Segundo texto contra o celibato – Igreja não é armário
Publiquei, no post anterior, um texto contra o celibato sacerdotal, lembrando que não se trata de matéria de doutrina ou de fé, MAS DE MERA ESCOLHA DE UMA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL. É assim desde o século o fim do século IV? É, sim! Pois é. Às vezes, é preciso mudar para conservar o que tem de […]
Publiquei, no post anterior, um texto contra o celibato sacerdotal, lembrando que não se trata de matéria de doutrina ou de fé, MAS DE MERA ESCOLHA DE UMA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL. É assim desde o século o fim do século IV? É, sim! Pois é. Às vezes, é preciso mudar para conservar o que tem de ser conservado, e um papa renuncia pela primeira vez em seis séculos, não é mesmo?
No dia 23 de março de 2007, já havia publicado um outro artigo, aí tratando propriamente da pedofilia, que vira uma espécie de monotema quando o assunto é a Igreja Católica. Então vamos lá. Vocês notarão que há algumas referências a assuntos da época. A minha tese, no entanto, acho que não envelheceu.
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Quando escrevo posts como aquele em que defendo o fim do celibato sacerdotal ou em que sustento a obviedade de que a ancestralidade do daime não faz com que o chá deixe de ser droga — ao contrário até: ajudou a criar o mito —, sei o que me espera. E tenho publicado os que me contestam nos dois casos. Na verdade, havendo uma divergência respeitosa, que não afronte princípios do blog (já que não sou “democratista”), publico sempre. Pedem-me de forma insistente que explique qual a relação entre o celibato e as acusações de pedofilia. Huuummm… Às vezes, a gente propõe uma equação de segundo grau, e nem sempre o leitor se lembra da raiz quadrada. Vamos lá.
Estima-se em 400 mil o número de sacerdotes da Igreja. É evidente que as acusações atingem uma extrema minoria. E daí? Para corroer parte importante da reputação da Igreja, essa minoria basta. Seria preciso ter um estudo dos casos investigados pela Igreja e pela Polícia. Muitos dos que vêm a público, reparem, acabam sendo caracterizados como “pedofilia”, embora o objeto de desejo do padre que desonra a instituição não seja exatamente uma… criança, não é mesmo?
Se retirarmos o véu da hipocrisia e, sim!, do politicamente correto, o que se tem, na maioria das vezes, são casos de homossexualidade, não de pedofilia. Leiam trecho de uma reportagem da VEJA desta semana:
A alagoana Arapiraca deve seu nome a uma madeira de poderes energéticos e sua fama ao fato de ter sido a capital nacional do tabaco até os anos 90. Na semana passada, passou a ser conhecida também no exterior. Foi citada em reportagens de alguns dos maiores jornais do mundo depois que se soube que um de seus padres,monsenhor Luiz Barbosa, de 82 anos, mantivera um tórrido relacionamento amoroso com o ex-coroinha Fabiano Ferreira, de 20 anos. As cenas mais vibrantes do romance foram registradas em um DVD que pode ser adquirido por 2 reais em qualquer esquina de Arapiraca. Nele, vê-se o monsenhor e o coroinha fazendo sexo oral um no outro simultaneamente.
20 anos! Pedofilia? Diria que, com 15 (e até menos), um rapaz costuma saber se alguém pretende fazer coisas, digamos, indevidas com o seu passarinho, não é mesmo? O tal “ex-coroinha”, que chantageou o monsenhor, já tem até uma espécie de “agente” que cuida da sua, como dizer?, carreira: entrevista, só pagando! É um moço de princípios. Ora, um padre FAZENDO SEXO COM — e não molestando — um rapagão de 20 é certamente um escândalo, mas não é o “escândalo certo”. Aquele que rende, hoje em dia, indenizações milionárias é “pedofilia”. Então o amante de sacristia diz que tudo começou quando ele tinha… 12 anos! E como provar o contrário? Impossível!
Ocorre que o sujeito que folga com um de 20 tende a não se interessar por um de 12…
Não acreditem em mim, pesquisem; consultem especialistas se quiserem. A pedofilia constitui um grave desvio psíquico; a homossexualidade — e deixem a crença fora disso agora — não. Quantos são os casos ditos de “pedofilia” que são nada mais do que práticas homossexuais? São menos graves por isso? Se o tal monsenhor gosta de ficar com rapazes na faixa dos 20, na sacristia, não me parece exatamente habilitado para as suas funções. Mas “doente” ele não é. Nem o seu parceiro, que pode alegar qualquer coisa, menos inocência.
Não tenho números, mas aposto que as acusações caracterizadas como “pedofilia” propriamente — em que o molestador precisa da inocência do molestado para realizar a sua fantasia certamente doentia — compõem a minoria dos casos. E, então, voltamos ao começo. Reproduzo um trecho do que escrevi:
É evidente que o primeiro efeito positivo do fim do celibato seria atrair para a Igreja vocações que não estão dispostas a abrir mão da bênção que é ter uma família. E, ao longo do tempo, o sacerdócio deixaria de ser um refúgio – e os escândalos estão aí à farta – para os que pretendem usar a Igreja como resposta socialmente aceita a suas inapetências e gostos. A Igreja, aqui e no mundo, está a precisar menos de homens que imitem Cristo num particular e mais de homens que sigam as leis gerais do Cristo. Não é, infelizmente, o que se tem amiúde visto. Também essa escolha traria novos problemas para a Igreja? Sem dúvida. Acho, no entanto, que o ganho seria, ao longo do tempo, bem maior do que o prejuízo.
Debate interditado
As coisas acabam não sendo chamadas pelo nome porque se teme a reação de grupos organizados. Muitos procurarão ler no meu texto, por exemplo, O QUE ELE NÃO DIZ, a saber: os homossexuais são culpados pelos casos de pedofilia. Não! Eu escrevi algo muito diferente. Estou sustentando que deve haver menos casos de pedofilia do que de homossexualidade. Padres heterossexuais podem ter casos amorosos também. Mas costumam ser menos ruidosos e menos expostos à chantagem. E, obviamente, um heterossexual não precisa usar uma opção religiosa como escudo para se proteger de censuras sociais ou familiares. É possível que, na maioria dos casos, sua opção pelo celibato seja mais convicta. E ATENÇÃO: ISSO NÃO DESCARTA QUE PADRES HOMOSSEXUAIS POSSAM SER CELIBATÁRIOS SINCEROS NEM QUE HETEROSSEXUAIS POSSAM SER CELIBATÁRIOS HIPÓCRITAS.
Reações indignadas
Compreendo — embora não concorde com elas, claro! — as reações indignadas ao meu texto [dos defensores do celibato]. Reitero que considero a minha opinião bem mais “conservadora da Igreja” do que a dos defensores do celibato, que sabem não haver mecanismos para impedir que a instituição se transforme na opção de quem, não tendo opção, não pode, no entanto, ser feliz sendo o que é. Os danos à Igreja são grandes.
Também é evidente que a pedofilia não é característica própria de casados ou celibatários, de homossexuais ou heterossexuais. Arrisco-me até a dizer que o número de casos de pedofilia propriamente continuaria o mesmo. A razão é simples: estão chamando de pedofilia o que pedofilia não é.