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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Um certo Paulo Nogueira pede a minha cabeça à Editora Abril. Ou: O bravo quer sair da obscuridade às minhas custas. Pois não!

Caras e caros, espero que vocês se divirtam lendo este texto. E me diverti bastante ao escrevê-lo. Estou gostando da minha “Comissão da Verdade”… * Paulo Nogueira tem um blog — e lá vou eu tirá-lo da indigência fornecendo-lhe alguns leitores — chamado “Diário do Centro do Mundo”, nada menos. Claramente não leu Horácio, o […]

Por Reinaldo Azevedo
Atualizado em 31 jul 2020, 08h43 - Publicado em 1 jun 2012, 07h51

Caras e caros, espero que vocês se divirtam lendo este texto. E me diverti bastante ao escrevê-lo. Estou gostando da minha “Comissão da Verdade”…
*

Paulo Nogueira tem um blog — e lá vou eu tirá-lo da indigência fornecendo-lhe alguns leitores — chamado “Diário do Centro do Mundo”, nada menos. Claramente não leu Horácio, o meu predileto, tantas vezes exaltado aqui. Nogueira lê mesmo é sua turma de confidentes, Luis Nassif, Paulo Henrique Amorim e Leonardo Attuch, da sua mesma estirpe de bravos. “Caelum, non animum mutant qui trans mare currunt”. Ou: “Mudam de céu, mas não de espírito, os que cruzam o mar”. Ou por outra: a paisagem não muda o caráter do homem. O de Nogueira segue sendo o mesmo.

Ele tem a ambição de fazer um “Diário do Centro do Mundo” porque está morando em Londres.  Quanta originalidade!  Bem antes, Paulo Francis, de quem ele tem a pretensão de ser um crítico, escrevia, de Nova York, a coluna “Diário da Corte”. Francis, obviamente, fazia uma ironia. Nogueira pretende se levar a sério. Londres era o centro do mundo até o século 19, mas ele nem tem noção do que estou falando.

E quem, santo Deus!, é Paulo Nogueira? Em seu blog, lê-se o resumo de sua biografia profissional: “É jornalista e está vivendo em Londres. Foi editor assistente da Veja, editor da Veja São Paulo, diretor de redação da Exame, diretor superintendente de uma unidade de negócios da Editora Abril e diretor editorial da Editora Globo.” A exemplo de Lula, mas muito mais malsucedido do que o ApeDELTA, ele não se conforma em ser “ex”. E tenta voltar ao debate pela porta dos fundos.

Quis ser diretor de redação da VEJA. Não conseguiu em razão de seus atributos. É mais uma dessas almas penadas que andam por aí a acreditar que a direção da revista é tão importante que deveria ser decidida por eleição direta entre os… inimigos do jornalismo! Frustrada a sua ambição, migrou para a Editora Globo na esperança de que lá, finalmente, pudesse exercer plenamente um talento reconhecido sobretudo por si mesmo.

Enquanto exerceu o cargo naquela empresa, para incômodo dos que o cercavam e dos que o chefiavam, era crítico impiedoso da Editora Abril. Não existe sentimento mais mesquinho, ordinário, servil e escravo do que ficar descendo a língua em ex-patrão. Coisa de almas menores, que transformam ressentimento em categoria de pensamento. Passou a ser também a fonte original de algumas das delinquências que os blogs sujos, o JEG, passaram a disparar contra a Abril e a VEJA. Alimentava a vã esperança de desestabilizar a direção da revista para se apresentar como o Savonarola da nova ordem.

Foi chutado da Globo, embora, nesses casos, os patrões, sempre elegantes, deixem de barato que foi o fim de uma relação amigável. Parece que agora faz alguns “frilas” para revistas da Abril. Não estou bem certo. Não fossem alguns leitores me enviarem dois links de posts seus (e com que atraso!), nem teria tomado conhecimento de sua soberba mediocridade. Num deles — em que puxa o saco de Roberto Civita —, ataca Roberto Marinho. Sob o pretexto de contestar a afirmação delinquente de uma outra minoridade, Mino Carta, segundo a qual Civita seria o “Murdoch brasileiro”, elogia a Abril, que era atacada por ele quando estava na Globo, e diz que Marinho, sim, era o Murdoch nacional. Nogueira é assim: vai escolhendo o Roberto da hora segundo quem lhe paga o salário. Vai mudando de Roberto segundo a conveniência; vai elogiando o Roberto segundo o interesse do momento.

