Preguiça, ignorância ou má fé
Muito interessante. Os cretinos da ordem petralha que enviam e-mails para cá tentam ser sagazes fingindo que se esforçam pra ser justos. E então indagam: “Ah, é só no governo petista que há sacanagem? Quer dizer que, no governo FHC, nunca houve nenhuma irregularidade? Era um paraíso?” Não parece uma indagação razoável, dessas que poderiam […]
Os cretinos da ordem petralha que enviam e-mails para cá tentam ser sagazes fingindo que se esforçam pra ser justos. E então indagam: “Ah, é só no governo petista que há sacanagem? Quer dizer que, no governo FHC, nunca houve nenhuma irregularidade? Era um paraíso?”
Não parece uma indagação razoável, dessas que poderiam ser feitas por jornalistas inteligentes como Elio Gaspari e Clóvis Rossi? É, parece, sim. Mas nada mais estúpido do que isso — quiçá imoral.
Quer dizer que é preciso que um adversário do PT seja imaculado para que se possa, então, com justeza, atacar as falcatruas petistas? Houve bandalheira nos governos anteriores? Houve, sim. Que eu tenha visto, o jornalismo não se encarregou de justificá-las. Que eu me lembre, ninguém dizia: “É, isso está errado, mas os petistas também não são santos”. E a imprensa agiu bem naquele tempo. Não fazia mesmo sentido justificar o erro dos que estavam no poder com os erros de quem não estava. Imoral é a sabujice de agora, essa mania estúpida — e muito petista — de justificar o que há pelo que houve — e, em alguns casos, como deixarei ainda mais claro, não houve nada: a “privataria” é uma ficção, uma mania, um, como já disse alguém, “facilitário”.
Afirmar que o PT copia a corrupção do PSDB, como fez Clóvis Rossi, faz supor que aos novos mandatários faltaram imaginação e moral própria para acabar com ela. Isso é uma teoria política? Tá bom: e os tucanos? Teriam copiado de quem? Dos militares? E os militares? Da geração pré-1964? E a geração pré-1964? Chegaremos à colônia? Vamos mesmo transformar a safadeza num destino, numa teoria da história?
Não, senhores! A corrupção petista merece ser vista na sua dimensão fenomenológica; tem a sua própria genealogia: merece uma descrição essencial diferente de tudo o que houve antes. Ela pretende ser algo mais do que uma derivação teratológica do mundo dos negócios: ela quer se constituir como uma nova moral. Sim, é verdade, do ponto de vista puramente empírico, as coisas não mudam desde Cabral: há sempre um vagabundo tentando obter benefícios indevidos na contramão do aparato legal. Mas ou se busca entender quais são os atores de agora e como eles operam, ou terminaremos todos com aquele niilismo dos falsos sábios, que igualam os desiguais.
Quais são os atores de agora? As grandes calamidades morais do Brasil ainda passam pelas estruturas antes chamadas patrimonialistas, fundadas em estruturas regionais de poder, simulando uma disputa entre feudos? É óbvio que não. A “acumulação primitiva do capital” petista está nos fundos de pensão, nas organizações sindicais, nas estruturas militantes criadas pelo partido. Elas é que definem os ganhadores e perdedores. E, saibam, o negócio da Oi com a Brasil Telecom só não saiu até agora porque os fundos ainda não se consideram devidamente recompensados.
O Brasil não é mais administrado por aquilo a que já se chamou “governo central”. Quem governa o país é o estado paralelo petista. Este é o fenômeno cuja essência o jornalismo áulico, mesmo quando se finge de crítico, tenta ignorar. E isso não tem exemplo no passado, nem no governo tucano nem em governo nenhum.
Ignorar a novidade é preguiça, ignorância ou má fé.