O imbróglio Roriz-Constantino: “Se baixar a Polícia Federal aqui, leva todo mundo”
O empresário Nenê Constantino, presidente do Conselho de Administração da Gol e dono original daquele cheque de R$ 2,23 milhões sacado pelo Joaquim Roriz (PMDB-DF), vem mantendo um silêncio sepulcral sobre o episódio. Mas os fatos falam por ele e por si. Reportagem de Andréa Michael, Ranier Bragon e Felipe Seligman, na Folha deste sábado, […]
1 – Em março do ano passado, fundos de pensão e estatais do Distrito Federal venderam um terreno de 80 mil metros quadrados para a Aphaville Marketing. Entre as empresas que eram donas do imóvel estava justamente o BRB, o Banco de Brasília.
2 – O dono da Alphaville Marketing é O deputado Wigberto Tartuce, do grupo de Roriz. Foi seu secretário no governo do DF. Tartuce pagou pelo terreno R$ 15,2 milhões.
3 – Projeto aprovado em tramitação fulminante na Câmara Distrital permitiu que se ampliasse a área do terreno destinada à construção: era de 56 mil metros quadrados e passou a ser de 128 mil metros quadrados;
4 – Com a aprovação da lei, Wigberto vendeu o terreno, 10 meses depois, por R$ 45,88 milhões. Isto mesmo: em 10 meses, Tartuce, o gênio dos negócios, conseguiu uma valorização no seu terreno de R$ 30,68 milhões.
5 – Para quem ele vendeu o terreno?
– Para uma empresa chamada Aldebaram.
Entre os donos da Aldebaram está a empresa Antares. E quem é sócio da Antares?
– Nenê Constantino, o dono daquele cheque.
6 – Tudo parou por aí? Não. O tal terreno, aquele que pertencia a fundos de pensão e estatais — entre os quais o Banco de Brasília — está avaliado hoje em R$ 128 milhões.
7 – Vocês entenderam direito: em um 15 meses, um terreno que pertencia a empresas públicas, vendido por R$ 15,2 milhões, está avaliado em R$ 128 milhões.
8 – Informa a Folha que quem encaminhou o papelório para transferir oficialmente a posse do terreno de Tartuce para a Aldebaram foi Deodemiro Alves Silva. Fez isso no último dia 22, véspera do dia em que a VEJA e a Época tornaram público aquele diálogo entre Roriz e o ex-presidente do BRB, combinando como distribuir a dinheirama.
9 – Em um diálogo gravado em 9 de março, Deodomiro fala com Nilson Lacerda Wanderlei, um dos investigados da Operação Aquarela. Diz literalmente: “Só tem peso pesado aqui. Se a Polícia Federal baixar aqui agora, leva todo mundo. To eu, o Gim Argelo (ex-deputado distrital e suplente de Roriz) e o Nenê Constantino.
10 – A VEJA que chega hoje às bancas e aos assinantes (leia abaixo) revela o destino do dinheiro referente àquele cheque que estava em nome de Constantino: pagar suborno a juízes eleitorais que livraram Roriz da cassação. Compreende-se, agora, com mais clareza o silêncio do empresário.