai debater a segurança de seu país? Só se fosse maluco.
O ministro da Defesa da Venezuela, Gustavo Rangel, faz-se de tonto, mas não é. Ficasse a coisa para Hugo Chávez decidir, e o conselho teria um caráter militar — e “bolivariano”. Então Rangel quer saber por que se precisa de um Plano Colômbia, com a participação dos EUA? Ora, sem ele, o país presidido por Uribe já seria um narco-estado.
É evidente que esse negócio não vai dar certo — não passa de espuma. Como também a tal Unasul é uma bobagem. Se o Mercosul, que tinha agenda, vai muito mal das pernas, imaginem uma união de países que nem pauta têm, onde as decisões têm de ser tomadas por consenso. É mais uma revolução conceitual promovida por Lulovsky Apedeutakoba.