Relâmpago: Assine Digital Completo por 1,99
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Política com um pouquinho de poesia. Ou: a fusão das oposições pode fazer desandar o poema. Ou: Aécio, Serra, Alckmin e Olavo Bilac

A esquerda da imprensa paulista está tão interessada em destruir Gilberto Kassab que não se dá conta  — e não faço juízo de valor, apenas registro um fato — da chacoalhada que ele deu no statu quo partidário brasileiro. Se será para o bem ou para o mal, vamos ainda ver — tendo a achar […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 11h59 - Publicado em 16 Maio 2011, 18h02

A esquerda da imprensa paulista está tão interessada em destruir Gilberto Kassab que não se dá conta  — e não faço juízo de valor, apenas registro um fato — da chacoalhada que ele deu no statu quo partidário brasileiro. Se será para o bem ou para o mal, vamos ainda ver — tendo a achar que será positivo —, mas o fato é que o partidos passaram a planejar o seu futuro a partir de uma realidade: o PSD.

Leitores me perguntam o que acho da notícia de hoje da Folha, segundo a qual o senador Aécio Neves (PSDB-MG) — que, no noticiário, aparece sempre no comando de um processo —  planeja fundir, em 2013, PSDB, PPS e DEM numa única sigla. Ainda segundo a apuração de Catia Seabra, Sérgio Guerra, o presidente dos tucanos, gostaria de ver isso acontecendo já.

Como não canso de ouvir por aí — para alegria daquela senhora que escreveu aquele livro alternativo de língua portuguesa —, “possa ser, possa ser…” Nota à margem: essa expressão deve provocar orgasmos na turma da sociolingüística alternatvo-esquerdopata. Afinal, quando um falante diz “pode ser”, expressa uma incerteza; já que o modo da incerteza é o subjuntivo, o “possa ser” seria ainda mais sábio, né? Que linda a verdade natural do povo!!! Não resisti à tentação de cutucar a “gramática diferenciada”… De volta à política.

“Possa ser”, mas não sei, não!

E se acontecer o contrário do que imagina, segundo a Folha ao menos, o senador Aécio Neves? Processos de fusão partidária também escancaram as portas para a mudança de legenda, não é mesmo? Qualquer democrata, tucano ou socialista do PPS pode alegar que a sua agremiação se descaracterizou. Se o governo Dilma estiver pelas tabelas em 2013, a fusão pode parecer uma boa idéia; se a oposição não tiver um nome que as pesquisas apontem como competitivo e se Dilma aparecer na liderança, a fusão pode é irrigar as forças do governismo.

Continua após a publicidade

Segundo a Folha Online, José Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não se entusiasmaram muito com a idéia, considerando-a precipitada. “Não é uma idéia que está posta. É uma discussão fora de hora”, teria afirmado o primeiro. “Eu respeito as idéias, eu  respeito o Aécio, mas é muito cedo para essa discussão”, considerou o segundo.

E como eu avalio a essência dessa proposta? Posso apelar a um soneto do injustamente maltratado Olavo Bilac, dizendo “A Um Poeta” como deveria ser um poema? Segundo ele, a receita é esta:

Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Continua após a publicidade

Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo que a imagem fique nua,
Rica, mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício.

Porque a beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

Continua após a publicidade

Voltei
Em algumas versões, omite-se aquela vírgula depois de “Beneditino”, transformando o vocativo em sujeito e os verbos na segunda pessoa do modo imperativo em terceira pessoa do indicativo. Acredito aqui na minha “Obra Completa”, com vírgula. Trata-se de um aconselhamento a uma jovem poeta; um “como fazer”. Mas essa minha observação é filha do tempo em que a professora Heloísa Ramos ainda não havia revolucionado a língua em busca de “uma vida melhor”. Adiante.

Há um mito de que a política mineira é como deve ser o poema do Beneditino, com “a forma disfarçando o emprego do esforço”, com a construção de “uma trama viva”, que, no entanto, parece simples e natural, sem jamais mostrar “os andaimes do edifício”.

Sendo mesmo essa a proposta de Aécio, conforme a noticia a Folha, tenho pra mim que há andaimes demais à mostra; que o “emprego do esforço” é “muito visível”; que a “trama viva” parece muito pouco natural. Uma coisa é uma fusão partidária resultar na escolha de um nome à Presidência; outra é escolher um nome à Presidência que requeira uma fusão partidária. Parece-me, por pouco natural, uma caminho bastante difícil. Há, isto sim, um risco de enfraquecimento da oposição.

Nesse caso, o poema sairia pela culatra.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

ECONOMIZE ATÉ 88% OFF

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.