O Rio assiste ao renascimento da esquerda festiva e do miolo mole. O queridinho da vez é Marcelo Freixo, do mesmo partido que liderou o caos em São Paulo
Lá vou eu parafrasear o ex-presidente mexicano Porfirio Díaz, que afirmou sobre seu país: “Pobre México! Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”. Na reta das eleições municipais, digo cá com os meus botões: “Pobre Rio, tão perto do Cristo Redentor e tão longe de uma solução!”. Por que isso? Os descolados, […]

Lá vou eu parafrasear o ex-presidente mexicano Porfirio Díaz, que afirmou sobre seu país: “Pobre México! Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”. Na reta das eleições municipais, digo cá com os meus botões: “Pobre Rio, tão perto do Cristo Redentor e tão longe de uma solução!”. Por que isso?
Os descolados, descoletes, intelectuais alternativos, celebridades e “pessoas boas no geral” — incluindo cineastas, claro!, que sempre têm na ponta da língua um “projeto” para o Brasil — têm um novo queridinho: o deputado Marcelo Freixo, do PSOL, caracterizado como herói no filme “Tropa de Elite 2″. Sim, claro!, Freixo travou uma batalha meritória contra as chamadas milícias. “Meritória”, diria eu, na ponta, mas não nos fundamentos. As suas considerações sobre as razões do crime organizado no Rio não fogem à triste ladainha das esquerdas que acabaram contribuindo para que o Rio fosse sitiado pela marginalidade. Ainda voltarei a esse tema, estejam certos.
Muito bem! Chico Buarque — desta vez em companhia de Caetano Veloso — acaba de adotar a candidatura de Freixo à Prefeitura do Rio. Principal propagandista do PT — e, obviamente, de seus métodos —, o sambista agora adota um outro bibelô da esquerda. No Rio, continuar no petismo significa se jogar na cachoeira da Delta, de Sérgio Cabral. Não pega bem em certos endereços de Leblon, Copacabana e Ipanema. Nesses locais, geralmente de um por andar, há que se endurecer, ser socialista, mas sem perder jamais a ternura pela propriedade privada — ainda que com dor no coração.
Leiam o que informa Marcelo Gomes, no Estadão Online. Volto em seguida:
Eleitor tradicional do PT, o cantor e compositor Chico Buarque declarou, na noite da última terça-feira, 22, apoio à candidatura do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) à Prefeitura do Rio. A confirmação foi feita na casa do artista, no Leblon, Zona Sul da cidade, durante um encontro, organizado pelo também cantor e compositor Caetano Veloso, que já havia aderido à candidatura do PSOL. O PT não terá candidato próprio nas eleições de outubro. Porém, terá a vaga de vice na chapa do atual prefeito Eduardo Paes (PMDB) à reeleição. O vice de Paes será o vereador Adilson Pires, ex-sindicalista e atual líder do governo na Câmara Municipal.
Segundo Freixo, Chico entrou “de cabeça” na campanha e aparecerá no horário eleitoral na televisão. “É esse tipo de aliança, com pessoas comprometidas com o futuro do Rio e do País, que eu busco. É melhor que fazer alianças espúrias para aumentar meu tempo no horário eleitoral na TV em troca de cargos públicos. Vamos ter pouco tempo de TV, mas temos as redes sociais e, sobretudo, a militância”, disse Freixo.
Além de Freixo e Paes, já lançaram suas pré-candidaturas à Prefeitura do Rio a deputada estadual Aspásia Camargo (PV), o deputado federal Otávio Leite (PSDB) e o deputado federal Rodrigo Maia (DEM). A vice de Maia, filho do ex-prefeito César Maia, será a deputada estadual Clarissa Garotinho (PR), filha dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho.
(…)
Voltei
O PSOL, partido ao qual pertence Freixo — e do qual até Heloísa Helena teve de pular fora — é a legenda que comandou, ao lado do PSTU, a greve do Metrô em São Paulo. Atenção! O reajuste obtido pela categoria acabou sendo inferior àquele que a Justiça havia proposto. Mas a greve, que fez a cidade mergulhar no caos, era uma questão de honra para a legenda — embora seja um fato universalmente conhecido que o Metrô oferece uma das melhores estruturas de trabalho do país a seus funcionários. Ocorre que o PSOL é socialista, entendem?…
O partido lidera ainda — também ao lado do PSTU — uma campanha bucéfala contra o reitor João Grandino Rodas, da USP, única universidade da América Latina a integrar o ranking das 100 melhores do mundo. Há dias, o senador Randolfe Rodrigues, do PSOL do Amapá — destacado membro da CPI do Cachoeira e insuspeito de desvio direitista — reclamava da patrulha que passou a sofrer na legenda porque resolveu integrar um grupo de personalidades que tentam levar investimentos para o Amapá. Os psolistas consideram que isso é desvio burguês.
A luta de Freixo contra as milícias, sua cara de bom moço e aquele ar de coroinha que ele faz às vezes servem para disfarçar a natureza truculenta de seu partido quando envolvido nos tais movimentos sociais. Uma coisa é distinguir a sua atuação contra os trogloditas do crime organizado que se disfarçam de agentes da lei, outra, distinta, é ter respostas para a cidade.
A adesão a Freixo é uma espécie de reedição da esquerda festiva e do miolo mole, que não tem a menor noção do que está fazendo. De pronto, tenho uma pergunta a Chico Buarque e a Caetano Veloso, que, mais falastrão, poderia responder: se Freixo for eleito prefeito, deve ser ele a liderar uma greve nos transportes do Rio, nos moldes daquela que seu partido liderou em São Paulo, com todas as suas dramáticas consequências para os pobres?
E que ninguém me venha com a história de que o apoio ao indivíduo não implica apoio ao partido. Isso não existe na esquerda. Ele terá de governar com os seus. E o PSOL é justamente um pedaço que se descolou do PT porque acusou a nave-mãe de não aplicar, na prática, as palavras que tinha como princípio.
Encerro
“Ah, é assim, Reinaldo? E votar em quem?” Queridos, graças a Deus, não voto no Rio! E sei que a expressão do meu alívio não responde grande coisa. Os cariocas façam suas devidas ponderações. PSOL como resposta? No Rio ou em qualquer lugar, esse partido está mais para um problema, ainda que Freixo, pessoalmente, consiga lavar o caráter da legenda.
“Como a gente faz, Reinaldo, quando nenhuma solução é exatamente boa?” Vou lhes dizer o que eu faria: escolher o mal menor. Sabendo o que sei do PSOL e vendo o que o partido fez ontem na cidade de São Paulo, digo sem medo de errar: não é o mal menor! O resto é com os cariocas.