Sobre ladrões de bicicletas e ladrões de vidas humanas
Há certas iniciativas no campo do entretenimento que acabam se confundindo com o jornalismo que mais desinformam o público do que informam. O Fantástico, há pouco, exibiu uma delas. Depois de mostrar uma cidadezinha em Santa Catarina onde todo mundo se conhece e onde se pode deixar a bicicleta na rua, que ninguém leva, o […]
As cidades escolhidas foram Recife, Goiânia, São Paulo, Rio e Porto Alegre. Uma bicicleta foi deixada em dois pontos de cada uma dessas capitais. O objetivo: saber em qual a dita-cuja seria levada primeiro. A bicicleta deixada na Praça da Sé, na capital paulista, foi surrupiada em pouco mais de 12 minutos. Pergunto: o que um “teste” como este quer dizer? Teria o paulistano menos caráter do que o recifense ou o goiano? Seria a cidade menos segura? Não custa lembrar que a reportagem que inspirou o teste tratava de segurança.
Para que um “teste” como esse tivesse algum significado, seria preciso que os locais em que as bicicletas foram deixadas tivessem a mesma concentração e/ou fluxo de pessoas e que o corte social da massa que freqüenta a área fosse o mesmo. A Praça da Sé é uma das áreas, durante o dia, com a maior densidade demográfica do Brasil. É fácil pegar qualquer coisa ali e virar multidão. Mas isso ainda diz pouco. Em Recife, a bicileta ficou intocada.
Terei de lembrar aqui algumas coisas. Vocês sabem qual é a capital do Brasil em que mais se matam pessoas segundo o Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana), que faz um relatório considerado oficial pelo próprio governo? Recife!!! Sim, a cidade que deixa em paz as bicicletas mata 90,5 pessoas por 100 mil habitantes. É mais do que o dobro do que se mata no Rio de Janeiro.
Você sabia que se mata mais gente, proporcionalmente, em Florianópolis do que em São Paulo? Você sabia que Belo Horizonte é a segunda cidade (daquelas com mais de um milhão de habitantes) em número de homicídios por cem mil pessoas? Vejam mais números.
Na lista das capitais (incluindo cidades com menos de 1 milhão de habitantes), o Rio está em 9º lugar no ranking dos homicídios, superado pelas seguintes capitais:
– Recife (90,5)
– Vitória (87)
– Maceió (80,9)
– Porto Velho (68,4)
– Palmas (65,8)
– Belo Horizonte (56,6)
– João Pessoa (46,7)
– Cuiabá (45,2)
– Rio de Janeiro (44,8)
São Paulo está em 22º nessa lista de capitais. No ranking geral, incluindo todas as cidades do Brasil, eis o lugar ocupado pelas principais capitais:
– 9º lugar – Recife
– 99º lugar – Belo Horizonte
– 205º lugar – Rio de Janeiro
– 281º lugar – Porto Alegre
– 342º lugar – Salvador
– 409º lugar – Brasília
– 422º lugar – Florianópolis
– 430º lugar – Fortaleza
– 492º lugar – São Paulo
São Paulo acabou saindo mal do teste do Fantástico, embora a segurança pública na cidade e no estado devesse ser exaltada como modelo no Brasil inteiro. Por que digo isso? Respondo republicando trecho de um post de 30 de janeiro deste ano (em azul).
A taxa de homicídios na cidade e no estado de São Paulo vem caindo de forma continuada e sustentada desde 1999. “Qual será o segredo?”, perguntam-se os especialistas. Eu tenho uma explicação objetiva, material, aritmética:
– São Paulo tem 40% dos presos do país — não prende demais, não; os outros é que prendem de menos;
– Existem 227,63 presos por 100 mil habitantes no Brasil; em São Paulo essa relação salta para 341,98 por 100 mil habitantes;
– Em 2001, o estado de São Paulo tinha 67.649 presos; em 2006, eles eram 143.310 — mais do que o dobro.
– Entre 1996 e 2006 (ano do levantamento divulgado ontem), o número de presos aumentou 10 vezes;
– Até julho de 2006, haviam ingressado no sistema prisional do estado 4.832 pessoas — 800 por mês ou um preso por hora.Só eu tenho esses números. Não! São públicos. Todo mundo tem. Não é mesmo fantástico? Mais bandidos presos, mais pessoas vivas! Quem seria capaz de negar essa evidência? Pois acreditem: a esquerdopatia militante nega, sim! E fica encontrando falsos motivos e subterfúgios para explicar o espantoso sucesso da cidade e do estado
Acho que os demais estados deveriam seguir o exemplo de São Paulo na segurança pública.