Por que não um papa húngaro? Ou: O “último papa” e a profecia de São Malaquias
Mais da metade do colégio cardinalício que vai escolher o novo papa é formado por europeus: seriam 62 dos 118 com direito a voto. Só participam do Conclave os cardeais com menos de 80 anos. Dois deles, ou três (a depender do dia de março em que se escolha o novo Sumo Pontífice), devem alcançar […]
Mais da metade do colégio cardinalício que vai escolher o novo papa é formado por europeus: seriam 62 dos 118 com direito a voto. Só participam do Conclave os cardeais com menos de 80 anos. Dois deles, ou três (a depender do dia de março em que se escolha o novo Sumo Pontífice), devem alcançar esse limite antes da decisão, o que reduz o colégio eleitoral a 116 (ou 115). Keith O’Brien, com 75 anos, acusado de assédio sexual, já anunciou que não participará — um a menos.
Será uma surpresa para o buliçoso mundo dos boatos e das especulações, mas não para o da Igreja, se o escolhido for o arcebispo de Esztergom-Budapeste, Peter Erdo, de 60 anos. Teve uma ascensão meteórica na Igreja, fala sete idiomas e tem dois doutorados em teologia, a exemplo do Italiano Angelo Scola, hoje apontado como favorito, mas com 10 anos a mais.
Erdo presidiu por seis anos, até 2012, o Conselho das Conferências Episcopais Europeias, quando estabeleceu uma sólida ligação com a Igreja Católica da África, que tem 11 votos no colégio de cardeais. Em 2009, foi indicado por Bento XVI para o Pontifício Conselho para a Cultura, órgão criado em 1993 por João Paulo II. Trata-se justamente do canal aberto pela Igreja para dialogar com o chamado mundo moderno, mas sem o risco de perder sua identidade.
Entre os papáveis, Erdo é certamente o mais solidamente “conservador” — entenda-se, por isso, defensor dos fundamentos que orientam a Igreja em matéria de doutrina. Os caçadores de conspirações o apontam como o nome preferido pelo Opus Dei por ter recebido da Universidade de Navarra, ligada ao movimento, o título de doutor honoris causa. Em 2011, o Vaticano o enviou para a Pontifícia Universidade Católica do Peru, cujo comando desafiava abertamente a autoridade da Igreja.
Erdo conta com a estima e a admiração de Bento XVI. Pesaria contra ele o perfil excessivamente intelectualizado e a suposta falta de carisma. No Vaticano, no entanto, despertou admiração o trabalho pastoral desenvolvido em Budapeste. Criou grupos de leigos que passaram a visitar regularmente lares formalmente católicos que andavam afastados da Igreja. Mantém ainda um diálogo bastante próximo com a Igreja Ortodoxa.
Os fascinados por profecias estão assanhadíssimos. Uma delas, atribuída a São Malaquias (provavelmente, uma farsa criada no século 16), anuncia que “Pedro (Peter?), o romano”, comandará o fim da Igreja Católica. Feitas as contas, esse líder no e do caos seria justamente o sucessor de Bento XVI. Há dois “Pedros” com chance efetiva de se tornar papa: além de Erdo, há o “Turkson” (ver post desta manhã). Com a Santa Madre, também seria destruída a cidade de Roma…
Bem… Vai ver São Malaquias estava antevendo a emergência na política italiana de tipos como Silvio Berlusconi e Beppe Grillo, essa mistura de Tiririca com Mussolini que dança tarantela.