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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O que há de ideologia, no PT, não presta. E o que não é ideologia presta menos ainda

O Estadao traz hoje um editorial que critica a compra da Brasil Telecom pela Oi. Leiam. Volto em seguida: Retrocesso na telefonia Petistas que, quando na oposição, criticavam duramente o programa de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso devem estar muito satisfeitos com a ação do governo Lula para facilitar a compra da Brasil Telecom […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 19h58 - Publicado em 17 jan 2008, 14h34
O Estadao traz hoje um editorial que critica a compra da Brasil Telecom pela Oi. Leiam. Volto em seguida:

Retrocesso na telefonia

Petistas que, quando na oposição, criticavam duramente o programa de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso devem estar muito satisfeitos com a ação do governo Lula para facilitar a compra da Brasil Telecom (BrT) pela operadora Oi (ex-Telemar), que, se efetivada, resultará na constituição de uma megaempresa brasileira de telecomunicações. Além de ampliar a participação estatal no setor, argumentam os defensores do negócio, essa empresa, com capital inteiramente nacional, estaria apta a enfrentar, inclusive no exterior, as grandes operadoras que já atuam no País, a espanhola Telefônica e a mexicana Telmex, controladora da Embratel e da Claro.

O governo está obrigado por lei a assegurar a competição num mercado de serviços em que atuam empresas com grande capacidade financeira e acesso imediato às tecnologias mais avançadas, para proteger os interesses dos consumidores e garantir a prestação de serviços de qualidade.

Mas são muito claras as indicações de que as motivações do governo são de outra natureza. O que move o governo não parece ser a defesa do interesse do usuário, mesmo porque, se fosse essa sua preocupação, bastaria usar a legislação atual. Ela oferece às autoridades elementos suficientes para exigir das operadoras a prestação de serviços de acordo com parâmetros e critérios previamente determinados justamente para assegurar, de um lado, a rentabilidade do negócio, e, de outro, que o usuário seja bem atendido.

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O que as declarações das autoridades mostram é que o governo está intervindo na questão por razões ideológicas – a necessidade de constituição de uma grande empresa de capital nacional para enfrentar a competição externa e proteger o que o governo entende como ‘interesse estratégico’ do País.

Quem disse isso de maneira mais explícita foi o ouvidor da Anatel, Aristóteles dos Santos. Em seu relatório sobre a atuação do órgão regulador da área de telecomunicações, o ouvidor fez críticas ao que entendeu ser uma preocupação excessiva com a preservação do interesse das empresas e defendeu com entusiasmo a ação do governo para a criação de uma forte empresa nacional de telefonia. ‘Em muito boa hora o governo Lula toma a iniciativa de trazer ao debate público a instituição de uma empresa de telecomunicações de âmbito nacional para competir em igualdade de condições com os demais players’, afirmou.

O cargo de ouvidor da Anatel é mais um dos muitos que o governo do PT preencheu de acordo com critérios meramente políticos. Antes de assumir essa função, Santos foi sindicalista. Na campanha eleitoral de 2006, apareceu num programa do PT para defender o governo Lula, sem mencionar sua condição de funcionário público.

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Mas há outras indicações das reais intenções do governo. Fortalece a tese de que suas razões são ideológicas a notícia publicada pela Folha de S.Paulo segundo a qual, no acordo dos três principais futuros acionistas da nova empresa resultante da aquisição da BrT pela Oi, o governo (por meio do BNDES) terá uma cláusula de proteção para garantir o controle nacional sobre ela. Se algum dos outros sócios (Grupos Andrade Gutierrez e La Fonte) decidir deixar a sociedade, o BNDES terá direito de preferência na aquisição de sua participação.

Além disso, para que seja possível a concretização do negócio, será necessário mudar o Plano Geral de Outorgas (PGO) do setor de telecomunicações, por meio de decreto presidencial. Em entrevista ao Estado, o advogado Carlos Ari Sundfeld, principal autor da Lei Geral de Telecomunicações – na qual se baseou o PGO -, admitiu que, se análises econômicas bem fundamentadas mostrarem que o negócio resultará em mais competição, a mudança se justifica. Mas não admite que razões ideológicas justifiquem a mudança. Na verdade, há pouca competição entre as empresas que atuam no chamado mercado de serviço de voz – cada uma domina de 93% a 95% do mercado de suas respectivas áreas de atuação. E haverá menos competição ainda, se consumar a fusão das duas empresas.

Tudo indica que o que move o governo é o desejo de ampliar a participação estatal num setor que só deu certo depois de privatizado. Isso é um retrocesso.

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Voltei
Um bom texto, sem dúvida, apontado as coisas certas. Mas ainda um tanto benevolente, repetindo a abordagem de ontem de O Globo. Os dois jornais preferem não lembrar que um dos beneficiados da operação, Sérgio Andrade, é o maior financiador da campanha eleitoral de Lula e que a Telemar é sócia do filho do presidente.

Por que faço tais observações? Porque não deixa de ser um afago no petismo supor que a questão que move a intervenção do governo tenha um fundo ideológico. Parece-me que a ideologia, aí, é só a fantasia regressiva que esconde uma motivação bem mais subalterna — como subalternas têm sido as ações do petismo sempre que se mete a arbitrar disputas pelo mercado.

Observem: endosso os dois editoriais. O risco da “reestatização”, é claro, existe. Mas duvido que o objetivo seja esse. Pode ser ainda pior: parece que estamos diante do momento da recompensa àqueles que tanto colaboraram com o partido. Que partido? O ideológico? Não. O outro: a máquina que hoje domina o Brasil por meio do governo paralelo. Ademais, quem quiser a antecipação, em detalhes, dessa operação basta que consulte reportagem da VEJA de dezembro do ano retrasado. Está tudo lá.

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O que resta de ideologia no PT não presta. E o que não é ideologia presta menos ainda.

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