RONALDO PODE SE PREPARAR PARA A GRITARIA
Eis o jogador Ronaldo, na sabatina da Folha, falando sobre seu filho. Comento em seguida: “Ele [Ronald] é uma criança doce, que não fala palavrão, é educado. É praticamente um europeu”, disse o jogador, que logo em seguida ouviu alguém na platéia gritar: “É brasileiro”.“Sim, ele é brasileiro, tem passaporte brasileiro”, disse Ronaldo, que também […]
“Ele [Ronald] é uma criança doce, que não fala palavrão, é educado. É praticamente um europeu”, disse o jogador, que logo em seguida ouviu alguém na platéia gritar: “É brasileiro”.
“Sim, ele é brasileiro, tem passaporte brasileiro”, disse Ronaldo, que também é pai de Maria Sophia, filha de Bia Antony.
“Mas eu prefiro que ele tenha amiguinhos europeus do que amiguinhos brasileiros. Os brasileiros são muito malandros”, afirmou.
Diante da afirmação, o colunista da Folha Clóvis Rossi, mediador da sabatina, perguntou se a declaração não poderia ser considerada racista.
“Não, acho que é a realidade. A gente não queria que fosse assim. Esta diferença é uma realidade, e, se posso escolher, prefiro que meu filho tenha uma educação europeia”, disse.
Ronaldo também afirmou que o filho joga nas categorias de base do Real Madrid e que tem como companheiros de time outros filhos de atletas ilustres.
“Ele joga com o filho do Zidane, o filho do Raúl, o filho do Cannavaro, mais os filhos de outros grandes jogadores de que não me lembro o nome. Imagine o treinador para tirar alguém desse time”, brincou.
Comento
Ronaldo não poderia ser considerado “racista” porque “brasileiro” não é raça. Um tanto preconceituosa, sem dúvida, a declaração foi pelo caráter generalista: brasileiros seriam mais malandros, europeus, menos. É bem possível que as porcentagens de brasileiros e europeus honestos e malandros sejam as mesmas. Mas que se reconheça: em boa parte dos países europeus, a safadeza é menos premiada do que por aqui, não é mesmo? Tal constatação nada tem de preconceito. É um pós-conceito mesmo. É um fato.
É claro que vão encarnar em Ronaldo. Lembro que ele já apanhou bastante quando se referiu a manifestações preconceituosas de torcedores europeus contra jogadores negros. Ele condenou os torcedores e se solidarizou com os negros, não se incluindo entre eles. As Falanges do Politicamente Correto logo se levantaram: “Ronaldo não se reconhece como negro”. Ora, não se reconhece porque não é. Ronaldo é mestiço, como é visível.
Reconheço, serenamente, o que há de verdadeiro e de falso na sua declaração sobre a malandragem e saúdo a sua nonchalance com essa patrulha estúpida do politicamente correto, para a qual dá de ombros. Já morreu e renasceu tantas vezes, que literalmente não dá bola para o que dizem dele. Esteve com Lula há dias, numa dessas patetadas de políticos brasileiros com o futebol, mas não se deixou contaminar pelo patriotismo bocó.
Ronaldo, é provável, nem sabe o que acontece exatamente na Petrobras e por que alguns querem fazer CPI, e outros, não. Considerando o que disse sobre a malandragem, intuo que não considerasse a comissão antipatriótica se estivesse informado a respeito. Talvez até dissesse: “Na Europa, seria diferente…”
Que o jogador se prepare. As Falanges já estão assanhadinhas