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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Querem me excomungar? Tá bom. Mas digam ao povo que fico

Fico muito grato àqueles que resolveram me ameaçar com a excomunhão por causa do que escrevi sobre a pesquisa com células-tronco embrionárias. Só provam uma coisa que sei há muito tempo: a burrice não é exclusividade das esquerdas, é claro. Eu só as combato com mais freqüência e decisão porque elas são bem mais influentes. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 19h49 - Publicado em 2 mar 2008, 08h54
Fico muito grato àqueles que resolveram me ameaçar com a excomunhão por causa do que escrevi sobre a pesquisa com células-tronco embrionárias. Só provam uma coisa que sei há muito tempo: a burrice não é exclusividade das esquerdas, é claro. Eu só as combato com mais freqüência e decisão porque elas são bem mais influentes. Geralmente, os burros de direita são tão irrelevantes, além de poucos, que nem combate merecem. Um burro direitista, por exemplo, não vai entender esta última frase como um elogio à direita inteligente.

Um dos motivos por que (é separado nesse caso, tá?) a esquerda avança tanto e acaba se confundindo com o “progresso” é que os seus adversários acabam caindo como patos nas suas ciladas — e, quase sempre, falando besteiras. Esse embate sobre células-tronco embrionárias é mais um exemplo. Já volto a ele. Trato antes de um outro. Ah, sim: quem tá falando em excomunhão já tomou o Trono de Pedro?

Vamos ao outro caso. Cansei de ler textos, muitos me chegaram pela Internet, tentando provar que a camisinha não é um método seguro para evitar o contágio de doenças sexualmente transmissíveis ou a gravidez. É de uma tolice e de uma contradição formidáveis. E quando se fizer, então, a camisinha 100% eficiente? Aí pode? Ora, mas a questão não era de princípio?

Pois é. Para mim, continua a ser de princípio. Acho as campanhas sobre uso da camisinha erradas e contraproducentes não porque duvide da sua eficiência, mas porque elas tomam o lugar que deveria estar reservado a um primado moral, individual. Santo Deus! Pensar também é um exercício. Aprende-se pensando. Caso se firme uma ética segundo a qual o sexo casual, entre pessoas desconhecidas, feito como quem toma um uísque ou diz boa noite, é um padrão aceitável (e, mais do que isso, normal), então, com ou sem camisinha, está-se dando uma contribuição formidável às doenças sexualmente transmissíveis. E a razão é simples e até aborrecida: feita a opção pelo sexo casual, faz-se. Com ou sem camisinha.

Será que fui claro? Não se deve ser contra a campanha da camisinha por, sei lá eu, fetichismo ou ineficiência do método, mas porque essa propaganda nos impede de fazer o debate moral: O ÍNDIVÍDUO ESCOLHE TRANSAR. E, se escolhe, tem de responder por sua escolha. Entendo eu que a questão da Igreja Católica está posta neste ponto. Ela entende — e tem todo o direito de entender — que o sexo deve ser monogâmico e jamais casual. A questão da camisinha é absolutamente secundária. Mas a ela se apegam os detratores boçais da Igreja e certos carolas idiotas. É evidente que o sujeito deve usar camisinha se for fazer sexo de risco. A Igreja se opõe é ao sexo de risco; a igreja se opõe é ao método de prevenção tomando o lugar de uma moral.

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Qual é a chance de o ministro José Gomes Temporão entender o que estou escrevendo? Zero.

De volta às células
Talvez eu pudesse ter sido mais claro. Então vou tentar. Se me fosse dado votar num foro mundial, seria contrário à manipulação de células embrionárias. Motivo: estão efetivamente postas as possibilidades de se tentar fazer (sem conseguir), sei lá eu, o homem perfeito. Eu gosto do humano com todas as suas precariedades. Brinquei aqui outro dia, sem querer parecer frívolo, que talvez não houvesse poesia romântica com o Prozac… Gosto das pessoas imperfeitas, gosto de seus defeitos também, gosto de seus problemas, de seus dilemas. Não tem jeito: os que se sentem na condição de inquisidores podem tentar me excomungar, mas eu gosto de humanos que pecam, embora possa repudiar os seus pecados.

Ah, não. Continuo a me opor ao aborto, à eutanásia, à indústria da morte que tentam vender como caminho de nossa liberdade e de nossa redenção. Mais do que isso: defendo o direito que a Igreja Católica tem de dizer o que pensa, sem meios-tons, subterfúgios e ambigüidades. Ela já conseguiu algumas conquistas importantes nessa área: os códigos, no plural mesmo, que estão sendo debatidos para tratar das experiências genéticas têm a marca indelével das preocupações propostas pelos cristãos como um todo — e pelos católicos em particular.

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O Brasil vetará aqui a pesquisa com células-tronco embrionárias, quando ela já é uma realidade em boa parte do mundo, em nome dos princípios? Pois bem. A mesma sociedade de mercado que garante a nossa liberdade — e acreditem: garante — encontrará meios de driblar a proibição, aí fora de qualquer controle e de qualquer código de ética, já que estaremos falando, então, de clandestinidade.

A firmeza tem de ser serena, não paranóica. Comparar os embriões congelados ao aborto corresponde a recorrer a um mecanismo que vejo muitas vezes em juízos da esquerda a mais tosca: “é tudo a mesma coisa”. Para que fosse, seria forçoso admitir que o ventre materno — e talvez eu não precise me alongar sobre a condição sagrada deste lugar — é dispensável nas precondições que tornam a vida do homem inviolável, porque divina. Não interfira na concepção, e ali está o humano. Pode-se dizer o mesmo dos embriões congelados de três ou quatro dias que estão congelados? Dilemas éticos supõem desdobramentos práticos: alguém, por acaso, lhes dará honras fúnebres cristãs quando forem descartados.

Então, não me venham dizer que é tudo a mesma coisa… A rigor, duas coisas jamais são a mesma coisa, não é mesmo? Ou não seriam duas, mas uma. Ninguém me chamou pra votar. Num suposto foro mundial, meu voto estaria dado. O mundo que temos é o mundo que, humanos, fizemos, com todas as suas precariedades e dificuldades. A cada momento, os homens de princípio são chamados a arbitrar, a escolher, a tomar posições.

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A esquerda sempre se diverte quando “os conservadores”, sob o pretexto de assumir posições de principio, ignoram a realidade e vivem suas boas certezas como se fossem uma maluquice sectária e minoritária. Eu não gosto das pesquisas como uma questão de princípio. Mas elas são um dado da realidade. Temos, os cristãos, a obrigação de lutar para disciplinar a realidade. Do contrário, eles farão o que lhes der na veneta. E sem a nossa intervenção.

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