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Reinaldo Azevedo

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Pour épater le bourgeois

É chato ter de explicar que é evidente que defendo o direito que as pessoas têm de se organizar e se manifestar contra leis que consideram injustas. “Ou a sociedade não avança”, dizem-me alguns. Eu, por exemplo, defendo o direito que os pais têm de brigar pelo ensino do criacionismo nas escolas — desde que […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 19h35 - Publicado em 30 abr 2008, 23h45
É chato ter de explicar que é evidente que defendo o direito que as pessoas têm de se organizar e se manifestar contra leis que consideram injustas. “Ou a sociedade não avança”, dizem-me alguns. Eu, por exemplo, defendo o direito que os pais têm de brigar pelo ensino do criacionismo nas escolas — desde que na aula de religião, não na de biologia; desde que um não seja posto no lugar do outro. Usar Darwin para negar a religião é uma estupidez. E o contrário, idem. Uma das minhas filhas faz um curso de religião — por opção. A outra não se interessa pelo assunto. Cobro de ambas um bom desempenho em Ciências.

No caso da maconha — como este assunto dá trabalho!!! —, reivindica-se para o país uma mudança da legislação que, a rigor, já foi mudada. A Lei Antidrogas, é fato, não é opinião, já não prende mais o usuário. O que se está pedindo, na prática, é para que o tráfico deixe de ser crime, transformando-se em venda normal — e, aí, acreditam, o crime se extingue por mero ato administrativo. Já respondi a essa proposição. As ações criminosas só mudariam de ramo.

Pessoalmente, acho que é escarnecer da sociedade pedir a legalização — impossível, já disse — de uma prática que responde, quero crer, pela larga maioria dos homicídios que acontecem no país; que encarece enormemente os serviços de segurança pública, que cobra do cidadão comum — como sempre, mais ainda dos pobres — uma conta altíssima. Aí me provoca um leitor: “Você mesmo assinou uma carta contra as cotas, que estão virando leis no país”. Assinei. Se o princípio for parar na Constituição, continuarei a lutar contra e a me manifestar. “Então qual é a diferença?”

Imensa! Trata-se de garantir um princípio básico das sociedades civilizadas: a igualdade perante a lei. Mesmo os que hoje defendem a legalização do aborto, a que me oponho também, devem se manifestar sem qualquer forma de ação coercitiva do estado. Em primeiro lugar, inexiste a lei criminalizando a apologia do aborto — no caso das drogas, há —; em segundo lugar, não estamos falando de uma prática, por mais condenável que seja, que afronta direitos coletivos.

De resto, sempre acho um tanto engraçado quando, vamos dizer, os burgueses e pequenos-burgueses inventam uma causa “pour épater le bourgeois”. Convenham: que dificuldade encontra quem está decidido, hoje, a fumar maconha? Que benefício a legalização traria ao consumidor decidido, que, hoje, já se importa pouco com as restrições legais? O máximo que se veria — SE O BRASIL PUDESSE LEGALIZAR SOZINHO, A CONTRAPELO DO MUNDO — seria uma expansão do consumo, também entre aqueles que não estariam dispostos, de outro modo, a confrontar a lei. Houvesse aí uma causa, seria mundial. E a sabedora acumulada em todo mundo, até hoje, parece não ter tido a iluminação dos nossos libertários.

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E, para aqueles que dizem não se tratar de apologia, basta visitar a página eletrônica da tal marcha. Já estão vendendo até camisetas. Não me venham dizer que essa gente conhece o flagelo social da droga nas periferias e morros do Brasil. Não conhece, não. Lamento dizer, mas o que parece a luta por um direito é, entendo, só uma das faces de uma alienação que tem um pé na crueldade.

PS: Estou publicando comentários de muita gente que discorda de mim. Só veto os malcriados, maconheiros ou não, e aqueles que dizem fumar maconha há 20 anos e ser muito bem-sucedido na vida. Como eu vou saber? Eu, por exemplo, conheço gente que se deixou destruir pela droga. Exemplos dessa natureza, de um e de outro lado da peleja, são só proselitismo. Um médico, meu amigo, especialista na área, diz que a sabedoria técnica firmada a respeito indica que as drogas nunca fazem bem, raramente são inócuas e freqüentemente são um desastre na vida do consumidor. Querer transformá-las, assim, num “jeito de corpo”, numa coisa corriqueira, como quem diz “hoje é quarta-feira”, é um crime não previsto em código legal: é um crime moral.

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