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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O irmão de Lula e o poliedro

GASTANDO A SOLA — Vavá: três viagens por mês a Brasília pagas por empresários Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão de Lula, é velho conhecido de VEJA. Ele foi personagem de duas edições da revista há um ano e oito meses. É um daqueles casos que muita gente houve por bem considerar menor. Mais: […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h25 - Publicado em 5 jun 2007, 07h44
brasil13GASTANDO A SOLA — Vavá: três viagens por mês a Brasília pagas por empresários
Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão de Lula, é velho conhecido de VEJA. Ele foi personagem de duas edições da revista há um ano e oito meses. É um daqueles casos que muita gente houve por bem considerar menor. Mais: setores do governo pretenderam demonstrar que chamar a atenção para ele corresponderia a escarafunchar a vida privada de Lula. Como se o irmão lobista de um presidente da República fosse um problema de foro íntimo. Vamos ao caso do dia, cuja gravidade tem muitas faces, para voltar a esse ponto.

A Operação Xeque-Mate da Polícia Federal, que investiga a máfia dos caça-níqueis, foi ontem à casa de Vavá, em São Bernardo, com um mandado de busca e apreensão. Segundo a sua mulher, Maria da Silva, “eles não acharam nada, graças a Deus, e foram embora”. Vavá foi indiciado por tráfico de influência no Executivo e exploração de prestígio do Judiciário. A PF chegou a pedir a sua prisão preventiva, que foi negada pela Justiça.

Secretário de caixa de campanha de Lula também é preso

Foram presas 77 pessoas em seis Estados SP, MT, PR, RO, MG e MS (veja lista em outro post). Entre elas, está Dario Morelli filho, secretário de Meio Ambiente de Diadema. O prefeito da cidade, José de Filippi Jr., foi o caixa da campanha de Lula. O deputado cassado vai achar que a lembrança é perseguição da mídia, mas Morelli consta da “Lista de Amigos de José Dirceu”, aqueles que são contra a sua cassação. Segundo a PF, a coisa é feia. Começou-se a investigar contrabando e se chegou à corrupção de policiais — alguns presos, civis e militares —, tráfico de drogas e tortura.
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Informa o Estadão nesta terça: “A Xeque-Mate identificou cinco quadrilhas ligadas a importação e exploração de caça-níqueis. A máfia era comandada por três advogados, que controlavam toda a parte operacional do esquema e o pagamento de propinas. Os equipamentos eletrônicos usados nas máquinas chegavam ao Brasil pelo Porto de Santos, eram discriminados como peças de computador e transportados para Mato Grosso do Sul. Segundo a Polícia Federal, o esquema rendia às ramificações da organização de jogos de azar pelo menos R$ 250 mil por dia. A propina paga a policiais e advogados variava entre R$ 2 mil e R$ 10 mil.”

Ainda segundo o Estadão: “A missão que aponta para o irmão do presidente Lula resulta de dois inquéritos policiais comandados pela Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Fazendários da Superintendência Regional da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul. A PF identificou alvos comuns nos dois inquéritos e grampeou 120 suspeitos. ‘Não sei se o grampo foi (no telefone) dele (Vavá) ou no do Dario’, disse Edson Inácio Marin da Silva, filho mais velho de Vavá. ‘Talvez uma pessoa que tenha relação com caça-níquel.’ Questionado se Morelli Filho já tinha trabalhado como uma espécie de faz-tudo para a primeira-dama, Marisa Letícia, o sobrinho de Lula disse: ‘Essa informação é para fazer pipa.’”

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Informa a Folha: “A polícia investiga um suposto pagamento a Vavá pelo candidato derrotado a deputado federal Nilton Cézar Servo (PSB-MS), que está foragido. Ontem Vavá não falou sobre o caso. Segundo a PF, Servo era sócio de Dario Morelli Filho em uma casa de jogos na Baixada Santista.” Ao Estadão, Edson negou que seu pai tenha um escritório de lobby: “É conversa para boi dormir.” Ele confirmou que Morelli é amigo da família: “Ele é amigo nosso, uma pessoa que a gente conhece há muitos anos. Conheço ele das festas do PT.”

Acordando o boi e de volta ao começo
É compreensível que Edson queira proteger o pai. Só não é possível negar que ele faça lobby. Porque, afinal de contas, o próprio Vavá não negou em conversa com a VEJA. Abaixo, publico as duas reportagens da revista: de 12 e de 19 de outubro de 2005. Na primeira, informava-se: “Desde o início do ano, ele [Vavá] mantém um escritório no 3º andar de um prédio comercial em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Lá –com a ajuda de três funcionários, três linhas telefônicas fixas e quatro computadores –dedica-se a intermediar pedidos de empresários junto a prefeituras petistas, empresas estatais e órgãos do governo federal, como a Caixa Econômica Federal e a Secretaria-Geral da Presidência da República. Vavá confirmou a VEJA que recebe e encaminha pedidos de empresários interessados em ‘trabalhar com o governo’, mas disse que, ‘por enquanto’, não recebeu nenhum pagamento pelo serviço. ‘Até agora ninguém pagou nada ainda. Espero ganhar um dia.’”

