Relâmpago: Revista em casa por 8,98/semana
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Só pode chamar de “bicha” se o alvo da gritaria não for homossexual. Ou: Torcedores, levem Schopenhauer para as quadras e estádios!

Gritaria no Twitter porque o blogueiro Rica Perrone, que não conheço, resolveu chamar de “hipocrisia” a multa de R$ 50 mil aplicada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva ao time de vôlei Sada Cruzeiro. Na primeira partida da semifinal da Superliga, parte da torcida do Cruzeiro chamou o jogador Michel, do Vôlei Futuro, que é […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 5 jun 2024, 14h34 - Publicado em 14 abr 2011, 19h19

Gritaria no Twitter porque o blogueiro Rica Perrone, que não conheço, resolveu chamar de “hipocrisia” a multa de R$ 50 mil aplicada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva ao time de vôlei Sada Cruzeiro. Na primeira partida da semifinal da Superliga, parte da torcida do Cruzeiro chamou o jogador Michel, do Vôlei Futuro, que é homossexual, de “bicha”. Isso foi no primeiro confronto. Na segunda partida, como desagravo, companheiros do rapaz usaram em quadra camisetas arco-íris, distribuíram à torcida objetos rosa-choque e abriram uma bandeira contra o preconceito.

Muito bem! Um clube ser punido porque seu estádio ou ginásio apresenta um segurança deficiente, vá lá. Por causa de palavras proferidas pela torcida? Bem, é claro que há exagero, e Rica Perrone está certo. Já foram a um estádio de futebol, por exemplo? “Viado”, com “i”, é o elogio mais inocente que se ouve. É bonito? Não é! Talvez um ensaio antropológico devesse lembrar o que uma disputa esportiva simula: guerra. Nem por isso, é evidente, a gente deve ser tolerante com a delinqüência.

Mas vamos devagar aí. Torcidas costumam pegar no pé de determinadas personagens do jogo. Os motivos variam muito. Ou se trata do astro de um time adversário; ou o sujeito era de uma equipe e se transferiu para a rival; ou é um provocador. Ou simplesmente inexistem os motivos. Uma coisa é certa: se um grupo de torcedores chamar de “bicha” ou “veado” um jogador que não é homossexual, nada vai acontecer. A denúncia tende a não prosperar. Se um homossexual chamar outro homossexual de “bicha” ou “veado”, também não acontece nada!

Ora, isso quer dizer alguma coisa, não? O uso de determinadas palavras, em que tom for, passa a ser privilégio de determinadas categorias.  Uma “ofensa” deixa de ser “ofensa” a depender de quem é o ofendido? Uma ofensa deixa de ser uma ofensa a depender de quem é o ofensor?

É boçal ficar gritando “bicha, bicha” ou “veado, veado” para alguém em quadra ou no campo? Eu acho que é! Nunca recorri a essas palavras em estádio. Mas confesso que já ofendi, sem querer, a digníssima progenitora do juiz. Não que eu me orgulhe disso. Prometi nunca mais fazê-lo. Na verdade, na próxima vez em que for ao Pacaembu, que fica aqui ao lado de casa, vou ficar lendo “Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão”, de Schopenhauer, tentando convencer os meus camaradas corintianos de seu comportamento inadequado e pouco britânico. Eu me refiro, claro!, aos britânicos de Buckingham, não aos hooligans. Mesmo no palácio, acho que me refiro a William, não a Harry, o Vermelho…

Continua após a publicidade

É o melhor a fazer! Afinal, cheguei à conclusão de que os torcedores dos dois lados da peleja quase nunca têm razão. A primeira vítima numa disputa esportiva entre times é a verdade. Por roubado que seja, acreditem, o que há de mais verdadeiro num jogo ainda é o placar! Ah, sim: só volto ao estádio para ver o meu Corinthians quando o, como é mesmo o nome dele?, ah, Adriano voltar para a Vila Cruzeiro, para o convívio dos seus amigos.

Não conheço Rica, não sei o que pensa, nada! Sei que ele tem o direito de pensar e de discordar da punição aplicada. E, obviamente, outros podem discordar dele. O diabo é que a gente nota, em muitas manifestações, o ânimo para a censura mesmo! Mais: atribuem a ele o que não disse.

E que se note: cada vez mais, prospera  no Brasil a aplicação de penas coletivas. Já que não se pode chegar à autoria do crime, então “queimem a aldeia”. E acham que isso é moderno e progressista! Vão se catar! O protesto dos companheiros de Michael, esse, sim, faz sentido. Mas pergunto: e se uma parte da arquibancada começasse a gritar de novo “bicha, bicha”?

Encerro com uma questão ao tribunal, até porque já vi isso acontecer: e se a torcida passa a hostilizar com palavras ofensivas um jogador do seu próprio time? O adversário pode recorrer à Justiça pedindo punição?

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.