Secretário de Imprensa da Presidência da República sabota esforço moralizador do governo. Demonstro por quê.
Governos no mundo inteiro têm uma estrutura de imprensa para se comunicar com a opinião pública. Poucos, no entanto, contam com um aparato semelhante ao brasileiro, que soma a publicidade oficial à das estatais, conferindo um poder formidável aos mandatários de turno. Aí está uma das raízes dos desmandos no Brasil, não duvidem. Pois bem. […]
Governos no mundo inteiro têm uma estrutura de imprensa para se comunicar com a opinião pública. Poucos, no entanto, contam com um aparato semelhante ao brasileiro, que soma a publicidade oficial à das estatais, conferindo um poder formidável aos mandatários de turno. Aí está uma das raízes dos desmandos no Brasil, não duvidem.
Pois bem. O lulo-petismo não se conforma só com o permanente assalto ao bolso dos cidadãos para espalhar as verdades oficiais e para fazer politicagem. Todos sabemos que há, por exemplo, uma rede de blogs sujos financiada direta ou indiretamente pelo oficialismo. E isso ainda é pouco. Profissionais incrustados na máquina de comunicação, que deveriam primar pelo rigor técnico, recorrem às redes sociais para praticar uma espécie de pistolagem intelectual e política.
Vou dar destaque aqui a um sujeito que tem modestíssimos 1.045 seguidores no Twitter. Certamente acabará ganhando alguns depois deste post. Não ligo. Às vezes, sou caridoso com os desprovidos de público. Dou relevo ao que ele escreveu porque, creio, três de seus tuítes servem de emblema do que está em curso.
Refiro-me a um sujeito chamado José Ramos Filho, que é secretário de Imprensa da Presidência da República. Trabalha diretamente com Dilma Rousseff. A VEJA desta semana, como sabem, traz uma reportagem narrando a magnífica trajetória do ministro da Agricultura Wagner Rossi, o professor universitário que entrou para a política e acabou morando numa casa avaliada em modestos R$ 9 milhões. Esse é o lado, digamos, “empreendedor” de sua biografia. Há outros. Leiam lá.
Pois bem, no próprio sábado, tão logo a revista começou a chegar às bancas, o tal José Ramos Filho mandou ver em três tuítes, que me foram enviados por um leitor. Eu os reproduzo abaixo, na forma como foram redigidos.
1 – “O que dita rumos é o grito dos fatos noticiados, não o berreiro do jornalista ou de seu veículo.”
2 – “Parece que a editora abril tá querendo entrar no ramo de Diarios Oficiais…”
3 – “Na ausencia de uma bala de prata contra wagner rossi, veja tenta um tiro de cartucheira, com pregos e Chumbinhos.”
Embora José Ramos Filho seja secretário de Imprensa da Presidência, ele certamente dirá que tuitava “enquanto pessoa física”. Para o valente, tudo o que se sabe até agora de Wagner Rossi é pouco, e as notícias podem ser resumidas a um “berreiro”. Vi a cara dele. Já é um senhor careca e barbudo. Como diria Antero de Quental, a tolice de um velho é tão desagradável quanto a gravidade numa criança. Se fosse cabeludo e sem barba, não seria menos tolo. Só descrevo um tipo, que costuma ser confundido com seriedade.
Entendo por que ele está infeliz. O “berreiro” da VEJA derrubou, deixem-me ver, o ministro Antonio Palocci, o ministro Alfredo Nascimento, 26 pessoas do Ministério dos Transportes e o secretário executivo do Ministério da Agricultura, Milton Ortolan. Como diria o dito-cujo, nada como “o grito dos fatos”.
Passo para o tuíte 3. E encerrarei com o dois, em que, vocês verão, o secretário de Imprensa de Dilma faz pouco de sua chefe. Explicarei por quê. Ramos está anunciando um critério moral, que deve seguir, suponho, em sua vida privada, já que escreve “a nível de pessoa”, né? Ele acha que um ministro envolvido no desperdício de oito toneladas de comida por razões políticas não é “bala de prata”; ele acredita que um lobista com sala secreta no ministério — ex-traficante de drogas que redige pareceres e cobra propina em nome da pasta — não é bala de prata. Que homem tolerante! Se ele acha que o Brasil merece tais práticas, vai ver seleciona segundo esses critérios seus amigos na vida privada. Deus me livre!
Mas revelador mesmo é o tuíte 2. Parece enigmático? Eu explico. A mesma edição de VEJA que trouxe a reportagem que desconstrói Wagner Rossi publicou uma “Carta ao Leitor” em que afirma que os brasileiros decentes devem apoiar Dilma Rousseff QUANDO E SE ela demite larápios. O texto informa que a presidente está sendo alvo da chantagem de figurões da base aliada, que ameaçam com retaliações no Congresso.
Pois bem, o homem de Dilma na área de imprensa está afirmando que, ao redigir tal carta, VEJA se candidata a ser “Diário Oficial”. Como hostiliza a revista e como a revista apóia, sim, o esforço moralizador empreendido até agora, resta evidente que o tal José Ramos Filho está fazendo pouco do esforço de sua chefe para livrar os cofres públicos da bandidagem. Ou por outra: o secretário de Imprensa da Presidência está dizendo que esse apreço de VEJA pela moralização não é bem-vindo. Ele dispensa o apoio da revista a esse aspecto da atuação da presidente. Resta saber se o faz ou não em nome dela.
De novo: a tolice num velho é tão insuportável quanto a gravidade numa criança. VEJA atua “no ramo” do jornalismo — e é assim que colaborou para que muitos milhões de reais, bilhões talvez, que pertencem aos brasileiros fossem preservados da sanha da súcia. Este escriba já apontou aqui o arrefecimento do ânimo moralizador da presidente — para o mal do Brasil. Dá para entender por quê. Leio os três tuítes do secretário de Imprensa da Presidência como uma espécie de emblema da sabotagem do esforço moralizador empreendido até agora.
Sabotadores devem ser demitidos. Mas isso é com Dilma. Ao escolher seus assessores, escolhe também um destino. Se ele fica, então fala em nome dela.