PFL que vira PD. O que isso quer dizer?
A Executiva Nacional do PFL aprovou a mudança de nome do partido. O Partido da Frente Liberal passa a se chamar Partido Democrata. O ex-senador Jorge Bornhausen, sem mandato a partir deste ano, vai deixar a presidência e integrar um conselho. O partido diz que quer se organizar para disputar as eleições municipais de 2008 […]
Descarte-se, de saída, que o nome faça qualquer alusão ao Partido Democrata americano, por exemplo. É apenas uma coincidência. “Liberal”, nos EUA, quer dizer “esquerdista” para os padrões de lá. As transposições, pois, são impossíveis. Ou, parece, o mais adequado é que o PFL se tornasse aqui o “Partido Republicano”. Mas quem se diz “republicano” no Brasil é Valdemar da Costa Neto, com o seu PR… Jesus Cristo!
O nome “PFL”, com efeito, já tinha sido vencido pela história. Reparem: Partido da Frente Liberal. Que frente? A “Frente Liberal” foi o grupo formado por ex-apoiadores do regime militar, que se desgarraram do PDS, o partido que dava sustentação ao regime militar, para apoiar a candidatura de Tancredo Neves ao Colégio Eleitoral. Como uma “frente”, seus membros não precisavam comungar de um ideário que não o objetivo principal: à época, era derrotar Maluf na eleição indireta e apressar a transição para a democracia. Essa tarefa foi bem sucedida. Não faz, pois, sentido, ter um partido que carrega no nome a palavra “frente”. Ao contrário: a hora é de definir identidades.
É uma pena que o nome “liberal” desapareça da sigla. Mas se convenha: no Brasil, isso não quer dizer grande coisa. O partido — lá vem ele de novo — de Costa Neto se chamava justamente “liberal”. Importante, de fato, é que houvesse uma legenda com ideais liberais, e isso nós ainda não tivemos. Será o PD, o Partido Democrata?
Há muito o Brasil reclama uma legenda de fato conservadora — no sentido em que a palavra tem na Europa e nos EUA —, identificada com a direita democrática. Sei que a expressão provoca arrepios. Mas é o caso. Para tanto, esse partido não poderia ter medo de emagrecer em benefício da consolidação de um núcleo de idéias e propostas. O PD vai escolher esse caminho?
A pauta é extensa. Se vocês observarem, a agenda de praticamente todos os partidos, na sua dimensão pública — exclui-se, claro, o que fazem na surdina —, é de centro-esquerda ou de esquerda.
– Haverá um partido no Brasil com coragem de criticar o desvio eleitoreiro do Bolsa Família?
– Haverá um partido no Brasil com coragem de se opor às cotas raciais nas universidades?
– Haverá um partido no Brasil com coragem de afirmar que a violência nasce da impunidade, e não de problemas sociais?
– Haverá um partido no Brasil com coragem de vocalizar, atenção!, o padrão conservador do povo brasileiro, sem cair no populismo vagabundo?
– Haverá um partido no Brasil disposto a romper com essa cruza de vaca com jumento que é o esquerdismo petista sustentado pelo financismo oportunista?
Esse partido não é o PSDB, que tende, também a caminho de se redefinir, a assumir uma linguagem mais social-democrata. Esse partido haveria de ser o PFL — agora PD. Mas também não sei até onde vai conseguir operar essa mudança. É preciso ter ousadia, coragem, ir além do trivial. A adesão a Aldo Rebelo (PC do B-SP) na disputa pela presidência da Câmara demonstra ainda excesso de formalismo. Romper o statu quo, ali, era ter aderido de pronto — antes mesmo de Gustavo Fruet se lançar candidato — à Terceira Via. Mas isso já é passado.
Parceria com o PSDB
Eu, sinceramente, não acredito que estão esgotadas as possibilidades da parceria do PSDB com o PFL, agora PD — parceria, entenda-se, em disputas de segundo turno. Acho que esta será sempre a composição natural. E seria positivo que um pudesse ser, respectivamente, a direita e a esquerda do outro, preservando identidades. E é o que acho que vai acontecer.
A possibilidade, sempre aventada pelas Polianas (que pretendem ver no PT um partido da ordem), de que tucanos e petistas ainda marcharão juntos é delírio puro. Os petistas, como se viu e se vê, esterilizam e matam até seus aliados que são inequivocamente de esquerda. Tucanos e petistas têm vocações hegemônicas. Esse casamento é impossível.
O melhor cenário possível seria o PD falar, sem receio, sem medo, sem meias-palavras, ao enorme eleitorado conservador brasileiro, contentando-se em se ser minoria por um bom tempo, unindo-se aos tucanos contra a esquerda sempre que isso for possível, até que venha a convencer a maioria dos eleitores brasileiros que não há uma miserável coisa que a sociedade, por si mesma, não faça melhor do que o Estado.
A luta é longa.