Personagens da operação dossiê: Dilma, Múcio, Bernardo, Franklin Martins e… Lula
Por Christiane Samarco e Vera Rosa, no Estadão:Na primeira semana de fevereiro, muito antes de a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Cartões ter sido instalada, no dia 11 de março, o Palácio do Planalto mobilizou toda a Esplanada dos Ministérios para coletar informações e montar um dossiê com dados sobre gastos do governo Fernando […]
Por Christiane Samarco e Vera Rosa, no Estadão:
Na primeira semana de fevereiro, muito antes de a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Cartões ter sido instalada, no dia 11 de março, o Palácio do Planalto mobilizou toda a Esplanada dos Ministérios para coletar informações e montar um dossiê com dados sobre gastos do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) com cartões corporativos e contas tipo B. Supreendido com a divulgação da papelada, o governo deflagrou uma estratégia para despistar, dizendo que havia coletado as informações a pedido da CPI.
A operação dossiê saiu de pelo menos duas reuniões realizadas no Planalto, sob comando da ministra Dilma Rousseff e com participação dos ministros Paulo Bernardo (Planejamento), José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) e Franklin Martins (Comunicação Social). Algumas vezes, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), foi ao Planalto consultar os ministros. Na prática, Jucá alimentava a base aliada com relatos sobre os dados sigilosos. No Guarujá, de férias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era informado sobre as estratégias para resistir à pressão da oposição em favor de uma CPI, depois de consumada a demissão da ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), no dia 1º de fevereiro.
Foi depois de uma reunião no Planalto, com o governo decidido a coletar dados sobre a gestão FHC, que a Secretaria de Comunicação Social (Secom) resolveu distribuir um e-mail aos “coordenadores e assessores” de comunicação dos 37 ministérios e principais repartições da administração direta, pedindo que encontrassem prestações de contas antigas, personagens e relatórios de fiscalização, além de estatísticas de valores desembolsados desde 1998. Ao reunir dados sigilosos, sem solicitação jurídica ou da CPI, o governo teria de mantê-los longe de vazamentos, o que não aconteceu.