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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O ÍNDIO COCOROCÓ, OS GRAMPOS DO BNDES, A BANDEIRANTE DILMA ROUSSEFF E AS TRIBOS CAMARGO-ODEBRECHT

Prometi falar mais alentadamente sobre o imbróglio de Belo Monte, um belo (ooops!) emblema do jeito petista de fazer as coisas. Então lá vai. Numa entrevista à revista VEJA em 2007, o neolulista Delfim Netto, principal guru da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, definiu assim as resistências ambientais, antropológicas e ecológicas à construção […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 15h33 - Publicado em 13 abr 2010, 05h23

Prometi falar mais alentadamente sobre o imbróglio de Belo Monte, um belo (ooops!) emblema do jeito petista de fazer as coisas. Então lá vai.

Numa entrevista à revista VEJA em 2007, o neolulista Delfim Netto, principal guru da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, definiu assim as resistências ambientais, antropológicas e ecológicas à construção da usina de Belo Monte, no Rio Xingu: “Veja o caso do complexo hidrelétrico Belo Monte, no Rio Xingu. Por mais nobre que seja a questão indígena, é absurdo exigir dos investidores que reduzam pela metade a potência de energia prevista num projeto gigantesco porque doze índios cocorocós moram na região, e um jesuíta quer publicar a gramática cocorocó em alemão.”

Três anos depois, o cineasta James Cameron, avatar tardio do cantor Sting, outro gringo idiota que há décadas encantou-se com a fragilidade e a vitimização dos nativos brasileiros, engatou o rabo (de novo, é preciso ter visto o filme medíocre para não supor que estou a cometer grosserias…) no mesmo discurso ecológico e participou de uma manifestação a favor da gramática cocorocó em alemão…

Qual é a importância de todo esse debate indígeno-ecológico?

Nenhuma! Joguem tudo no lixo. Agora eu vou falar de um outro engate.

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A questão
Surgem finalmente notícias relevantes com relação a Belo Monte, mas elas nada têm a ver com a tribo dos cocorocós, com avatares de Sting e com o meio ambiente. O maior projeto deste governo corre o risco de naufragar porque Dilma fez uma lambança de proporções amazônicas nos mecanismos licitatórios daquela que deveria ser a maior obra de infra-estrutura do país, a mãe de todas as hidrelétricas, maior que a parte brasileira de Itaipu. Deveria ser a prova final de que as concessões do PT beneficiam mais o consumidor do que as do PSDB, aquele partido que induzia demônios privados a competirem entre si…

Pois é… A poucos dias da licitação do projeto, as duas maiores empreiteiras do Brasil, Camargo Corrêa e Odebrecht, caíram fora do projeto por não concordarem com as condições de preço e prazo estipuladas pela turminha de Dilma. Depois da desistência, o governo tenta às pressas convencer algum outro grupo empresarial a competir com o único consórcio que se registrou para a licitação, formado pela Andrade Gutierrez, a Neoenergia (associação entre a Iberdrola, a Previ e o Banco do Brasil) e dois autoprodutores de energia: a Vale e a Votorantim.

O que isso significa? Se grampos fossem instalados hoje no BNDES, como o foram na privatização da telefonia, constataríamos que autoridades estão induzindo grupos a se juntar e os fundos de pensão a abrir os cofres. Mas atenção: DESTA VEZ ,NÃO É PARA GARANTIR A CONCORRÊNCIA, NÃO! MAS PARA SALVAR O ESPÍRITO CÊNICO DO LEILÃO MONTADO NO DIA 20. Ouviríamos ainda a associação vergonhosa entre a agenda eleitoral e a realização de um projeto de infra-estrutura que deveria ser montado com o mínimo de antecedência.

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Ao que tudo indica, só há um consórcio realmente interessado no projeto: o da Vale do Rio Doce, autoprodutora cujo presidente, Roger Agnelli, está doidinho para montar uma fábrica de alumínio nos arredores da usina, absorver parte da energia gerada e figurar como colaborador na agenda de Lula, que tentou derrubá-lo por, segundo disse, exportar matéria-prima em vez de produtos acabados. Há motivos para acreditar que seria o consórcio vencedor, entenderam? Com ou sem a participação dos outros atores, que se descobriram coadjuvantes destinados a garantir a apenas a verossimilhança da competição.

Agora o governo terá de tirar da cartola um consórcio para perder — já apelidado no mercado de “consórcio-mambembe”.

E por quê? A hipótese de haver apenas um grupo realmente interessado quebra as pernas da bandeira eleitoral que a ex-ministra Dilma Rousseff empunhava em Belo Monte, uma história supostamente épica, repleta de lances formidáveis, que traria para baixo, a poucos meses das eleições, o preço-teto previsto no edital, de R$ 83,00 por megawatt-hora.

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Mas Belo Monte será leiloada? Provavelmente, sim, mas a um custo (visível e invisível) monumental. O preço? Este,  só descobriremos bem mais tarde… Não é a primeira incursão desastrada de Dilma no maravilhoso mundo das privatizações petistas. Não é a primeira vez que o seu “barato” para efeitos de publicidade acabará custando caro aos cofres públicos.

Desastre reiterado
Em 2007, Dilma leiloou mais de 2.600 quilômetros de rodovias federais, colocando-se como aquela que “privatiza melhor”, que consegue os “melhores pedágios”. “Pela primeira vez na história, os pedágios ficaram mais baratos”, chegou a comemorar Lula. A novidade petista estava em cobrar menos tarifa em vez de receber pela cessão, que seria “um modelo tucano fracassado”, segundo os petistas, que julgavam ter descoberto a roda. Mas o que aconteceu depois?

Em outubro de 2009, o grupo espanhol OHL, vencedor de cinco dos sete leilões rodoviários de Dilma, enviou à ANTT pedido de “reequilíbrio econômico-financeiro com a intenção de reajustar o preço das tarifas de pedágio ou prorrogar os cronogramas de investimentos” previstos nos contratos assinados no leilão realizado em 2007. Menos de dois anos depois, a OHL entrou com um pedido de financiamento no BNDES, tendo suas subsidiárias conseguido empréstimo de R$ 756.382.000,00. Em suma, o barato saiu caro. E parece que vai sair mais caro ainda em Belo Monte.

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Entenderam como se dá a revolução petista?

PS – Ah, sim: o trabalho de satanização das empresas que desistiram do leilão já está a todo vapor. O governo planta, e certo jornalismo colhe, que tudo não passou de um lobby das perversas tribos Odebrecht e Camargo Correa para elevar o preço. Na  outra versão, esta da própria Dilma, elas já estariam com obras demais e, por isso, não se interessariam por Belo Monte. Claro! Que empreiteira iria querer tocar a terceira maior hidrelétrica do mundo, não é mesmo? Pelo visto, só a tribo Vale-Andrade Gutierrez…

“Mas não sem dialogar com os cocorocós”, gritam James Cameron e Marina Silva!

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