Quem falhou em seu sacerdócio, doutores?
A OAB condenou a divulgação do conteúdo do bate-papo entre dois ministros durante a sessão de ontem no Supremo. Comparou-a a um grampo ilegal. Claro que o caso dá um bom debate. E sou o primeiro a admiti-lo. O Supremo é um ambiente público de uso restrito. Tem uma finalidade prevista em lei. Por exemplo: […]
Claro que o caso dá um bom debate. E sou o primeiro a admiti-lo. O Supremo é um ambiente público de uso restrito. Tem uma finalidade prevista em lei. Por exemplo: a UNE, o MST e a Educafro não podem acampar lá dentro. O ministro Eros Grau defende que se faça isso na Faculdade de Direito da USP, mas não deve querer o mesmo para o tribunal, suponho…
E para que serve o lugar? Entre outras coisas, para aquele evento que lá se viu. Tudo o que acontece numa sessão pública, num ambiente público, é, em princípio, de interesse do público. Os 11 ministros do Supremo não ignoram os meios hoje disponíveis para captar informações. Ninguém entrou na sala com uma câmera secreta ou algum instrumento ilegal para interceptar mensagens. As telas estavam expostas. Que eu saiba, um ministro do Supremo não pode prejulgar ou combinar voto. Ou pode? Isso, sim, deveria deixar a OAB constrangida.
Quem faz sexo em praia pode parar no Youtube? Ah, pode. Porque a praia é pública, e quem opta pela prática expõe-se ao risco, que não pode ser ignorado. Ministro que se dedica a uma atividade paralela, SEMPRE SABENDO QUE ESTÁ SENDO OBSERVADO, durante uma sessão do Supremo, pode virar notícia? Pode. Assim como quem, em ambiente público, dá um “top, top”.
Queriam o quê? Os dois ali, no lero-lero, a máquina fotográfica ali também, e o fotógrafo a caçar borboletas, a pensar na morte da bezerra? Ele capta a imagem, os ministros estão falando do processo, antecipando os próprios votos e o de terceiros, tratando da sucessão no Supremo, afirmando que há uma “troca” em curso, e o que faz o jornalismo? Guarda o que sabe para si? Com que direito?
Não houve armação nem armadilha. Não houve campana. Não houve recurso a qualquer meio ilícito. O profissional de O Globo apenas usou, no limite do possível, os recursos de que dispunha, que não eram ignorados pelos ministros. Se um deles estivesse tirando catota do nariz, admito, seria irrelevante informar o caso numa página de política. Não diz respeito ao processo. Agora, houvesse lá um repórter de etiqueta, informar seria uma obrigação. A razão é e simples: não é decoroso tirar catota do nariz em público.
A OAB está errada. Está misturando tudo. O sacerdócio do jornalismo é divulgar o que sabe e apura por meios lícitos. E os meios foram lícitos. O sacerdócio do juiz é não julgar fora dos autos e não prejulgar.
Quem falhou em seu sacerdócio, doutores?