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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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OS SOLIDÁRIOS

Num post de ontem, comentei que um sobrinho passou no vestibular para a faculdade de engenharia da USP e que tinha uma fórmula para não ter problemas na prova de redação: “(…) eu sei o que o examinador quer. É só a gente ser politicamente correto, que dá tudo certo. É só dar um jeito […]

Por Reinaldo Azevedo
Atualizado em 31 jul 2020, 18h11 - Publicado em 9 fev 2009, 05h19
Num post de ontem, comentei que um sobrinho passou no vestibular para a faculdade de engenharia da USP e que tinha uma fórmula para não ter problemas na prova de redação: “(…) eu sei o que o examinador quer. É só a gente ser politicamente correto, que dá tudo certo. É só dar um jeito de encaixar lá alguma coisa sobre a necessidade de corrigir as desigualdades sociais do Brasil.”

E, claro, um monte de amigos da humanidade protestou. Uma nota: ultimamente, os amigos da humanidade, que acusam os adversários de reacionários, em vez de, então, ajudar a humanidade, preferem pegar empréstimos do BNDES e depois dar o calote. Adiante.

Segue o comentário de um deles — se me lembro, publiquei o valente, que preferiu se expressar em caixa alta, licença que, até hoje, só o Boccato tinha neste blog. Mas até este preferiu abrir mão do privilégio:
ME DIGA UMA COISA: QUAL O PROBLEMA EM RECONHECER “a necessidade de corrigir as desigualdades sociais do Brasil” ??????????????
QUAL É O PROBLEMA, HEIN? VC É UM CRISTÃO MUITO ESQUISITO. A MENSAGEM DE JESUS PREGAVA O INDIVIDUALISMO INDIFERENTE? ERA ISSO?
Publicar Recusar (Anônimo) 08/02/09

Huuummm… Problema nenhum! A mensagem de Jesus era de amor ao próximo. Mas não consigo ver em suas palavras estímulo à formação de hordas — muito pelo contrário — e ao assalto ao erário. Mas deixemos o Filho de Deus fora disso. Vamos à sua questão principal.

Por mais que isso possa deixá-lo chocado, internauta amigo, a “desigualdade social” não é o ser (ou que nome se dê) unicelular (suponho que fosse) ancestral (como o Criador) da teoria dos darwinistas. Imagino que tenha havido algum, não?, que começou a se diferenciar, numa experiência por alguma razão (ou milhões delas) irrepetível — pelo menos irrepetida até agora. Ou alguém já teria se mobilizado para criar um ser complexo a partir de uma ameba — nem precisaria ser um Schopenhauer; um Edmar Moreira já seria uma revolução… A tal “desiguaudadiçoçial” não é a chave do mundo, assim como alguns acreditam que, no princípio, era o Verbo, e outros, que era a ameba.

O que você quer que eu diga, colega? Vivíamos no comunismo primitivo, sabe?, eventualmente tiranizados pelo mais forte, e fomos nos tornando desiguais para sobreviver. A desigualdade foi a chave do nosso (dos humanos) progresso. Sei que vão dizer que estou adaptando porcamente o darwinismo para a questão social (coisa de direitista, claro!). Nem estou pensando nisso. Estou é brincando com palavras, mas falando seriamente: só fomos ficando desiguais porque os mais aptos foram ganhando o jogo dos mais fortes. Mas o Brasil está mudando o mundo.

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Um aluno que se opuser hoje, num vestibular competitivo ou na prova do Enem, às chamadas políticas públicas ditas “igualitárias” corre, sim, o sério risco de ser reprovado. É claro que meu sobrinho passou no vestibular porque, além da redação “esperta”, saiu-se muito bem nas outras disciplinas. Mas é perfeitamente possível o aluno ter um bom desempenho nas demais provas e perder pontos definidores na redação se ele, como exige o Enem, não “recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.”

Isso me lembra os manuais stalinistas do bom socialista. Nunca se sabia quando um coitado poderia estar sabotando a revolução. Nesse caso, um aluno que atacasse a política de cotas raciais ou o programa Bolsa Família porque entendesse que são, sei lá, errados, seria certamente punido por ser contra “a intervenção solidária” e até “os valores humanos”. Criou-se uma verdadeira etiqueta dos bons pensamentos.

E muitos estudantes, acreditem, já entenderam o “espírito da coisa”. Estão repetindo as palavras do oficialismo para não ser punidos. A pregação da igualdade nas escolas brasileiras — públicas e, sobretudo, privadas — tornou-se a face de um conservadorismo — de um mau conservadorismo. O jurássico de plantão recita os mantras da boa cultura da solidariedade e da igualdade, e os alunos os repetem nas provas porque assim quer, vejam que coisa!, “o sistema”.

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