Uma arara é mais colorida do que um porco é mamífero?
Eu realmente acho formidável quando alguns indignados e os engajados contestam o que não está escrito. Se você escreve “existem araras de várias cores”, eles gritam: “Mentira sua! Quer dizer então que o porco não é mamífero?” E você: “Mas eu não neguei que o porco seja mamífero”. E eles: “Prove que você escreveu que […]
Ou é doidice ou é sem-vergonhice. Ao caso.
É evidente que existem boas faculdades que oferecem bolsas do ProUni. Eu neguei isso? Não neguei. Conversei certa feita com o chanceler de uma instituição religiosa, séria, e ele me disse que estudantes que entraram pelo ProUni, depois de um tempo, acabaram alcançando os outros. Sim, a arara é uma ave colorida. E o porco continua mamífero.
Ora, de um total de 96 cursos com desempenho sofrível no Enade, quase 70% oferecem bolsas do ProUni. Sim, é preciso ver quantas com o desempenho máximo também oferecem. Mais: dos mais de 400 mil bolsistas, quantos estão onde? E fazem qual curso? E qualquer que seja o resultado, nada anula o fato de que 70% daquelas entre as piores estão, na prática, recebendo dinheiro público pelo serviço porco que oferecem
Também não disse que a ruindade é apanágio de cursos particulares. Só me faltava essa… Serei agora acusado de amante do Estado? Há cursos em universidades federais que estão entre os piores. É uma coisa miserável a mais, que não nega a outra.
Ora, estou entre aqueles que acreditam que a cláusula de desempenho tem de ser definidora na concessão ou não do PRIVILÉGIO — porque é um privilégio — de oferecer vagas do ProUni. E é um privilégio porque as escolas particulares sabem que, com raríssimas exceções, não estão ampliando vagas para receber esses estudantes, mas pondo no programa as vagas ociosas.
Sim, acho o ProUni um erro estratégico — ao menos na forma como as coisas se dão. Melhor seria o investimento maciço no ensino técnico. Se o governo quer investir dinheiro público na formação universitária, acredito que se deveriam eleger algumas prioridades. Gostaria muito de saber quantos estudantes há cursando pedagogia, biblioteconomia, letras, assistência social etc. Nada contra esses carreiras e zero de preconceito. Mas é inegável que há cursos que demandam poucas exigências técnicas. A sua riqueza maior estaria mesmo no fator humano: professores altamente capazes. É o que temos? Acho que não.
É costumeiro se dizer por aí que o Brasil, no ensino fundamental, investiu na quantidade e que, agora, chegou a hora da qualidade. Já se começa a dizer o mesmo do ensino médio. Esse descasamento fez muito mal ao país. E ele saltou para o terceiro grau. Não sei por que só na educação esse “etapismo” daria certo. Não dá. E a razão é simples. Os males da expansão desordenada acabam criando as suas próprias exigências, que nada têm a ver com a qualidade.