O papa é um cão; Marcola, um intelectual
Eu os desafio a fazer uma pesquisa no Google ou no arquivo dos jornais. A conclusão é inescapável: Bento 16 apanhou mais do jornalismo pátrio do que Marcola, o chefão do PCC. Para este, de fato, numa leitura rigorosa, o que sobra são elogios e um encantamento basbaque com o marginal que tem ambições de […]
Não descarto, é claro, que ele seja mais realista do que alguns professores que foram lá dar apoio aos invasores da Reitoria, mas daí a ser tratado de forma quase reverencial, convenha-se, vai uma grande diferença. Façam isso que estou dizendo: selecionem os adjetivos reservados a Marcola e os reservados ao papa. Vejam as metáforas usadas para um e para outro.
Alguém se atreve a chamar Marcola de cão? De jeito nenhum! Por dois motivos. Em primeiro lugar, por covardia, medo, se me permitem o termo chulo: “cagaço”. Afinal, que mal pode advir ao escriba que associa o Sumo Pontífice a um cachorro? Nenhum! Coragem inútil, desnecessária. Em segundo lugar, o termo seria considerado um preconceito, ora essa, avesso, ademais, às óbvias simpatias que o bandido desperta.
Ser crítico, na cobertura do papa, corresponde, necessariamente, a ser antipapa. Ser crítico na cobertura de Marcola e do PCC significa não cair na conversa da “lei e da ordem”, contra a qual o facínora teria se insurgido, uma espécie de “rebelde primitivo” a excitar a imaginação pobremente revolucionária das Mafaldinhas e Remelentos que também estão presentes nas redações.
Bento 16 empurra o mundo para o obscurantismo medieval (quem disse que a Idade Meia foi tão ruim?); já Marcola seria produto dos desarranjos da sociedade de classes, entendem?, e deve ser compreendido em sua fortuna sociológica.