O mensalão e as duas éticas de Weber
Roberto Gurgel, na introdução do relatório, faz uma oportuna correção de uma distorção frequente. Ao lembrar as duas éticas a que se refere Max Weber — a da convicção e a da responsabilidade —, o procurador-geral da República observa que elas não são opostas, antitéticas. Weber sustenta que o homem comum, cada um de nós, […]
Roberto Gurgel, na introdução do relatório, faz uma oportuna correção de uma distorção frequente. Ao lembrar as duas éticas a que se refere Max Weber — a da convicção e a da responsabilidade —, o procurador-geral da República observa que elas não são opostas, antitéticas.
Weber sustenta que o homem comum, cada um de nós, pode atuar segundo a convicção, o conjunto de valores e crenças que foi consolidando ao longo da vida. Já o campo de atuação do homem público é mais amplo: é obrigado a lidar com a ética da responsabilidade — vale dizer, obriga-se a pensar também no resultado de suas ações.
Mas atenção! Isso não implica que essa ética da responsabilidade seja um sinal verde para o vale-tudo. Na verdade, é o contrário: se ele se vê na contingência de fazer concessões episódicas, há de fazê-lo justamente em benefício da aplicação daquela ética da convicção. Ou por outra: não se perdoe o homem público que praticou uma sujeira sob o argumento de que o fez premido por suas responsabilidades e para ver triunfar suas convicções. O crime é uma escolha, não uma imposição das circunstâncias.
A consideração é importante porque desmonta a mística petista de que seus crimes resultaram num bem para os brasileiros.