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Reinaldo Azevedo

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Renan e Lupicínio

Não brinca! O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) se disse hoje contrário ao voto aberto no Senado. Ai, ai. Vocês sabem que esta é uma questão um tanto penosa pra mim. Porque reconheço as virtudes do voto secreto. Mas também disse por que passei a defender o contrário: larápios resolveram se aproveitar de um instrumento da […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 20h22 - Publicado em 26 set 2007, 17h26
Não brinca!

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) se disse hoje contrário ao voto aberto no Senado. Ai, ai. Vocês sabem que esta é uma questão um tanto penosa pra mim. Porque reconheço as virtudes do voto secreto. Mas também disse por que passei a defender o contrário: larápios resolveram se aproveitar de um instrumento da democracia para solapar a vontade democrática. É o pior deste arranjo renanzista-petista: o rebaixamento das instituições. Leiam a fala do homem:

“O que o poder político não vai fazer com relação à pressão para que a pessoa vote de determinada maneira? Imagina uma corporação votando o julgamento de um membro da corporação no voto aberto. O que é que setores da mídia não vão fazer para que a pessoa vote daquela maneira? Então, o voto secreto é uma conquista da democracia. O voto secreto existe para proteger as pessoas da pressão do poder político e do poder econômico. E também hoje de setores da própria mídia. O voto secreto existe para isso, porque senão as pessoas votarão pressionadas”.

Se formos limpar a fala de Renan do que há nela de cínico e falsos pretextos, resta uma coisa apenas: ele não quer é a “mídia” vigiando os senadores. Ela, sim, é sua real adversária. E a todos está claro, creio: a unção da imprensa como inimiga do poder — e, pasmem!, da democracia — é uma das vistosas obras do petismo. A tese original é de José Dirceu, ganhou dimensão teórica com Marxilena Oiapoque e Wanderley Guilherme dos Santos e, finalmente, foi instrumentalizada pelo vaqueiro Renan Calheiros.

É verdade que os senadores ficam expostos às pressões do Executivo em votações abertas. Mas passei a considerar mais desejável uma pressão explicita do que aquela que se dá nos corredores e gabinetes do Senado — onde, sabemos, tudo pode acontecer em matéria de (falta) de decoro.

Se Renan tivesse limites, abster-se-ia de comentar o caso por razoes óbvias. Mas não tem. Ao mandonismo provinciano de que é herdeiro, juntou a tática petista de eleger a imprensa como inimiga, conjunto que parece ter-se casado muito bem com uma desconfiança que tenho a seu respeito, de fundo psicanalítico: ele não tem superego. Por alguma razão, a repressão que cabe à figura masculina, paterna, falhou no seu caso. Renan não pode cantar com Lupicínio Rodrigues: “E a vergonha é a herança maior que meu pai me deixou”. Ainda que o pai tenha deixado.

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