Raduan Nassar, autor de dois grandes textos, sai da reclusão para dizer e escrever asneiras
Tenho amigos que acham “Lavoura Arcaica” e “Um Copo de Cólera” duas empulhações. Não é a minha opinião. Já as considerações jurídicas do autor são uma coleção de asneiras
Tenho amigos respeitáveis que acham Raduan Nassar, autor de “Lavoura Arcaica” e “Um Copo de Cólera”, um falso bom escritor. Não é a minha opinião. Penso que são dois grandes textos. E não deixa de ser curioso pra mim. Não costumo gostar muito dessa conversa de “prosa poética”, feita de uma cascata de soluços metafóricos. Mas há nos dois casos uma apreciável coleção de achados.
Existem escritores de um só livro que preste? Existem, sim. Raduan pode ser o de dois. Até porque parou de escrever. E antes tivesse mesmo parado pra sempre, abstendo-se também de dar opiniões cretinas sobre assuntos dos quais nada entende.
Circula um texto seu em defesa da presidente Dilma, em que acusa o Supremo de ser conivente com o que considera “golpe”. Num dado momento, escreve isto (em vermelho):
Uma pergunta: por que o mesmo tribunal não julgou até agora o presidente da Câmara dos Deputados? Está lá como réu desde janeiro do ano em curso. Daí que, ressalvadas as respeitáveis exceções, seria até o caso de se afirmar que o STF, que inclui alguns ministros apequenados, propiciou por “omissão” o golpe de domingo/17.04.2016, levado a cabo na Câmara, em grande parte, por uma quadrilha de cleptomaníacos.
Trata-se de um notável amontado de asneiras. A ilação só faria sentido se um mesmo tribunal tivesse sido célere no caso Dilma e procrastinador no caso Cunha. Acontece que Dilma não vai ser julgada pelo STF. Mais: as ações contra o presidente da Câmara tramitaram na Procuradoria-Geral da República com muito mais celeridade do que as que envolvem outros políticos. Tanto é assim que Cunha é o ÚNICO RÉU da Lava-Jato com foro especial.
Raduan não está apenas falando uma bobagem técnica. Está, dado o propósito do texto, mentindo, como se houvesse uma decisão do tribunal para punir Dilma e proteger Cunha.
É triste! O autor de dois clássicos da literatura contemporânea deveria ter continuado recluso. É de lastimar que a ideologia o tenha feito romper o silêncio, manchando não aqueles dois textos, que seguem, a meu ver, incólumes, mas a sua biografia.
Não fica bem defender uma presidente que cometeu e está a cometer ainda crime de responsabilidade.