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Nos dois posts que me enviaram, esse senhor se refere a mim, pedindo, de maneira oblíqua e covarde, a minha cabeça. Num deles, afirma que meu blog é “movido a ódio, não a ideias”. No outro, repetindo palavras de Leonardo Attuch — a quem devota grande admiração e enche de elogios em seu blog —, escreve: “Há uma métrica boa para aferir o progresso do Brasil no campo do debate educado. Quando expressões gastas e chulas como ‘pig’, ‘besta’ e ‘petralhas’ sumirem, é porque avançamos.”

Nogueira gostaria que eu sumisse, não a palavra. “Petralha”, de resto, vai ficar porque já foi parar num dicionário. Ele tenta me colocar como o outro extremo de um Paulo Henrique Amorim, por exemplo, apresentando-se, não por acaso, como o centro, o bom senso, o equilíbrio. Truque barato!

Naquele texto em que volta a cantar as glórias de Civita (depois de tê-lo satanizado quando na Editora Globo), critica a VEJA. Escreve sobre a relação da revista com Lula: “(…) Na minha interpretação pessoal, a Veja imaginou estar diante de um novo Collor — uma percepção que se acentuaria com o caso do Mensalão. (…) A revista demorou a perceber que Lula não é Collor. (…)”. Que mimo, não é?  Nogueira, todo faceiro, está a dizer: “Olhe, Abril, fosse eu na direção da VEJA, tal erro jamais teria sido cometido, tá? Não se esqueça, estou por aí. Liga pra mim, não liga pra ele”. Nogueira não está no “centro do mundo”; está dando pinta na avenida…

Não por acaso — não mesmo! — sua crítica repete um mantra do petismo. Falo eu, não a VEJA; escrevo eu, não a VEJA; afirmo eu, não a VEJA: em vários aspectos, com efeito, Lula não era Collor, mas muito pior. À parte um primeiro arreganho autoritário, quando mandou invadir a sede da Folha pretextando razões fiscais, o presidente impichado nunca tentou criar mecanismos de intimidação da imprensa. Vendo repudiada de forma clara e inequívoca aquela iniciativa, não voltou ao assunto. E olhem que, desde o primeiro dia (por bons motivos, diga-se), a imprensa foi muito mais crítica com ele do que com o petista.

Collor era um destrambelhado, sim, mas não tentou mudar a, vamos dizer, codificação genética da democracia, recorrendo a instâncias do próprio estado de direito para solapá-lo. Collor não tinha a mais remota ideia do que fazer no poder, mas não recorreu ao dinheiro público para financiar pistoleiros na imprensa. Collor liderou, como ficou evidente, um cleptogoverno (e, por isso, mereceu o destino que teve), mas não tentou transformar o assalto aos cofres públicos numa forma de resistência política.  Seu papel tem sido, nessa área, mais deprimente hoje em dia, transformado de caçador de marajás em caçador de jornalistas.

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De fato, Lula não era Collor e, recorrendo à minha memória de leitor, noto que a revista sempre apoiou, ancorada nos fatos, as medidas responsáveis de um Antônio Palocci, por exemplo. E considerou que ele havia chegado ao fim da linha quando, como homem de estado — não como aquele que havia sido gestor da economia —, enrolou-se com a quebra ilegal do sigilo de um caseiro. A crítica de Nogueira às escolhas feitas por VEJA seria apenas injusta se fosse intelectualmente honesta, mas é só mais uma manifestação da guerra suja empreendida por petralhas, JEG, BESTA, com cujas páginas ele colabora com textos e como “informante”.

