O relatório de Protógenes 1 – Dantas, o “capo”
Por Fausto Macedo, do Estadão:Daniel Dantas é o “capo” de organização criminosa que movimentou US$ 1,9 bilhão em paraísos fiscais, segundo relatório final do delegado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal. “É nele que se concentram todas as decisões em se tratando de estratégias, investimentos, aporte de recursos ou qualquer saída dos respectivos caixas do Grupo […]
Daniel Dantas é o “capo” de organização criminosa que movimentou US$ 1,9 bilhão em paraísos fiscais, segundo relatório final do delegado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal. “É nele que se concentram todas as decisões em se tratando de estratégias, investimentos, aporte de recursos ou qualquer saída dos respectivos caixas do Grupo Opportunity”, assinala o documento de 152 páginas, juntado ao inquérito 120233/08.
São 13 os indiciados da Satiagraha – além de Dantas, a PF enquadrou Verônica, sua irmã, a quem atribui graduação de “subchefe central da organização”, e diretores e gerentes do Opportunity Fund, uns apontados como laranjas, outros como testas-de-ferro. O banqueiro foi indiciado por corrupção ativa e gestão fraudulenta de instituição financeira (artigo 4º da Lei 7.492/86, que trata dos crimes do colarinho branco).
A Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado e fundador do PT, o relatório imputa o papel de “integrante de escalão especial”. No mesmo patamar de Greenhalgh, a PF coloca o lobista Guilherme Henrique Sodré, o Guiga. Os dois, informa Protógenes, serão alvo de inquérito policial apartado.
O ato de indiciamento dos 13 investigados ocorreu sexta-feira, quando Protógenes despediu-se de Satiagraha, que ele próprio levou às ruas dia 8 no comando de um esquadrão de 300 agentes.
Sob fogo cerrado da cúpula da corporação, a quem acusa de ter obstruído a maior investigação de sua vida, Protógenes saiu do caso – oficialmente para fazer o Curso Superior de Polícia, em Brasília.
O relatório esmiúça a conduta de cada personagem da operação e revela passo a passo os movimentos de Dantas e seus subordinados no fundo registrado em Ilhas Cayman. Ao longo do texto em que incrimina seus alvos, o delegado junta transcrições de interceptações telefônicas e reitera informações, qualificações e adjetivos inseridos em termos anteriores que deram sustentação aos pedidos de prisão, acolhidos pelo juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Federal.
O documento será analisado pelo procurador da República Rodrigo de Grandis. O inquérito deverá retornar à PF, que agora deu início à perícia em 200 HDs recolhidos pelos agentes de Satiagraha.
Defesa
“O relatório contém linguagem totalmente imprópria, deselegante e que não traduz a realidade dos fatos”, protestou o criminalista Nélio Machado, defensor de Dantas e de todos os dirigentes do Opportunity. “A autoridade policial deve investigar. Como chamar de fraudulenta uma gestão marcada pelo sucesso? O relatório não chega a ser peça literária, mas é ficção. Não vejo dificuldade em reduzir essa acusação ao nada e ao vazio que ela representa.”
Greenhalgh afirma que foi contratado como advogado por Dantas e que sua atuação está dentro dos limites da profissão que exerce há 30 anos. Nega tráfico de influência.