Um deles, que se identifica como “doutor”, me acusa de querer “sensurar” a Internet
Vejam bem, minhas caras, meus caros: se um sujeito qualquer me envia um comentário sem exibir suas qualificações intelectuais ou profissionais, é evidente que não tenho como a elas me referir, já que não sou adivinho, não é? Nesse caso, ainda que o comentarista cometa um erro ou outro e coisa e tal, eu não posso […]
Vejam bem, minhas caras, meus caros: se um sujeito qualquer me envia um comentário sem exibir suas qualificações intelectuais ou profissionais, é evidente que não tenho como a elas me referir, já que não sou adivinho, não é? Nesse caso, ainda que o comentarista cometa um erro ou outro e coisa e tal, eu não posso contrastar esse erro com a sua alegada sapiência.
Mas ocorre, muitas vezes, de alguém se apresentar como faz um certo Sandro Márcio da S. Casser. Ele envia um comentário — na esperança de que seja publicado, suponho — e encerra sua mensagem exibindo as suas credenciais: “Doutor em Ciencias da Computação.” As suas “ciências” não têm aquele delicado circunflexo no “e”, o tal chapuezinho, como diria Tia Jessyka, que, na verdade, era o Tio Waldecyr (ver post sobre a homofobia).
Ele se refere a uma reportagem publicada na VEJA desta semana que evidencia que os petralhas recorrem a robôs e perfis falsos para fraudar as redes sociais, especialmente o Twitter. Está revoltado com a revelação da verdade e decidiu atacar. Escreve-me, então:
Você faz parde de um tipo de imprensa partidária que nós, meros mortais, detestamos. Em um pais sério seu patrão estaria sendo processado, assim como na inglaterra. Esta tentativa de sensurar a internet não vai levar a nada… Ela é livre e continuará sendo, assim como a imprensa. Fakes existem dos dois lados, ou você não sabia?
Para você um pequeno recado:
SÓ SE ATIRA PEDRA EM ÁRVORE COM FRUTOS”
Sandro Márcio da S. Casser.
Doutor em Ciencias da Computação.
Não vou comentar a sintaxe troncha, não vou comentar o clichê, não vou nem mesmo comentar a palavra de ordem, que ele copiou de páginas organizadas por gangues na Internet. Nada disso! Meu ponto é outro.
Eu poderia, fosse um otimista incurável, pensar: “Imaginem! Esse cara está mentindo! Um doutor em qualquer coisa jamais escreveria ‘sensurar’”. Mas eu sou um homem realista, sabem? Os dias estão pra isso mesmo. Eu acredito que Sandro Márcio fale a verdade. Eu acho que ele é realmente doutor e que realmente escreve “sensurar”.
É o que sempre digo: na marcha em que vamos, mais três gerações, a coluna da espécie já estará um pouco mais vergada, e as disputas começarão a ser travadas, aos guinchos, nas copas das árvores. Ainda não tenho claro se isso demonstrará uma falha na teoria de Darwin ou se será a prova final de seu acerto.
Convenham: é só a gente olhar à volta, ler o noticiário e ver quais são algumas figuras hoje influentes no país, e a constatação será inevitável: Sandro, com o seu “sensurar”, pode estar na matriz daquela involução porque é, afinal, o mais… apto, o mais adaptado ao meio! Com um pouco de carisma, ainda acaba ganhando uns dez títulos de Doutor Honoris Causa.