Quando o Estadão anunciou a nova era glacial
Era um domingo. 30 de junho de 1974. O Estadão tornava menos tranqüila a macarronada. Não havia dúvida. Os cientistas haviam descoberto o que os humanos comuns ignoravam em sua inocência: “A Terra caminha para a nova era glacial”. Para sustentar o texto principal, um outro, detalhando um aspecto da matéria geral: “Os invernos serão […]
1) Há sempre um cientista maluco ligado a um empresário ambicioso querendo brincar de Deus;
2) O cientista maluco faz isso porque sua ciência não tem ética, entendem? E o empresário porque quer lucro. Vocês sabem como são os empresários… É uma gente que não é de confiança. Não fossem os comunistas para nos salvar, a gente já teria sido posto num saco por algum andarilho e virado sabão, como nas histórias de terror infantil;
3) Há sempre um cientista ético combatendo o cientista que pensa que é Deus;
4) Alguns morrem. Mas, no fim, o mundo é salvo pelos éticos, e o cientista herói dá um beijo na loura.
Não estou em campanha contra o “aquecimento global” — ou melhor, eu também sou contra o aquecimento. Só estou combatendo uma estrutura mental. Essa reportagem do Estadão está num site chamado Metsul Meteorologia (clique aqui) . Lê-se lá:
“O Estado de S. Paulo, para complementar a reportagem de 1974 (…) valeu-se da opinião do pesquisador Giorgio Giacaglia, Diretor do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (IAG/USP). O Diretor do IAG da USP publica uma síntese dos seus estudos com conclusões muito interessantes tanto para a época como para os dias atuais e que vieram a se confirmar por estudos realizados nos últimos dez anos mediante a reconstrução por modelos do clima do último milênio. O pesquisador chama a atenção para o aquecimento iniciado ainda no século XIX e que se prolongou na primeira metade do século XX, sendo seguido pelo resfriamento a partir de 1945 e que até aquele momento (em 1974) perdurava. A Oscilação Decadal do Pacífico sequer havia sido descoberta, mas o padrão constante da oscilação já estava identificado no trabalho do pesquisador da USP. A PDo apenas viria a ser constada por Steven R. Hare e Yuan Zhang em estudo de 1997, portanto 33 anos depois.” O texto é do meteorologista Eugenio Hackbart, que tem um blog tratando de assuntos do clima (clique aqui).
Não estou comprando a versão de ninguém. Só estou deixando claro, mais uma vez, que o debate tem de ser ampliado.