Sabesp, iFHC e dejetos
A Sabesp repassou R$ 500 mil, por meio da Lei Rouanet, ao iFHC para a digitalização do Acervo Presidente Fernando Henrique Cardoso. Aqui e ali, está merecendo o tratamento de grande escândalo. Josias de Souza chamou a coisa de “mamata”. Para ser rápido: sendo por lei de incentivo, trata-se de renúncia fiscal. A Folha e […]
Aprovada pelo governo Lula por quê? Porque a concessão de créditos para a lei de incentivo depende da aprovação do Ministério da Cultura. A Sabesp investiu na área cultural, por meio da Lei Rouanet, R$ 5,7 milhões em 22 projetos. A petralhada infestou o blog: “Você não vai falar disso? Vai esconder o fato?” 1) Falo do que eu bem entendo; não sou pautado por petistas; 2) quem tem de informar que o projeto tem a aprovação do Ministério da Cultura são a Folha e Josias; 3) eu sou contra, sim, o financiamento. Eu sou contra a Lei Rouanet e a Lei do Audiovisual. Eu sou contra leis de incentivo à digitalização de arquivos, filmes, maracatu, escola de samba, circo, feijão, sapato, farofa , eletroeletrônicos etc e tal.
Escreve Josias: “A Sabesp, como se sabe, deveria ter suas atenções voltadas para a melhoria da malha de saneamento básico do Estado de São Paulo. Algo muito distante das atividades desenvolvidas pelo iFHC.” Não sei por que o verbo está no futuro do pretérito. A empresa é, sabidamente, uma das mais eficientes e competentes do país. Ele muda o tempo do verbo, e obterá a minha concordância.
Vai ser ótimo. A Petrobras passará a se dedicar à prospecção e refino de petróleo, em vez de financiar cineastas que não têm público, mas têm verba; o Banco do Brasil passa a cuidar de oferecer crédito em vez de financiar a revolução cultural do petismo. Em favor do iFHC, diga-se: ao menos faz um trabalho realmente sério. Quem conhece o instituto — sim, eu conheço — sabe disso. E nem por isso defendo o financiamento. Mas ele é tão legal quanto o feito por estatais federais em projetos semelhantes. Certamente é o iFHC é mais produtivo do que a ONG Unitrabalho, de Jorge Lorenzetti, o “aloprado”. Não confundir isso, por exemplo, com a injeção de R$ 10 milhões da Telemar — de que o BNDES é sócio — na Gamecorp de Lulinha.
Tentar transformar em escândalo o que escândalo não é, como fazem os petralhas, é mera covardia oportunista. Curioso é que, recentemente, os artistas estiveram em Brasília numa romaria patética, em busca de perenizar privilégios, e não se leu — exceção feita a este blog, até onde vi — um só muxoxo de reclamação. Não é politicamente correto afirmar que ator de teatro tem de conseguir dinheiro é vendendo ingresso. Mas é politicamente simpático trabalhar com informações pela metade para tentar repisar a velha tese de que todos são iguais.
Vai aqui uma metáfora vazada em linguagem infantil: quem é maricas ataca só o dinheiro repassado ao iFHC. Quem é macho pede é o fim da Lei Rouanet e da Lei do Audiovisual. O mais saboroso dessa história, o que me deixa muito à vontade para responder à patrulha, é que não saquei essa da algibeira para “defender FHC”. Sou contra a lei faz tempo. Mas não esperem de mim que conclua que “todos eles são iguais” só para contentar a canalha. Não são, não.