Torço para que Martha Rocha faça um bom trabalho no Rio, mas sua entrevista é péssima!!!
Abaixo, há trechos de uma entrevista da delegada Martha Rocha, nova chefe da Polícia Civil do Rio. Não se deve tomar uma única conversa com jornalistas como evidência de que o trabalho de um servidor público será bom ou mau. Mas é absolutamente legítimo e necessário avaliar se o que se diz é auspicioso ou […]
Abaixo, há trechos de uma entrevista da delegada Martha Rocha, nova chefe da Polícia Civil do Rio. Não se deve tomar uma única conversa com jornalistas como evidência de que o trabalho de um servidor público será bom ou mau. Mas é absolutamente legítimo e necessário avaliar se o que se diz é auspicioso ou preocupante. E a fala de Martha mais preocupa do que anima. Vamos ver.
Eu não esperaria que ela dissesse estar à frente de uma das polícias mais corruptas do Brasil. Ela não precisaria chegar a tanto. Mas também não lhe cabe negar a realidade. Indagada se a corrupção no Rio é maior do que em outros estados, ela responde com outra indagação: “Onde está essa medida?”
Se ela não sabe, eu respondo. Está no fato de que um ex-chefe de Polícia, Álvaro Lins, está no xilindró. Está no fato de que outro príncipe da Polícia Civil, Carlos de Oliveira, também está em cana. Está no fato de que seu antecessor, Allan Turnowski, está prestes a ser indicado pela Polícia federal. Está no fato de que, ainda que a corrupção seja o mais grave problema de todas as polícias do Brasil, só no Rio as milícias se transformaram num sistema paralelo de segurança — e seus chefes, o que é muito grave, têm ligações com o establishment político do Estado e da cidade. Oliveira mesmo, ex-auxiliar direito de Turnowski, estava na Subsecretaria de Segurança da Prefeitura do Rio: foi enviado por Sérgio Cabral e abrigado por Eduardo Paes. Todo o meio policial — e parte da imprensa — sabia de suas ligações perigosas. Está no fato, delegada Martha, de que um ex-auxiliar seu acabou em cana, e a senhora sabe disso.
Martha não precisa admitir que será chefe de uma das polícias mais corruptas do país, mas não lhe cabe negar o óbvio. Num outro momento até engraçado, lemos:
É o que indica o noticiário [polícia do Rio está entre as mais corruptas].
Você sabia que o “The New York Times” quer falar comigo? Não é porque eu sou a Martha Rocha, mas porque eu sou chefe da Polícia Civil do Estado do Rio, e o Rio está no foco do mundo. A metragem no noticiário não reflete a verdade.
Então a fama de corrupto do policial do Rio é injusta?
Eu acho que sim. Com todo respeito a todos os outros chefes de Polícia, gostaria de saber se outro foi procurado pelo “The New York Times”.
Por que o Times quereria falar com Martha Rocha, Santo Deus? Para saber se a Bossa Nova nasceu mesmo com João Gilberto? Ou para ouvir suas considerações obre o “ser” e “não-ser” universal? No dia em que outro estado importante como é o Rio, cuja capital sediará a Copa do Mundo e a Olimpíada, tiver ex-chefes da Polícia na cadeia e uma verdadeira organização criminosa comandada por policiais, como é o caso das milícias, é possível que isso chame a atenção do Times. Especialmente porque se viu há pouco tempo a espetaculosa ocupação do Complexo do Alemão, notícia no mundo inteiro. Turnowski foi um dos “heróis”. Descobriu-se que a máfia incrustada na Polícia aproveitou o evento para realizar um verdadeiro saque: ladrão roubando ladrão — com a diferença de que, naquele caso, alguns bandidos eram perseguidos, e outros perseguiam. O BOPE só virou um mito na Polícia do Rio porque ganhou fama de incorruptível. Isso fala um tanto do conjunto. Tenho certeza de que os policiais honestos não se ofendem quando se acusam os descalabros. Só reagem mal os lobos em pele de cordeiro.
Tese estúpida
Martha Rocha já foi candidata a deputada pelo PT. Não se elegeu. Isso indica algumas escolhas ideológicas e tal. Não vou prejulgar o seu trabalho por causa disso, embora me pareça inegável que algumas balizas estão dadas. Ela defende uma tese perigosa como um dos instrumentos para melhorar a polícia: eleição direta para escolher o chefe. E usa como exemplo listas tríplices do Ministério Público e do Judiciário.
Calma lá! Nem MP nem Justiça andam armadas e têm a prerrogativa do uso legal da força — ou, em certos casos, da violência. Guardam uma boa distância — infelizmente, não-intransponível, como sabemos — da ação criminosa propriamente dita. Sua base eleitoral é muito menor e menos sujeita, embora não imune, aos malefícios do corporativismo.
Lembro à delegada Martha Rocha que a Adepol, a Associação dos Delegados de Polícia do Rio, criticou a Operação Guilhotina, atacando, inclusive, o secretário José Mariano Beltrame. Quem ela supõe que teria mais chances numa eleição direta: Carlos de Oliveira, que está preso, ou Cláudio Ferraz, que ajudou a prender? Sua tese é estúpida!
Estúpida e, bem…, perturbada, como costuma ser o petismo. Explico-me. Martha acha que o atual sistema, em que o governador indica o chefe, sem a eleição direta, é bom com Sérgio Cabral porque, ohhh, eis um governador honestíssimo, corretíssimo, que dá independência ao secretário de Segurança etc. Mas nunca se sabe como serão os próximos. Vale dizer: os de sua turma fazem a coisa certa (não ficando claro se são da turma PORQUE fazem a coisa certa ou fazem a coisa certa PORQUE são da turma), já os outros são, obviamente, suspeitos.
Tomara que Martha Rocha faça um bom trabalho no Rio. Sua entrevista é péssima!