Serra ou Suplicy? Cesar ou Romário? Senado ou circo de segunda?
Dois políticos disputam com chances a vaga para o Senado em São Paulo: Eduardo Suplicy, do PT, que pretende ficar lá por 32 anos — já está há 24! —, e José Serra, do PSDB. Em todas as pesquisas, o tucano aparece na dianteira, às vezes no limite da margem de erro. Empate? Não são […]
Dois políticos disputam com chances a vaga para o Senado em São Paulo: Eduardo Suplicy, do PT, que pretende ficar lá por 32 anos — já está há 24! —, e José Serra, do PSDB. Em todas as pesquisas, o tucano aparece na dianteira, às vezes no limite da margem de erro. Empate? Não são apenas as minhas afinidades eletivas ou o meu gosto que se sentem provocados. Também o senso de justiça me convoca. Serra talvez seja o político em atividade com a maior folha de serviços prestados ao país. Se há coisa que até os adversários lhe reconhecem, é competência técnica. Seu trabalho na Saúde, mundialmente reconhecido, é gigantesco. A Constituição que temos lhe deve algumas de suas melhores disposições. A sua enorme folha de serviços está em toda parte e em vários setores. Não é difícil encontrá-la.
E Suplicy? Ao longo de seus 24 anos no Senado, tornou-se refém de uma ideia fixa: o tal programa Renda Mínima. E só. Qualquer um que se debruce sobre as suas disposições vai se dar conta do absurdo. Por que pessoas endinheiradas, que podem prover o próprio sustento, deveriam receber uma pensão fixa do Estado? A pergunta não tem resposta fora do exotismo teórico que, reconheço, não prospera só no Brasil.
A campanha eleitoral de Suplicy exibe, sem querer, a sua biografia oca no Senado: deve-se votar nele, dizem lá, porque é honesto. É mesmo? Desde quando a honestidade é, agora, um ativo que deva ser exibido como distinção? Ora, isso é apenas uma obrigação. Vinte e quatro anos! E não se pode apontar uma única lei, um único feito, uma única realização relevante que se devam à sua atuação. Não obstante, a narrativa de suas atitudes, digamos, folclóricas é extensíssima. Às vezes, são só irrelevâncias cômicas; às vezes, não, a exemplo de quando se grudou no terrorista italiano Cesare Battisti ou quando foi visitar sequestradores na cadeia.
O Rio
No Rio, as coisas caminham de mal a pior nesse particular. O ex-jogador Romário (PSB) — com uma ficha, para dizer pouco, polêmica — lidera a disputa, seguido por César Maia, do DEM. Pois é… Pode-se gostar muito, pouco ou nada de Maia, mas é inegável que é dono de um pensamento e que é capaz de entender o alcance da função de um Senador no terceiro estado mais populoso do Brasil. Qual é o saldo da atuação política do deputado Romário para merecer a ascensão ao Senado?
Qual é a sua militância política pregressa que justifique o posto? Ter sido preso duas vezes por não pagar pensão alimentícia? Ter conseguido o prodígio de ser réu — ou, ao menos, citado em 54 processos quando mal tinha feito 40 anos? Ter se envolvido em inúmeras confusões em condomínios, sendo condenado, numa delas, a pagar indenização milionária? Ter-se tornado uma celebridade em Brasília também em razão de suas festanças com música eletrônica, que infernizam a vida dos vizinhos?
É evidente que nada tenho contra o ex-jogador. No futebol, por razões óbvias, ele figura até na minha galeria de heróis. Mas tem condições de ser um dos três representantes do Rio no Senado? Com o devido respeito a seus eleitores, a coisa está mais para piada. Qualquer que seja o próximo presidente da República, crescerá enormemente a importância do Congresso. No que diz respeito a São Paulo e Rio, cabe a pergunta: esses dois estados estarão mais bem representados, respectivamente, com Suplicy e Romário ou com José Serra e Cesar Maia?
Apesar do esforço de muitos, o Senado ainda não é um circo de segunda. E faço aqui, já que pertenço à imprensa, um mea-culpa. Damos pouquíssima importância à eleição dos membros do Congresso. Ele só costuma nos interessar quando bandidos e cretinos se comportam como… bandidos e cretinos. Um Parlamento melhor, convenham, conseguiria melhorar até o Executivo.