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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

“O País dos Petralhas” no Globo de hoje

O sociólogo Demétrio Magnoli escreve no Globo de hoje uma resenha sobre o meu livro intitulada “Abaixo o abaixo-assinado”. Leiam. Sim, o autor gostou muito do que leu. *Quando pus os olhos na capa de O país dos petralhas (São Paulo, Record, 2008), de Reinaldo Azevedo, veio-me à lembrança o episódio de anos atrás, que […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 18h57 - Publicado em 18 set 2008, 06h35

O sociólogo Demétrio Magnoli escreve no Globo de hoje uma resenha sobre o meu livro intitulada “Abaixo o abaixo-assinado”. Leiam. Sim, o autor gostou muito do que leu.

*
Quando pus os olhos na capa de O país dos petralhas (São Paulo, Record, 2008), de Reinaldo Azevedo, veio-me à lembrança o episódio de anos atrás, que só tem uma relação indireta com o novo livro do autor do blog político mais polêmico do país. Em 2003, o articulista Nelson Ascher publicou na Folha de S. Paulo uma pesada crítica da obra de Edward Said, intelectual palestino-americano que acabava de morrer. Dias depois, 187 intelectuais brasileiros enviaram ao jornal um manifesto de “repúdio” ao artigo, qualificando-o como “covarde”, “difamatório”, “calunioso” e “racista”. Entre os signatários, encontravam-se nomes como Antonio Candido, Marilena Chaui, Fábio Konder Comparato e Paulo Sergio Pinheiro. O gesto, não de Ascher, mas dos 187, sintetiza aquilo que Reinaldo combate: o macartismo de esquerda, tão odioso quanto o de direita, porém mais freqüente entre nós. Posso divergir de muito do que está escrito no seu livro, mas alinho-me com o bom combate.

Na ocasião, talvez porque escrevi diversas críticas às idéias de Bernard Lewis, a fonte de inspiração do artigo de Ascher, alguém solicitou que eu subscrevesse o manifesto. O artigo não não era racista, não continha ofensas pessoais; expunha idéias. Eu não concordava com aquelas idéias, apenas isso. Perguntei o motivo pelo qual tantos intelectuais com acesso às páginas da imprensa não escreviam, individualmente, réplicas ao articulista. Não tive a resposta, que conheço: a meta era isolá-lo, desacreditá-lo, calá-lo, se possível conseguir a sua demissão – não elevá-lo a interlocutor de gente tão importante. Os 187 não subscreveram papel algum quando o governo brasileiro, violando a lei, capturou e extraditou os pugilistas cubanos. Quem falou em covardia?

Reinaldo Azevedo é contra o PT. Provavelmente ele só concorda com uma frase proferida por Anthony Garotinho em toda a sua vida: a célebre caracterização do PT como “o partido da boquinha”. Mas, ao contrário do ex-governador, Reinaldo faz uma conexão entre a ideologia e a corrupção petistas: a fé no Estado como condutor da sociedade. O “país dos petralhas” é sobre isso, mas sobre muito mais. “Petralhas” funciona como metáfora englobante. O “petralha” de Reinaldo pode nem sequer saber da existência do PT. É uma voz numa multidão de vozes que repetem consensos autoritários: todos os que depositam sua fé no “futuro socialista da humanidade”, a linha encantatória da religião laica engendrada no século 19.

O que pensa Reinaldo? Ele é a favor de Bento XVI e contra a “escatologia da libertação”. É contra, por princípio, o aborto e as pesquisas com células embrionárias. Também por princípio, é contra a imprensa estatal e favorável à mais completa liberdade de expressão. É a favor da Lei de Anistia e contra a farra das indenizações. É contra, mas não por princípio, a descriminalização das drogas. Clama por ordem e segurança nas favelas, uma idéia que não agrada a tantos políticos e intelectuais mas poderia ser muito popular nas próprias favelas. É a favor da invasão do Iraque, algo impopular mesmo nos EUA. Torce por McCain. Gosta de Lewis e detesta Said. Não crê no aquecimento global, a religião laica do século 21. Bate forte, mas sempre argumenta. Sabe escrever. Há quem odeie isso, acima de tudo.

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Nesse mundo de rótulos, como classificá-lo? Liberal na economia, conservador nos valores, democrático na política. Os “petralhas” o classificam como fascista – e aí mora o perigo. O PT pronunciou-se, em nota oficial, apoiando o fechamento de uma emissora de tevê opositora pelo venezuelano Hugo I. O PT canta as glórias da ditadura dos Castro, um regime de partido único e jornal único, que fuzila dissidentes. Numa certa lógica, se a História, assim com maiúscula, navega rumo ao porto da redenção humana, não é só um direito, mas o dever, dos timoneiros afastar os escolhos dispersos na rota histórica. Pronto: Reinaldo é um escolho, como Ascher ontem e alguém amanhã.

Uma história de ironias: foi a ascensão de Lula que conferiu audiência a um pensamento político como o de Reinaldo, quase varrido no Brasil pós-getulista. Lula no poder e o PT nos palácios deixam uma herança involuntária que merece reflexão. Há pouco, aquilo que se convencionou batizar “direita” jazia numa sepultura contaminada pela memória da ditadura militar. Hoje, quando Lula se associa a Delfim Netto e identifica virtudes em Ernesto Geisel, tudo ficou um pouco confuso. Se a “esquerda” é isso, por que banir a “direita”? Logo mais, uma voz como a de Reinaldo será tão comum no Brasil quanto é na Europa e nos EUA. É assim que funciona, nas democracias maduras.

Ainda não chegamos lá. “Ele está a serviço da conspiração da elite branca, a oligarquia que nos governa há 500 anos”. Improvável. Primeira Leitura, a inteligente revista que dirigia, fechou por falta de anunciantes estatais e privados. As publicações chapa-branca podem não ter leitores, mas não lhes faltam anunciantes (estatais). Os candidatos do PT são os que mais arrecadam com banqueiros e industriais. O blog de Reinaldo Azevedo começou sem patrocínio nenhum e converteu-se em sucesso de público antes, não depois, de ser incorporado pela revista Veja. Alguns fazem negócios. O negócio de Reinaldo é só oferecer a sua opinião.
Ninguém deve ser cobrado por meras opiniões, mas princípios são outra coisa.

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Encontrei no livro de Reinaldo diversas passagens sobre a política global de Bush e a “guerra ao terror”, mas nadinha a respeito de prisões secretas e da legalização de métodos “heterodoxos” de interrogatório. Não vale dizer que existem coisas piores no mundo: a obra dos direitos humanos no pós-guerra foi, em primeiro lugar, uma construção americana. Jogá-la pelo ralo pede ao menos uma linha de quem, coberto de razão, não deixa passar em branco o sentido regressivo do anti-americanismo.

Nem assim, peçam-me que subscreva abaixo-assinados.

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