Os Racionais MC’s, a baderna e o nosso Sarkozy
Quem foi o gênio da Prefeitura de São Paulo que teve a luminosa idéia de convidar os Racionais MC’s para fazer um show na chamada Virada Cultural da cidade? Leiam isto: Tô de rolê na quebrada, de Parati filmadasão 23 horas e a noite tá iluminadaacendo um cigarro, tô inspiradoando sozinho, não não, Deus tá […]
Tô de rolê na quebrada, de Parati filmada
são 23 horas e a noite tá iluminada
acendo um cigarro, tô inspirado
ando sozinho, não não, Deus tá do lado
é Sabado a rua tá cheia uma pá de gente
delegacia 73 rebelião no pente (…)
(…) Quantas morte, quantas tragédia
em família, o governo já não causou
Com a incompetência
Com a falta de humanidade
Quantas pessoas num morrero
De frustração, de desgosto
Longe do pai, longe da mãe
Dentro de cadeia
Por culpa da incompetência desses daí
Entendeu (…)
Pesquisa publicada prova
Preferencialmente preto pobre
Prostituta pra polícia prende
Pare pense porque prossigo
Pelas periferia praticam perversidades
Pms pelos palanques políticos prometem prometem pura palhaçada
Proveitopropio praias programas piscinas palmas
Pra periferia pânico pólvora pa pa pa. (…)
Eu nunca ouvi essa porcaria. Achei as letras na Internet. E li alguma coisa a respeito. Essas caras caíram no gosto dos bem-pensantes, inclusive dos segundos cadernos, que acham que podem fazer sociologia e antropologia de resistência usando esse lixo. O que leva uma Prefeitura, comandada pelo DEM (ex-PFL) e pelo PSDB a juntar na praça os tais Racionais, que fazem um discurso claro e aberto contra a Polícia, alguns milhares de “manos” e, Deus do Céu!, a Polícia? Quem é o petista infiltrado na Prefeitura, Gilberto Kassab? Quem é o quinta-coluna? A Polícia deveria estar lá? Ora, deveria estar, como esteve, presente a todos os eventos — 80 em 24 horas. Os Racionais é que estavam fora do lugar. Ora, parte de seu orgulho e de seu marketing — sustentado, reitero, pela indústria cultural — é fazer discurso antiestablishment. Por que convidá-los para uma evento patrocinado pela cidade, pelo “estado burguês?”
Ah, tenho de dizer: com efeito, a culpa não é dos Racionais; não é dos “manos” baderneiros; não é, claro, da Polícia. A culpa é de quem convidou. A culpa é dessa estupidez que acomete os governantes brasileiros, que adoram posar de “progressistas” e sem preconceitos. A culpa é desses conservadores brasileiros que têm vergonha daquilo que pensam e pretendem atuar com uma agenda que não lhes pertence; a culpa é dessa ambigüidade que toma conta mesmo dos partidos que deveriam estar identificados com a ordem, que cedem ao apelo e às patrulhas do esquerdismo, do onguismo, de todos os vigaristas politicamente corretos que andam por aí.
A Virada Cultural foi um sucesso, mas está sendo vendida por parte da mídia como um desastre. A foto nas primeiras páginas, claro, mostram a Polícia como agressora. Presente ao evento, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) — que declamou um letra do Racionais na CCJ do Senado na semana passada — não perdeu a chance de acusar os policiais de agir com truculência. Resumo dos estragos registrado pela Folha: “Oito viaturas da PM, uma da guarda civil e dois veículos particulares foram danificados. Uma loja da rede Lojas Americanas e outra da lanchonete O Rei do Mate, além de quiosques na estação Sé, foram saqueados. Na praça, telefones públicos e banheiros químicos acabaram destruídos.”
Quando começou a confusão, a quem cabia tentar acalmar os ânimos? Um sujeito chamado Mano Brown, que deve ser líder da, como direi?, banda, disse as seguintes palavras de pacificação: “Vamos continuar, essa festa é nossa, vamos ignorar a polícia“. Viram só? Isso porque esses respeitadores do povo da periferia subiram ao palco com nada menos de 90 minutos de atraso.
Num post abaixo, perguntei, de forma um tanto irônica, mas, acreditem, com seriedade, se Nicolas Sarkozy chamaria, sei lá, rappers magrebinos para celebrar o que quer que fosse se eles decidissem subir num palco, com patrocínio do dinheiro público, para insultar a Polícia e as instituições, como fazem os tais Racionais MC’s. A indagação é puramente retórica. É claro que ele não faria isso. Até os esquerdistas Le Monde e do Libération admitiam, ao longo do domingo, que a sua eleição era a vitória da clareza, jamais da ambigüidade. Como? Eu quero proibir esses poetas, censurá-los? De maneira alguma. Até prefiro saber onde eles dão shows para eu passar bem longe. Só não vejo a necessidade de pôr dinheiro público nessa porcaria; só não vejo prudência, esperteza e racionalidade em juntar num mesmo ambiente policiais, gente que insulta a polícia e uma massa de “manos” que, parece, comungam mais ou menos daqueles valores.
As oposições brasileiras só conseguirão tirar o PT do poder no dia em que tirarem o PT de dentro de si mesmas. Assim como Sarkozy exorcizou 1968 e Mitterrand. Sem recuar um minuto ou sem se deixar intimidar pela “França socialista” — que é minoria. E a esquerda é minoria também no Brasil. Os não-petistas brasileiros precisam saber que pobre não é de esquerda.
PS: Sobre o novo presidente francês e o significado de sua vitória, escrevi ontem. Procurem lá.