Os perfeitos idiotas 5 – Ao lado de Lula, vizinhos atacam dívidas
Por Clóvis Rossi, na Folha:Os presidentes Rafael Correa (Equador), Fernando Lugo (Paraguai), Evo Morales (Bolívia) e Hugo Chávez (Venezuela) sitiaram ontem seu colega Luiz Inácio Lula da Silva à mesa do Salão Tiradentes do hotel Golf e Spa da Costa do Sauípe, em que se dava a entrevista coletiva de encerramento das multicúpulas da América […]
Os presidentes Rafael Correa (Equador), Fernando Lugo (Paraguai), Evo Morales (Bolívia) e Hugo Chávez (Venezuela) sitiaram ontem seu colega Luiz Inácio Lula da Silva à mesa do Salão Tiradentes do hotel Golf e Spa da Costa do Sauípe, em que se dava a entrevista coletiva de encerramento das multicúpulas da América Latina e do Caribe.
Os quatro transformaram a entrevista em um comício em torno da dívida externa, em termos muito semelhantes aos que o PT usava antes de chegar ao poder, com uma diferença fundamental: agora, o governo brasileiro, em mãos do PT, é credor de alguns desses países, em vez de devedor.
O eixo do comício girou em torno da “ilegitimidade e ilegalidade” da dívida externa dos diferentes países latino-americanos, como disse Correa.
A pergunta seguinte obrigatória, feita pela Folha tanto a Correa como a Lugo, foi se os dois incluíam a dívida de seus países com o Brasil no rótulo de “ilegal e ilegítima”.
ArgumentosCorrea, dono do discurso mais articulado, repetiu literalmente todos os argumentos que usara para pedir uma arbitragem internacional para a dívida externa equatoriana, inclusive os US$ 243 milhões que o BNDES emprestou para que a empresa brasileira Odebrecht construísse a hidrelétrica de San Francisco, “que sofreu um colapso oito meses depois de construída”.Argumento 1 – “Um problema comercial e econômico foi lamentavelmente transformado em problema diplomático”, com a retirada do embaixador do Brasil em Quito.Essa frase é mais significativa pelo fato de que, no telefonema que Lula e Correa trocaram depois do incidente, Lula acusou Correa da mesma coisa, ou seja, de politizar um problema comercial e econômico. Significa que o presidente brasileiro não conseguiu anestesiar a crise com seu colega, ao contrário do que costuma acontecer.Argumento 2 – “A Petrobras S/A, empresa pública, levou à arbitragem internacional, em Londres, um contrato [com o Equador], sem nos avisar previamente. A Hidropastaza, empresa pública [equatoriana], leva à arbitragem internacional, em Paris, o contrato [com o BNDES] e nos retiram o embaixador”. Acrescentou: “Tomara que volte logo”.É possível que volte, porque, em encontro com Lula, no fim da tarde, Correa garantiu que o Equador pagará a parcela do empréstimo do BNDES que vence dia 29. Ou seja, não haverá calote pelo menos até uma decisão da arbitragem.Lugo, na sua vez, foi bem mais moderado, mas nem por isso deixou de lembrar que:1 – O orçamento original da hidrelétrica de Itaipu, empreendimento binacional Brasil/Paraguai, era de US$ 2 bilhões. Custou US$ 20 bilhões.2 – “Foi um desses tratados assinados em regimes ditatoriais em ambos os países”, o que, na visão dos governantes de esquerda da região, o transforma em “ilegítimo e ilegal”.Mas Lugo, que teve um encontro de 50 minutos com Lula na manhã de ontem, preferiu dizer que prefere discutir “um capítulo maior das relações com o Brasil”, com o que Lula concordou. O tema preço da energia e dívida de Itaipu ficara para encontro entre ministros, em meados de janeiro. Aí sim serão discutidos preço e dívida.