No dia 19, escrevia a revista: “VEJA revelou na semana passada que Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão do presidente Lula, havia montado um escritório para ‘ajudar’ empresários com interesses no governo e que conseguira fazer com que pelo menos um deles, o presidente da Federação Brasileira de Hospitais, fosse recebido pelo assessor especial da Presidência, César Alvarez. O Palácio do Planalto respondeu que o presidente Lula não tinha conhecimento (para variar) das atividades do irmão e que Alvarez havia sido surpreendido pelo fato de Vavá comparecer ao Palácio acompanhado por membros de uma entidade que representa os interesses dos hospitais privados do país. Com isso, dava a entender que eles haviam “pego carona” em uma audiência que, na realidade, tinha sido marcada exclusivamente para o irmão do presidente. O Planalto omitiu dois fatos graves. É verdade que a federação tentou “pegar carona” na audiência com Alvarez, mas não é verdade que o encontro havia sido marcado para atender apenas Vavá. O assessor Alvarez estava preparado, naquele dia, para receber um outro empresário, a pedido do irmão do presidente: o português Emídio Mendes, um dos controladores do Riviera Group, conglomerado que atua nos setores imobiliário, turístico e energético, e que, nos últimos tempos, vinha tentando fechar negócios com a Petrobras. O empresário português foi, sim, recebido – e bem recebido – pelo assessor da Presidência. Graças a Vavá. Oito dias depois da audiência, o dono do Riviera Group retornou ao Planalto, no dia 22 de setembro, novamente acompanhado por Vavá. E, dessa vez, encontrou-se com um superior de Alvarez: o chefe-de-gabinete pessoal do presidente Lula, Gilberto Carvalho. Essa segunda informação também foi omitida pelo Palácio do Planalto.

Poliedro
Vocês escolham o ângulo pelo qual se pode mirar a gravidade do episódio. São múltiplos. O marketing oficial tenderá a dizer que a PF sob a gestão Lula é tão republicana, mas tão republicana, que um irmão do presidente quase vai preso sem que ele tenha sido nem mesmo avisado. A verdade, no entanto, é bem outra. Antes que continue, vamos juntar aqui mais um dado para trabalhar com raciocínios complexos. Entre hoje e amanhã, um setor da PF promove a sexta greve do ano, o que deve prejudicar a emissão de passaportes e fiscalização nos aeroportos. Já houve uma greve em meio à Operação Navalha.

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Há tempos tenho chamado a atenção para o fato de que a PF está balcanizada. A operação de agora e todas as outras acabaram mandando para a cadeia gente que deveria estar lá havia muito tempo? Embora a maioria esteja de volta às ruas, não há por que duvidar disso. Mas também é evidente que temos uma Polícia Federal que está operando com a faca entre os dentes. Mais do que isso: ela parece empenhada em mandar recados para o presidente da República. Tarso Genro, ministro da Justiça, é o chefe do departamento.

O indiciamento e pedido de prisão do irmão de um chefe de estado e/ou de governo seriam previamente comunicados ao ministro da Justiça — ou correspondente — em qualquer país democrático do mundo. Pela simples e óbvia razão de que o caso se presta a especulações políticas. Republicano é não interferir se a investigação for séria, mas deixar de avisar é outra coisa. E é certo que, avisado fosse, Tarso teria advertido Lula. Mas nada disso aconteceu. É quase desnecessário dizer o óbvio: uma PF que age assim está fora do controle. Atenção: não me refiro a um controle que a impeça de trabalhar; refiro-me a um controle que a impeça de agir à matroca, como se fosse polícia do processo político.

Vavá, como se vê abaixo, transitiva com uma desenvoltura absolutamente imprópria para um irmão do presidente da Repúblca. Os Inácio da Silva não parecem muito bons nesse negócio de distinguir o público do privado, a exemplo de Fábio Luiz da Silva, o Lulinha, dono da Gamecorp, que fez um negocião com a Telemar, uma concessionária do governo de que o BNDES, na prática, é sócio. Essa mistura que faz a família é outro lado grave do poliedro.

Por onde quer que se olhe, o que se vê é um declínio óbvio da vida pública e do estado. Até quando mostra eficiência e expõe os subterrâneos da vida política brasileira, a PF do governo Lula consegue exibir um aspecto um tantinho assustador. E que fique claro: não estou criticando os seus acertos, mas chamando a atenção para o fio desencapado de uma eventual chantagem. Haver no poder quem possa ser chantageado é outro dos lados preocupantes dessa história.

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