Os pervertidos – Por que eles são piores
(Dado o noticiário que vai abaixo, resolvi que este texto, de ontem, ficaria muito bem aqui) Alguns petistas indignados dizem que pego mais no pé do PT do que no de outros partidos. Há até mesmo aqueles que, em nome do que chamam “isenção”, exigem a mesma crítica a outras legendas. Vamos lá. No aniversário […]
(Dado o noticiário que vai abaixo, resolvi que este texto, de ontem, ficaria muito bem aqui)
É evidente que a safadeza é condenável venha de onde vier e que todas elas merecem censura neste blog. Mas os petistas não são os meus juízes. Podem esperar sentados (porque em pé criarão raízes e darão flor), que eu não tratarei, por exemplo, o caso Alstom — este romance de mistério — como o “outro lado” do caso Varig, por exemplo. De modo nenhum! E não tratarei porque não é. Não tratarei porque dispenso abordagem desigual aos desiguais.
Dar o mesmo relevo aos dois assuntos é coisa de gente intelectualmente vagabunda, que está disposta a demonstrar a sua independência aos petistas. Não sou malabarista no circo do petismo: não vou andar no arame e equilibrar bola na ponta do nariz para que eles me achem isento. O que eles pensam a meu respeito me é irrelevante.
Se e quando se descobrir a safadeza no caso Alstom, safadeza será. E que se mandem os responsáveis para a cadeia. Mas que se destaque:
– não se comprometeu a institucionalidade, conspurcando uma agência reguladora, como aconteceu no caso Varig;
– não se mudou a lei com a finalidade específica de “legalizar” um negócio — como aconteceu no caso Brasil Telecom/Oi;
– os acusados — ou melhor: um único suspeito até agora — negam a irregularidade; os petistas, ao contrário, querem fazer o ilegal parecer legal.
Que todos os criminosos paguem por seus atos, pertençam a que partido for. Mas eu faço, sim, a distinção entre quem corrompe a institucionalidade e quem “apenas” viola a legalidade. Sabem por quê? Porque a corrupção da instituição fica inscrita na memória do país.
A distinção nem é minha, confesso. É de Padre Vieira, no Sermão do Bom Ladrão, já tantas vezes comentado aqui Vai de memória, mas é fácil achar na Internet: “O ladrão que rouba para comer não vai nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, são os ladrões de mais alto calibre e de mais alta esfera, os quais, já com manha, já com força, roubam e despojam os povos”. Ou mais adiante: “Uns ladrões roubam e são enforcados; outros roubam e enforcam”.
Meu apreço pelo senhor Paulo Maluf é zero. Ela já me processou inclusive. E perdeu. Meu apreço pelo sr. Collor de Mello é zero. Ele também já me processou e também perdeu. Mas sustento que estes dois senhores, de biografia tão notória, fizeram muito menos mal ao Brasil do que os petistas. Não, isso está longe de ser uma defesa de ambos. Penso a respeito desses senhores o que pensava antes — e que os levou a me processar —, mas suas práticas, a não ser para seus fãs empedernidos, entraram para o rol das coisas condenáveis.
Com os petistas é diferente. Um senhor, advogado e lobista de um fundo estrangeiro, que participou da compra e venda de uma empresa num processo que a própria Anac admite estar eivado de ilegalidades, é recebido seis vezes pelo presidente da República. E vem um ministro de estado dizer que, bem…, não há nada demais nisso. Como não há nada demais no fato de ambos serem compadres, com todas as conhecidas intimidades próprias do compadrio que já estão provadas.
O petismo faz o crime parecer tão natural quanto dizer: “Hoje é terça-feira”.
Assim, petistas, desistam: tratarei desigualmente os desiguais. E sempre que um petralha grita que nao sou isento, penso: “Que bom! Sinal de que ainda sei distinguir desigualdades”.