Terra em transe 1 – A crise de mão-de-obra invasora
Publico e comento, na seqüência, trechos das reportagens da Folha sobre os sem-terra. O ESVAZIAMENTOPor Leandro BerguociO Bolsa Família foi um fator determinante para o esvaziamento dos movimentos sem terra durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Levantamento da Folha com base em dados do Ministério do Desenvolvimento Social e da […]
Publico e comento, na seqüência, trechos das reportagens da Folha sobre os sem-terra.
O ESVAZIAMENTOPor Leandro BerguociO Bolsa Família foi um fator determinante para o esvaziamento dos movimentos sem terra durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Levantamento da Folha com base em dados do Ministério do Desenvolvimento Social e da CPT (Comissão Pastoral da Terra) mostra que o número de famílias que invadiram terras no Brasil caiu de 65.552, em 2003, para 44.364, em 2006 -queda de 32,3%.Nesse mesmo período, a quantidade de famílias sem terra acampadas despencou de 59.082 para 10.259 -uma diminuição de 82,6%. O único número que se manteve estável foi o de invasões, que oscilou de 391 em 2003 para 384 em 2006.(…)No ano passado, 10,9 milhões de casas brasileiras receberam o Bolsa Família, programa assistencial que paga entre R$ 15 e R$ 95 por família. Em 2003, eram 3,6 milhões. Os recursos destinados ao programa passaram de R$ 570,1 milhões para R$ 7,5 bilhões no período.O esvaziamento dos movimentos sem terra ocorreu apesar do aumento das verbas federais. Segundo levantamento da ONG Contas Abertas, que monitora gastos públicos, o governo Lula repassou R$ 39,9 milhões a entidades ligadas ao MST entre 2003 e 2006. Durante o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a organização recebeu R$ 9,6 milhões.O MST afirma que não aceita receber o Bolsa Família em seus assentamentos porque o programa não reforça os laços de solidariedade. O movimento prefere as cestas básicas governamentais, que podem ser repartidas entre as comunidades.Assinante lê mais aquiComentoÉ bem possível que o Bolsa Família tenha feito cair o número de invasores. Há testemunhos nesse sentido. Parece-me que a falha das reportagens é dar excessivo peso a essa questão e ignorar uma outra bastante importante: o crescimento da economia, que fez aumentar a oferta de empregos formal e informal também nas grandes cidades do interior, celeiro da mão-de-obra stediliana. Como os sem-terra são, de fato, sem-emprego, este fator me parece bem mais importante do que o outro. Só uma nota sobre o dinheiro repassado ao MST: as cifras acima referem-se a recursos injetados, digamos, na veia do movimento. O volume é muito maior: deve-se colocar na conta o dinheiro das desapropriações.E notem: Stedile, o democrata, impede que seus assentados recebam um direito, que é o programa de Bolsa. No comunismo primitivo do primitivo, melhor é ficar dividindo saquinho de feijão…OS ESPECIALISTASMais n Folha:Ex-petista e candidato ao governo de São Paulo em 2006 pelo PSOL, Plínio de Arruda Sampaio diz que “há indício forte de que Bolsa Família tira a combatividade das pessoas para lutar pela reforma agrária. É o efeito mais perverso do programa”. (…) Dom Tomás Balduino, ex-presidente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), diz que “o assistencialismo é uma forma de solução mais fácil, e é fato que o Bolsa Família arrefeceu a luta dos sem-terra. Só onde há consciência política é que as ocupações se mantêm”.Assinante lê mais aquiComentoEntendi mal ou esses dois expoentes da Teologia da Libertação — um leigo e outro religioso —prefeririam que o populacho passasse fome porque isso açularia o seu espírito revolucionário?
CAPITALISMO NO CAMPONa Folha:A cidade de Ribeirão Preto (SP) se define como a capital brasileira da agricultura empresarial. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) se declara inimigo dos fazendeiros. No primeiro governo Lula, houve uma invasão de terra na cidade. Dela surgiu o único acampamento no coração do agronegócio, espremido entre uma fazenda de cana e o Bolsa Família.(…)A Fazenda da Barra foi invadida por 450 famílias do MST em 2003. Hoje, são 350, mas apenas 30 estão no local desde 2003. A rotatividade é alta. Muitos pioneiros desanimaram e foram povoar o bairro de Ribeirão Verde, ao lado do assentamento, repleto de ex-integrantes do MST. Alguns fazem bicos, tentam arrumar algum emprego na economia da cidade -que cresce rápido, movida pela cana.(…)Em Ribeirão Verde, as pessoas têm medo de falar. Não querem arrumar confusão com o MST. Uma das poucas é a cozinheira Maria da Graça Pereira de Moura, 50. Ela esteve à frente da invasão de 2003 e hoje mora no bairro. “Eu tinha o sonho de ter terra, não ter de trabalhar para os outros”, afirma Maria, que deixou o movimento por não concordar com as regras do acampamento. “Você não pode trabalhar fora, não pode buscar outras coisas. Percebi que a cidade te dá mais oportunidades. O MST diz que o governo vai dar terra, vai dar tudo, mas nada chega.”(…)O bairro ao lado cresce rápido. Já há asfalto nas ruas, bares, lojas e supermercado.Assinante lê mais aquiComentoSabem qual é a porcentagem de brasileiros vivendo hoje no campo? 18%. Na Região Sudeste, é de apenas 9,5%. É a tendência no mundo inteiro — nos países mais desenvolvidos ao menos. Se a economia se expande, gente como Maria da Graça, que falou com a Folha, prefere a liberdade aos doces laços da escravidão ideológica que lhe propõe Stedile. E vejam que se obtém esse resultado mesmo com o crescimento discreto que há no Brasil. A reforma agrária é hoje só um sorvedouro de dinheiro, que alimenta uma máquina publicitária, especializada em vender ideologia, chamada MST. Nada mais.Os sem-terra, enfim, não existem.