Primeiro de Maio: o samba-do-crioulo-doido das centrais
Há coisas que não entram na cabeça de Tio Rei, e talvez ele morra, tadinho, como o último ortodoxo. Fazer o quê? Um homem tem direito a cultivar certas convicções, mesmo que em solidão. Por exemplo: marcha da maconha. Ele acha que não pode e que isso fere a lei. Juízes em Salvador, Cuiabá e […]
As três principais centrais vão gastar R$ 6,5 milhões na festança de hoje. Há um rapaz, André Guimarães, que é identificado como “marqueteiro” de festa de central. Já fez sete para a Força, informa a Folha, quatro para a CUT e agora migrou para o Salgueiro — quero dizer, para a UGT (central sindical que resultou da fusão de CGT, SDS e CAT). O valente “Paulinho da Força” (ver abaixo notícias sobre a quadrilha do BNDES) vai sortear no evento sob o seu comando dez carros zero-quilômetro e cinco apartamentos. Não é pra menos. Patrocinam o seu desfile — “O Sindicato das Minas de Ouro do Rei Paulão no Reino Encantado da Banânia, baticumbum , Olerê” — a CEF, a Petrobrás e a Eletrobrás, que também deram dinheiro às outras duas centrais. Além das empresas públicas, ajudam a pagar os custos da festa na praça Campo de Bagatelle (zona Norte) a Telefônica, a Brahma e a Bovespa.
Já os desfiles da CUT — “O Socialismo do Tontons-MaCUTs do Papa Lula na Banânia Encantada” — vão se acontecer no autódromo de Interlagos (Santo Amaro), em São Bernardo (paço municipal), em Guarulhos e no Centro de Tradições Nordestinas (zona norte). Além das estatais, dividem os custos os seguintes patrões — quero dizer, patronos: AmBev, Telefônica, Nestlé, Braskem, empreendimento Bairro Novo e Embraer.
Informa a Folha: “A Caixa Econômica Federal deu R$ 630 mil para as três centrais -R$ 300 mil para a CUT, R$ 200 mil para Força e R$ 130 mil para a UGT- para várias ações de cidadania e festas, segundo a instituição. A Petrobras informa que é ‘tradicionalmente patrocinadora dos eventos relacionados ao Dia do Trabalhador’ e neste ano concedeu R$ 800 mil a três centrais -CUT (R$ 400 mil para quatro ações paralelas ao 1º de Maio), Força (R$ 250 mil) e UGT (R$ 150 mil). A Eletrobrás também patrocinou a festa da UGT com R$ 100 mil, segundo informa a central.”
Isso não é festa de Primeiro de Maio, mas samba-do-crioulo-doido. Eu acho legítimo haver empresários no mundo — mais do que legítimo: são necessários. Como também é legítimo que haja trabalhadores — idem. Mas trabalhador é trabalhador. Empresário é empresário. Aquele, como categoria, se organiza para custear as suas festas. E estes outros fazem o mesmo. As centrais já se juntaram para bater a carteira dos trabalhadores com o Imposto Sindical Obrigatório, sobre o qual não terão de prestar contas a ninguém. É o único imposto do Brasil cuja aplicação não passa pelo crivo do controle público.
Essas festas, com esse caráter, são apenas o emblema da nova classe social que se formou e chegou ao poder. E lá se aboletou, dividindo as benesses. Tivesse ao menos gerado um novo saber, vá lá. Mas olhem a contribuição efetiva da República Sindicalista — e acrescentem aí seu braço financeiro, os fundos de pensão — para a democracia e a transparência…