“Pô, Reinaldo, por que tirar mais um banana da irrelevância?” Porque me deu vontade. À sua maneira, Luis Nassif, Paulo Henrique Amorim e Leonardo Attuch são mais honestos do que Paulo Nogueira porque, ao menos, não têm o mau gosto adicional de recorrer à lisonja barata e ao puxa-saquismo para ver se realizam o seu intento. São o que são e não tentam disfarçar. Ninguém tem o direito de confundi-los. Já Nogueira tenta disfarçar suas escolhas parafraseando textos de quem pensou melhor do que ele e primeiro.

Devo ser o brasileiro que mais escreve — avaliem vocês. E certamente estou entre os que mais argumentam, o que é questão de fato. Se gostam ou não do que escrevo, aí são outros quinhentos. Tomo o cuidado, quando é o caso, de recorrer a textos legais que embasam o meu ponto de vista, seja para endossá-los, seja para dizer que já não servem. Quando contesto alguém, digo qual é a tese do outro que me incomoda, qual é a afirmação de que discordo. Nogueira e sua turma fazem o contrário. A eles basta a acusação genérica. Meu blog já rendeu dois livros, muito bem-sucedidos. Renderá um terceiro. O que Nogueira tem a oferecer além do seu trabalho de colaboração às claras — e escondida — com a esgotosfera?

Comigo, não! Quer marcar um debate público, mas sem claque, vamos lá. Eu topo. Aceito confrontar o que ambos entendemos por jornalismo e quais são as referências intelectuais que guiam cada um. Aceito confrontar os meus textos com os de Nogueira para saber quem, afinal de contas, argumenta com objetividade e quem se dedica a impressionismos. Aceito, inclusive, a comparação de origens e destinos. O que fazia esse mico tardiamente amestrado nas artes do “progressismo” durante a ditadura?  Ser de esquerda quando ela persegue em vez de ser perseguida é coisa de covarde. O confronto dará audiência porque os meus “tijolaços” são lidos diariamente por milhares de pessoas. Nogueira é mais uma irrelevância perdida no que acredita ser o “centro do mundo”.

Para encerrar
A Abril é a quinta empresa jornalística com a qual trabalho — antes de atuar nessa área, fui professor de duas escolas. São sete, vá lá, “patrões”. De quatro, ao menos, sou amigo pessoal — amizade boa mesmo, fraterna, de peito aberto. Com outros três, mantenho relações cordialíssimas. Nunca ninguém me pegou ou vai me pegar descendo o sarrafo em empresas nas quais trabalhei. Poucas posturas são tão repulsivas quanto essa. Outro ridículo que não passo — e eles todos sabem disso — é tentar lhes ensinar o seu ofício, a se comportar como… patrões! Jamais dou dicas a alguém mais rico do que eu sobre como ganhar dinheiro, por exemplo… Tampouco tento dizer ao dono de uma escola como se faz uma escola, ao dono de um jornal como se faz um jornal ou ao dono de uma editora como se faz uma editora. Isso é coisa de quem, trazendo a servidão na alma, acha que deveria ser o que nunca será: senhor! Nem mesmo senhor de si mesmo!

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Finalmente, noto que Nogueira repete, quando se refere a mim, o clichê habitual das esquerdas e dos “progressistas”, a saber: “Ah, conservador bom era Nelson Rodrigues; conservador bom era José Guilherme Merquior; conservador bom era…”. Já entendemos: conservadores bons são os conservadores mortos. É o que essa gente do JEG deseja para aqueles que são considerados seus opositores. É vigarice intelectual considerar que “petralhas” é um termo grosseiro, que rebaixa o debate. “Padre de passeata”, de Nelson, é grosseiro? E olhem que, naquele caso, havia um regime discricionário em curso. Eu confronto ideias numa democracia. E confrontei a ditadura, fisicamente mesmo, quando foi necessário. Onde estava Nogueira? Antes como agora, escondido em alguma trincheira, esperando o clarim da vitória para saber a que lado aderir.

Texto publicado originalmente às 5h49
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