O Ultimato Bourne
Abandonei vocês por um tempo ontem, não? Pois é. Fui ver O Ultimato Bourne. Gosto dos filmes da série e acho Matt Damon o melhor ator de sua geração. Tem o que costumo chamar de “interpretação suja”. O que quero dizer com isso? Tem cara de gente de verdade, que é tudo o que um […]
O esteio da trama de O Ultimato Bourne é o de sempre, como sabem: as maldades do serviço de Inteligência dos EUA, o que não deixa de ter um caráter obviamente ambíguo. Aqueles homens da CIA são maus como pica-paus, mas sempre há subjacente a idéia de que zelam pela segurança do país — no caso, em excesso e fora dos protocolos. Mas o poder da máquina é esmagador e só pode ser superado pelo “herói americano”, o homem que, sozinho, contra tudo e contra todos, enfrenta os bandidos numa espécie de Velho Oeste moral. Convenham: em certa medida, não há nada mais americano — e puritano — do que isso. Mais: os que foram além das suas sandálias acabam na cadeia.
O terceiro filme da série, vocês viram — ou verão —, remete ao primeiro, e tudo está engatilhado, se os produtores quiserem, para a continuidade. A personagem está potencialmente mais interessante porque tem agora ciência do bem e do mal — ou, melhor ainda, ambos disputam lugar na sua consciência.
Até quando os EUA poderão fazer filmes assim? Eis uma boa questão. A trama só pode existir e ter alguma verossimilhança num império triunfante, em que a contestação seja uma cultura marginal. Vejam lá: inexiste o outro. É o filme de uma potência isolacionista. O inimigo é interno e também não quer o mal do país — só que tem um modo um tanto estúpido de zelar por ele. Se olhamos o mundo e os questionamentos a que o império está hoje sujeito, indagamo-nos até que ponto o que há de crítica antiestablishment no filme não é uma das últimas manifestações de uma ilusão. Aquele mundo acabou. O que o substitui é ainda mais bárbaro..