Sobre anticandidatura e cruzamento de vaca com jumento

Sempre defendi que o que se passou a chamar de Terceira Via tivesse as características de uma anticandidatura. E, de fato, ainda defendo essa tese. Com PFL e PSDB arredios à possibilidade de se lançar um terceiro nome, nunca vi — e, para ser franco, não vejo — chances de vitória de um candidato alternativo. Vocês sabem disso porque já escrevi a respeito várias vezes. O equívoco, portanto, de tucanos e pefelistas não é de agora.

Cometido o erro inicial, tanto faz — do ponto de vista, vá lá, ideológico ou moral — ficar com Aldo Rebelo (PC do B-SP) ou com Arlindo Chinaglia (PT-SP). A vitória será sempre do governo. Se isso é irrelevante, entra então o pragmatismo: o apoio a Chinaglia rende mais, sem dúvida, em acordos regionais. Os tucanos que não aceitam o apoio ao petista têm toda a razão de se revoltar. Mas só se for para engrossar a tal Terceira Via. Revolta a favor de Aldo Rebelo é uma ridicularia. Se for pra cruzar jumento com vaca (e o apoio de tucanos a petistas é precisamento isso), que o híbrido ao menos dê leite e puxe carroça, se é que me entendem.
Quem me acompanha aqui sabe que sempre considerei que, mantida a tal Terceira Via como anticandidatura, a vitória seria certa, ainda que com meia-dúzia de votos. Vitória política. Caso se começasse a achar, como se começou, que a vitória seria possível, aí se passaria a flertar, obviamente, com a derrota. A anticandidatura jamais deveria ter deixado de ser — e pode voltar a sê-lo — um instrumento de protesto e de educação política. Se os tucanos que não querem Chinaglia o fazem mesmo em nome de princípios, só lhes cabe endossar o candidato alternativo. Qualquer outra decisão é fruto de mera picuinha interna.