O milagre do porco fedorento
Mas Dirceu quase me fez chorar foi com a nota abaixo, intitulada “Uma notícia que diz tudo”, com um subtítulo: “Operação milagre devolve a visão ao assassino de Che Guevara”. Leiam (segue como está lá, hein). Volto em seguida: La Paz, 30 set. ABN – O suboficial boliviano Mario Terán, que em outubro de 1967 […]
Mas Dirceu quase me fez chorar foi com a nota abaixo, intitulada “Uma notícia que diz tudo”, com um subtítulo: “Operação milagre devolve a visão ao assassino de Che Guevara”. Leiam (segue como está lá, hein). Volto em seguida:
La Paz, 30 set. ABN – O suboficial boliviano Mario Terán, que em outubro de 1967 assassinou o comandante Ernesto “Che” Guevara em uma escola do povoado de La Higuera, recuperou a visão após ter sido operado por médicos cubanos em um hospital da Bolívia doado por Cuba. A notícia foi publicada pelo órgão oficial do Partido Comunista Granma com base numa publicação anterior do diário “El Deber” da cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra.
“A quatro décadas de que Mario Terán tentasse com seu crime destruir um sonho e uma idéia, Che torna a ganhar outro combate. E continua em campanha”, assegurou o Granma, citado pela estatal Agência de Informação Nacional (AIN) da ilha. O texto detalha que um filho de Terán pediu ao El Deber de Santa Cruz que publicasse uma carta de agradecimento aos médicos cubanos que haviam devolvido a visão ao seu idoso pai, após operá-lo de catarata, nos quadros da Operação Milagre, plano oftalmológico que Cuba já exportou a vários países.
A nota do Granma resenha que Terán, ao receber a ordem de matar Che “teve de socorre-se do álcool para encher-se de coragem e poder cumpri-la, como ele mesmo narrou depois à imprensa”. Relata o artigo que Che, ferido e desarmado, sentado no chão de terra da escolinha, “o viu vacilante e temeroso e teve toda a coragem que faltava ao seu algoz para abrir a surrada camisa verde-oliva, descobrir o peito e gritar-lhe: ‘Não trema mais e dispara aqui que v. vai matar um homem”. Terán, cumprindo ordens dos generais René Barrientos e Alfredo Ovando, da Casa Branca e da CIA, disparou sem saber que as feridas mortais abriam buracos junto àquele coração que continuria marcando a luta dos povos’.”
A nota do diário oficial cubano destaca que o suboficial “poderá apreciar as cores do céu e da selva, desfrutar do sorriso de seus netos e presenciar partidas de futebol, contudo jamais será capaz de perceber a diferença entre os ideais que o levaram a assassinar um homem a sangue-frio e as de quem ordenava aos médicos de sua guerrilha que atendessem igualmente seus camaradas e seus inimigos”. AIN sublinha ademais que Terán “não teve de pagar um só centavo pela operação” dos médicos cubanos em um hospital doado pelo governo de Cuba e inaugurado pelo presidente Evo Morales.
“Recordem bem esse nome: Mario Terán, um soldado educado na idéia de matar que volta a ver graças aos médicos seguidores das idéias de sua vítima”, ressaltou o periódico. Depois de deixar Cuba em 1966, Che ingressou clandestinamente na Bolívia com a idéia de criar um foco revolucionário na América Latina.
Voltei
Viram só? É o milagre do “porco fedorento”, do assassino compulsivo, do criador do primeiro campo de concentração da América Latina, daquele capaz de assassinar um homem por causa de um pedaço de pão. O testemunho é de quem conviveu com ele. É fato constatado, não o folclore criado pela mistificação política. Agora já se sabe que esse papo de “você vai matar um homem” é conversa mole. Ele pediu foi clemência; pediu para não ser morto. Ok. É compreensível. Como é compreensível que seu esquerdismo o transformasse num assassino contumaz.
A esquerda é treinada na morte, no assassinato, no terrorismo. A sua face humanista sempre foi nada mais do que discurso ideológico. E o esquerdismo é craque em transformar os seus em mártires. Quando eu era de esquerda (já fui, fazer o quê?), nunca dei um tostão furado por Che Guevara. Sorte! Eu era trotskista. Esse papo de foquismo guerrilheiro cucaracho sempre me cheirou mal. E cheiraria a qualquer trotskista decente — tanto quanto possa haver um. Assim, aquela fotografia de Che, com aquele olhar, huuummm… Sentimentalismo barato.
Sempre preferi a imagem que abre este texto, vejam lá: A Morte de Marat, do pintor francês Jacques-Louis David, um puxa saco da Revolução Francesa e de Napoleão, embora eu considere ambígua sua homenagem ao baixinho invocado. Mas deixa pra lá. Marat, que editava um panfleto chamado O Amigo do Povo, foi morto por uma mocinha, Charlotte Corday. No dia 13 de julho de 1793, ele a recebe na banheira. Ela lhe prometera entregar uma lista de conspiradores da direita. A heroína, ligada aos moderados girondinos, estava mentindo, claro. Era uma “conspiradora” contra os terroristas que haviam tomado o poder na França. Cravou-lhe um punhal na clavícula. Presa, foi guilhotinada no dia 17 do mesmo mês.
Quem vê o vagabundo ali estirado, um belo quadro, não se dá conta de que era um carniceiro. Assim se criam as mentiras e as mistificações. Quem vê aquele olhar cheio de amanhãs de Guevara não intui o “porco fedorento”. E assassino.
Os mistificadores sempre fizeram de tudo para transformar Guevara num Cristo comunista. O Zé já lhe atribuiu o primeiro milagre.